Pensada para funcionar como uma universidade genuinamente amazônica a Universidade da Floresta não conseguiu se consolidar e ir além de meros devaneios intelectuais. Com a inauguração do campus da Universidade Federal do Acre, Ufac, de Cruzeiro do Sul, o projeto da Universidade da Floresta foi definitivamente sepultado antes que seus frutos surgissem.

Uma mistura perigosa que envolveu projetos políticos pessoais, egos elevados e uma academia paulistana um tanto urbana e deslumbrada demais, levou o que poderia ser uma grande experiência universitária ao fracasso.

A idéia da regionalização e a conseqüente especialização das universidades não é nova. Várias outras tentativas também fracassaram nos últimos 30 anos. Ocorre que uma especialização voltada à diversidade biológica da Amazônia, como pretendia a Universidade da Floresta é muito difícil de acontecer em nível de graduação.

Esse tipo de identidade institucional de uma universidade, com algum tema da realidade local ou regional é, na maioria das vezes, decorrentes da organização de cursos de pós-graduação em nível de mestrado e doutorado.

As resistências à especialização das universidades em nível de graduação são enormes. O pessoal envolvido com o estudo da educação sabem que alguns cursos, como os de letras e pedagogia por exemplo, cuja demanda no interior do estado é elevada, possuem grades curriculares praticamente comuns em qualquer região do país onde ocorra. Não são cursos sujeitos à adequações regionais. O mesmo vale para as licenciaturas em português, matemática, física e química. Além, é claro, dos novíssimos e mundialmente iguais, cursos de informática ou sistemas de informações.

Como esses cursos possuem demanda social, ou seja, são reivindicados pelas comunidades, sobretudo no interior, terminam por ocupar 80% do tempo, esforço pessoal e recursos financeiros das universidades.

Já os cursos que podem ser estruturados para se adequarem à realidade local, como os de biologia e engenharia florestal, para o caso da Amazônia, não vão conseguir oferecer vagas suficientes para atendimento de toda demanda existente, e, de outra banda, não vão atrair a atenção da grande maioria da demanda que somente precisa, por várias razões, de um curso de nível superior.

A equação se complica quando entra em cena um contrato com os governos locais para fornecer nível superior aos professores das redes de ensino municipais e estaduais. Evidente que as universidades, como a Ufac, não poderiam deixar de atender essa demanda, da mesma forma que é evidente que essa demanda não poderia ser atendida com os cursos que podem se adequar à especialização regional.

A conclusão pareceu simples. Optou-se por uma solução pontual, para um problema concreto que podia ser resolvido no curto prazo, como formar professores para o ensino primário e fundamental.

Uma opção que comprometeu uma outra solução, essa de conteúdo estratégico, de longo prazo, para uma Universidade da Floresta que poderia colocar a Ufac em um nível diferenciado junto às universidades federais.

Mas o tempo e a história, como sempre implacáveis, não perdoarão esse equívoco. Uma revisão de rumos agora é mais que necessária.

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