Um início de 2007 alvissareiro para as questões ambientais. Dois documentos históricos e importantíssimos para a sustentabilidade ambiental global tiveram amplo destaque na imprensa. No entanto, contextualizar a Amazônia e o Acre nessa discussão parece que não interessa a ninguém. Ou porque as pessoas não se dão conta da relação direta da região com essa sustentabilidade planetária, ou porque as autoridades preferem não mexer em antigos vespeiros.

O primeiro documento foi contratado e elaborado sob a tutela do governo inglês. Seguindo seu tradicional pragmatismo, os britânicos não queriam entrar nas discussões sobre a existência ou não do aquecimento global, o denominado efeito estufa. A pergunta feita pelos ingleses aos cientistas contratados, em sua maioria economistas, foi a seguinte: Se a terra esquentar, qual será nosso prejuízo financeiro? Ou seja, esquentando, de quantos dólares estamos falando?

A resposta foi sinistra para os países do capitalismo. Haverá uma quebradeira generalizada e de proporções bem superiores à queda da bolsa de valores americana ocorrida na década de 1920. Os prejuízos, antes ditos somente incalculáveis, são, agora, perfeitamente calculáveis e representam mais que 20% de toda riqueza produzida no mundo.

Isso quer dizer que em 2020 o mundo irá falir. A causa será o aquecimento do planeta, que, por sua vez, provocará ondas de calor insuportáveis, elevará o nível dos mares e oceanos, que produzirão as tsunamis e que, mais uma vez, invadirão e destruirão grandes empreendimentos hoteleiros situados ao longo das praias, na faixa litorânea do planeta. A derrocada começará pelo turismo e contaminará, sem exceção, todos os setores da economia, incluindo aí o agropecuário e o florestal.

O segundo documento trouxe um alerta ainda mais emergencial. Sob a chancela da Organização das Nações Unidas (ONU), mais de dois mil cientistas oriundos de todos os países-membros, reunidos no Painel Intergovernamental sobre Alterações Climáticas (IPCC, na sigla em inglês), afirmaram não haver mais dúvidas sobre dois temas cruciais: a Terra esta mesmo aquecendo e a culpa é da ação humana. É nossa.

Esse relatório põe fim à interminável controvérsia criada pelos americanos, únicos no mundo a afirmarem o contrário, e que continuam achando o relatório absurdo.

E, enquanto tudo isso acontece, os amazônidas continuam sua tradicional queimada. Eles se esquecem que sob os argumentos de uma suposta fome, de uma suposta necessidade de queimar para produzir e para comer, de um suposto caos social que o fim da queimada traria, esconde-se, na verdade, uma profunda incompetência e ausência de vontade política para tratar do tema.

Em todos os nove estados amazônicos, em todos os parlamentos estaduais, em todos os judiciários e ministérios públicos, há somente uma constatação: podemos e devemos continuar queimando, pois isso é problema nosso. Todavia, isso não é verdade. O problema está longe de ser somente nosso!

O mundo espera que o Acre não queime em 2010 e irá, seguramente, compensá-lo por isso. Mas, cadê a vontade?

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