Trazer para a realidade cotidiana das pessoas, famílias, empresas e governos os preceitos inseridos no conceito de Desenvolvimento Sustentável exige grande esforço de elaboração e de compreensão.

Enquanto que, por um lado, é preciso atentar para as implicações sociais, econômicas e ecológicas (somente para ficar nessas três) do processo de desenvolvimento, de outro lado, é necessário grande domínio do tema para reconhecer nos produtos, bens e serviços o atributo da sustentabilidade.

Afora o exercício comum, e que não acaba nunca, da retórica da sustentabilidade – no qual muitos estacionam, com tranqüilidade e comodismo, achando que basta atribuir o rótulo de verde, ecológico ou sustentável, que as diretrizes de sustentabilidade estariam satisfeitas -, poucos itens consumidos diariamente podem, de concreto, ser denominados de sustentáveis, ou obter um selo de sustentabilidade.

Não seria sensato achar que todo o mundo use dessa retórica da sustentabilidade por má-fé, ou para obter algum tipo de benefício. Há casos em que as pessoas simplesmente não conseguem se informar, de maneira precisa, sobre os elementos que devem estar relacionados ao processo produtivo ou à origem da matéria-prima, para tornar algum produto bom ou ruim para a sustentabilidade.

Diga-se que é difícil esmiuçar-se o rol de itens diariamente consumidos pelas pessoas, estabelecendo, para cada um, os princípios de sustentabilidade que deveriam estar associados à sua produção, em todos os elos do que os planejadores gostam de chamar de cadeia produtiva.

Ao se adquirir uma singela tábua de carne, por exemplo, pode-se estar ajudando a humanidade a se aproximar da sustentabilidade, ou a ir para longe dela.

Uma análise ligeira desse produto, portanto, considerando-se apenas dois elementos importantes para a sustentabilidade – o tipo e a origem da matéria-prima -, pode ajudar no momento de se tomar uma decisão de consumo bastante elementar.

Existe, no mercado, tábuas de carne produzidas mediante o emprego de três tipos de matéria-prima: vidro; plástico/PVC (ou outro derivado do petróleo); e madeira. Um primeiro ponto importante para a sustentabilidade é o fato de que tanto o vidro quanto os derivados do petróleo são oriundos de jazidas – veios existentes na natureza, que (embora muitos não acreditem) um dia se esgotam.

Trata-se de matérias-primas não renováveis, ou seja, que uma vez retiradas, não podem ser restituídas ao ecossistema. Ademais, esses produtos, ao serem descartados como lixo, não são assimilados pelo meio. Se esse lixo vai ou não ser reutilizado (ou reciclado, como os apressados vão defender), dependerá de uma série de políticas públicas, que, infelizmente, não existem. Mas, isso é tema para outro artigo.

No caso dos derivados de petróleo, há ainda um agravante muito perigoso. Esses produtos são intensivos no elemento químico carbono, considerado um dos principais gases causadores do efeito estufa – fenômeno responsável pelas mudanças do clima, que, por sua vez, põem em risco a sobrevivência do planeta. Vale dizer, matéria-prima à base de petróleo deve ter seu emprego reduzido, e com urgência.

Quanto à madeira, diferentemente do vidro e dos plásticos, é uma matéria-prima renovável – ou seja, ela volta para o ecossistema (mediante o plantio de árvores, por exemplo), e pode ser produzida sob a técnica do manejo florestal.

Além do mais, como toda dona de casa e todo bom apreciador de churrasco sabem, cortar uma carne sobre uma tábua de madeira é bem mais prazeroso. A madeira possui qualidades de uso que a torna preferida.

Comprar uma tábua de carne de madeira é ajudar a construir a sustentabilidade no dia a dia, mas, infelizmente, poucos sabem disso.

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