Na lista dos 100 maiores responsáveis pelo desmatamento na Amazônia, o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) ocupa lugar destacado. Até aí nada de novo, todos os envolvidos com o tema do desmatamento na região sabem que os projetos de colonização, sob responsabilidade do Incra, são os campeões.

No entanto, a divulgação da lista causou uma crise política entre as pastas de Desenvolvimento Agrário e do Meio Ambiente. Com puxões de orelha de todos os lados, autoridades do porte de ministros se apressaram em contestar o óbvio.

Na área ambiental, as justificativas se voltaram para os procedimentos adotados, no Ibama, para confecção da lista. Assumiu-se que o trabalho fora iniciado ainda em janeiro desse ano, ou seja, antes da mudança no comando da área ambiental, e que o trabalho da equipe técnica se desenrolou meio às pressas, e que, por isso, havia necessidade de revisão.

De uma cajadada, dois coelhos saíram mortos: a credibilidade da área ambiental e da gestão anterior do Ministério do Meio Ambiente. Para completar o caso, os responsáveis pelo comando da área ambiental à época, obviamente, negaram a existência de uma equipe de elaboração da lista, afirmando o inusitado: que teriam total controle sobre tudo que ocorria no Ministério do Meio Ambiente (MMA), logo ali, naquela permanente bagunça.

De outra banda, o pessoal ligado ao desenvolvimento agrário, tanto do Ministério quanto do Incra, se esforçou em negar os dados e, o que é bem pior, negar a contribuição dos projetos de colonização do Incra na manutenção das, igualmente permanentes, taxas de desmatamento e queimada. Ou seja, negaram o óbvio.

Faltou atitude para, em vez de confrontar os dados, assumir que, independente de listas (às vezes elaboradas às cegas), os projetos de colonização para Reforma Agrária, sob responsabilidade do Incra ou já emancipados para as prefeituras e estados, são os maiores responsáveis pelos desmatamentos da Amazônia.

Para reconhecer que o Incra merece aplausos, pois conseguiu cumprir com sua missão: ocupar e manter a ocupação produtiva na Amazônia, uma região imensa e com dificuldades logísticas, aí sim, é de se assustar.

Com determinação e abnegação, os funcionários do Incra demonstraram conhecer a região como nenhum outro. A tarefa de transferir contingentes populacionais enormes, do Centro-Sul do país para a Amazônia e criar condições para que eles produzam, é hercúlea, exigindo esforços incalculáveis. E o Incra conseguiu, sendo um dos maiores órgãos de colonização da América Latina.

Óbvio também que jamais o Incra poderia perder seu tempo precioso com melindres ambientais, que sequer existiam na época do grande esforço colonizador. Mais ainda, colonização não combina com proteção ambiental. É algo de natureza destruidora. O colono assentado possui a obrigação contratual de trabalhar para pagar o que a sociedade gastou, por meio do Incra, para assentá-lo ali.

Para pagar ao povo, o colono deve produzir o que o povo espera que ele produza: produtos agropecuários. Para isso, ele haverá de desmatar, sempre e repetidas vezes. O nó está na estratégia de ocupação da Amazônia, que prevê a destruição da floresta para ampliar o Valor da Terra Nua, os VTN’s, que poluem a história econômica da região. Ao Incra, não cabe atuar com preocupação ambiental. Se existirem ambientalistas no órgão devem ser demitidos.

Agora, se as florestas na Amazônia, com o aquecimento global, são mais importantes que a colonização, é chegada a hora de descolonizar o colonizado.

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