Em época de eleições seria bom para a Amazônia que os postulantes, em especial aos cargos do poder executivo, se dispusessem a discutir o que pensam sobre a Amazônia e seu futuro. Não aquela mesmice de pensamento sobre educação, saúde, segurança, transporte e assim por diante, que não diferencia candidato, mas, o pensamento que traduz uma forma de olhar para a região.

Governos estaduais e federal deveriam se engajar em algum projeto de desenvolvimento, que demonstrasse com clareza ao eleitor, qual sua visão sobre a região. Isto é, que tipo de orientação seu governo assumiria para ordenar a ocupação social e produtiva da maior floresta tropical do mundo.

Houve um tempo, em que a maioria dos que assumiam o executivo, regional e nacional, tinham uma visão calara da Amazônia como fronteira de expansão para a agropecuária. Aquele grande celeiro que iria produzir alimentos suficientes para alimentar o mundo.

Mas, sem dúvida que uma mudança no modo de se olhar a região vem ocorrendo paulatinamente nos últimos vinte anos. Parece haver uma tendência de que o postulado por um novo modelo de ocupação sócio-econômico da região, que considere seus imperativos ambientais transforme-se numa demanda política.

Os resultados eleitorais de partidos com discurso voltado para o Desenvolvimento Sustentável, como ocorreu e continua ocorrendo em alguns Estados, como no Acre, desde o final da década de 1990 e mais recentemente no Amazonas e no Pará, refletem essa mudança de postura do eleitorado.

Acontece que o intenso processo de urbanização ocorrido na região fez com que a população rural se tornasse minoria. E o eleitor urbano, por sua vez, não aceita mais conviver com desmatamentos e queimadas, em escalas que comprometem sua qualidade de vida na cidade. Assim, considera que o campo terá que se adequar às novas demandas por uma produção tecnificada, que não requeira a ampliação dos desmatamentos e a prática de queimadas.

A corriqueira argumentação acerca da ausência de tecnologias adequadas à realidade do produtor já não funciona. A Embrapa desenvolveu pacotes tecnológicos que permitem manter o nível de produção sem ter que se lançar mão da queimada, tanto para o pequeno quanto para o médio e grande produtor.

Um novo jeito de olhar a Amazônia não admite também a redução da área de Reserva Legal, como defendida por um deputado federal alheio ao seu tempo. A reação à medida foi surpreendentemente esmagadora contra a proposta.

O proponente, demonstrando total desconhecimento da concepção de Reserva Legal, considerava-a área improdutiva, quando, na verdade, o Código Florestal de 1965 criou esta figura para forçar o uso florestal de uma porção da propriedade. O que se espera é que o produtor faça o manejo florestal na Reserva Legal até que a floresta possa significar maior ganho que a porção desmatada. A Reserva Legal não foi concebida como área imobilizada para a produção, como as Áreas de Preservação Permanente.

Essa mudança de atitude sugere o direcionamento das atividades produtivas no sentido da sustentabilidade. Resta saber que tipo e grau de sustentabilidade será possível se obter nos níveis tecnológicos atuais.

Assumir que concorda com esse novo olhar para a Amazônia ou se ainda se amarra, na antiga e ultrapassada visão de fronteira agropecuária ou de celeiro do mundo, forneceria ao eleitor melhor condição de avaliar o candidato que as rotineiras demonstrações de preocupação com saúde, educação, segurança …

Para se diferenciar como candidato é preciso assumir preocupação com o futuro.

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