Nos últimos 20 anos o mundo observou um crescimento rápido e em larga escala da preocupação com questões relacionadas ao meio ambiente. É possível que nenhum outro tema, até mesmo os graves problemas sociais como o da fome, por exemplo, tenha obtido tamanha inserção na população como os, igualmente graves, problemas ambientais.

As razões para isso são várias e já devidamente estudadas. No geral, essas razões podem ser agrupadas no sentimento de insegurança com relação ao futuro do planeta. Parece que, ao contrário do problema da fome, que pode ser resolvido pela via política, as recorrentes e cada vez mais visíveis, tragédias ambientais colocam em risco a própria existência humana.

Há uma percepção de que esse risco não será reduzido com ação pública, sobretudo dos órgãos oficiais dos países, mas que depende de uma atenção especial da sociedade que deverá, por sua vez, forçar tanto a definição de mecanismos legais rigorosos quanto auxiliar para que as leis sejam concretizadas e, assim, garanta-se a sustentabilidade.

Com esse envolvimento ativo da sociedade os temas ambientais contaminaram de maneira positiva a agenda política. Indo bem além dos panfletos das campanhas eleitorais as questões ambientais ganharam adeptos em todos os níveis da estrutura social e, o melhor, diferenciou candidatos que deveriam ou não se eleger. Uma nova classe política surgiria com selo verde. Políticos carimbados pelas questões ambientais, cujas preocupações não se limitariam à discussão de um progresso a qualquer custo.

Uma institucionalidade, internacional, nacional, estadual e municipal, foi construída de maneira vigorosa. A partir de 1990 todas, sem exceção, esferas de governo tiveram que criar organizações voltadas à execução de políticas públicas na área ambiental. Secretarias de meio ambiente, órgãos de licenciamento e controle ambiental e assim por diante, trouxeram para realidade da população o que os ideais de sustentabilidade preconizavam.

Somente para citar um exemplo, em Brasília o Ministério do Meio Ambiente, MMA, ganharia, logo de início, status de prioridade. Em 1992 durante a reunião da ONU para o desenvolvimento, ocorrida no Rio, o MMA foi o ilustre anfitrião para mais de 180 países. Um acordo único e incomparável, do ponto de vista da cooperação internacional, chamado de Programa Piloto para Proteção das Florestas Tropicais, uniria o MMA aos sete países mais ricos do planeta. Apoio político maior em nível internacional era impossível de se obter.

Uns dez anos e quatro ministros mais tarde chegava-se em 2003 com o máximo de expressão política do MMA. Além do crescimento constante em importância da área ambiental, o cargo de dirigente maior, no caso a Ministra, viria a ser ocupado por alguém de honra política reconhecida. Como símbolo de ética pública, o novo MMA, associaria às exigências ambientais um misto de honestidade e santidade incomuns na política.

Não haveria como negar qualquer tipo de apoio político a um ministério ético, santo e, acima de tudo, com preocupação sincera sobre o futuro da humanidade. Um MMA que se pronunciava sobre a beleza da vida com muita religiosidade.

Uma prova simples desse exacerbado apoio político dado ao MMA foi a aprovação, com acordo de todos os ministérios e do Presidente, com certa facilidade, pelo parlamento, de alterações institucionais profundas na área ambiental nacional.

O Ibama foi esfacelado repentinamente sem qualquer cerimônia. Criaram-se dois novos e grandes órgãos, algo sempre difícil no cenário institucional nacional. E mais, foi possível consolidar o polêmico mecanismo da concessão florestal, que coloca sob gestão privada, áreas públicas cobertas por florestas, para sua exploração por 40 anos.

Medidas com elevado nível de complexidade que para acontecerem dependeram de muito, mas muito, apoio político. Todavia eram medidas que tinham como maior e mais importante objetivo oferecer alternativas ao desmatamento na Amazônia.

Desmatamentos, cujas taxas permanentes, são mesmo de fazer jogar a toalha.

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