Tida como a maior tragédia ambiental da Região Sul do país, o que vem ocorrendo em Santa Catarina chama atenção pela dimensão (com números impressionantes de mortos e desabrigados) e pela incapacidade das autoridades em dar uma resposta coerente sobre as causas da tragédia.

A quantidade de pessoas atingidas transformou a tragédia ambiental de Santa Catarina em motivo de comoção social nacional. Com sua costumeira generosidade e caridade, o povo brasileiros se envolveu em uma grande mobilização para ajudar os catarinenses. Numa demonstração de extrema solidariedade pessoas das mais humildes e dos mais distantes lugares, se empenharam em ajudar a minimizar o sofrimento dos atingidos.

Se de um lado o povo dava uma resposta à altura do desafio e se reunia em mutirões de ajuda por todos os lados, por outro lado, as autoridades, sobretudo as catarinenses, se revezavam em apresentar razões e informações técnicas, com vários números e testemunhos, tentando, de toda sorte, provar o inusitado: que a culpa era das chuvas.

Evidente que choveu muito, e de maneira incomum, em um curto espaço de tempo. Evidente que esse tipo de evento climático, novamente incomum, pode trazer conseqüências graves, relacionadas a deslizamentos e alagações. Como é evidente também, que eventos climáticos desse tipo não ocorrem pela vontade dos céus.

A correlação entre as chuvas torrenciais, as mudanças climáticas e o, maior problema ambiental da atualidade, aquecimento global é mais que evidente, é óbvia. Não há argumentos técnicos que possam descaracterizar a estreita dependência da pluviosidade (ocorrência de chuvas) com o equilíbrio climático.

Além disso, com relação às conseqüências do desequilíbrio climático (que fez com que chovesse muito em tão pouco tempo em um determinado lugar), os desbarrancamentos de encostas, assoreamento dos rios, alagações, deslizamento de terras e assim por diante, podem ter várias razões de ordem geológica, mas tem somente uma razão para gravidade do ocorrido: desmatamentos.

O raciocínio é simples. Uma vez mantida a cobertura florestal original, as áreas afetadas pela tragédia teriam condições muito superiores, para suportar o impacto do desequilíbrio climático, que trouxe as chuvas torrenciais.

Ou seja, problemas ambientais em Santa Catarina foram responsáveis pelo desequilíbrio e pela conseqüente quantidade chuvas que assolaram a região. Da mesma forma que os desmatamentos das encostas em Santa Catarina foram responsáveis pelos desabamentos de residências e caos generalizado na região.

Enquanto isso, logo ao lado, o Rio Grande do Sul tem sua produção agropecuária castigada por uma estiagem prolongada. Chove muito aqui e não chove nada ali.

Por fim, a indagação maior é: quais as razões para que as autoridades se esforçassem tanto em negar as causas ambientais da tragédia. O que levaria uma classe política, que está momentaneamente no poder, a preferir culpar a casualidade e São Pedro?

Talvez pelo medo da culpa, ou pela comodidade de não precisar tomar atitudes contra os céus, ou ainda pelo simples fato de que, para a política catarinense, é melhor a comoção à ação.

Todos à espera de novas tragédias.

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