A sustentabilidade não acontece por acaso em uma dada região. Pressupor que a condução de modelos econômicos baseados em quaisquer alternativas produtivas, que gerem emprego e renda é suficiente para conquista da sustentabilidade é um grave e repetido engano. Os governantes costumam assumir a máxima de que: basta fazer o bolo crescer, ou seja, aquecer a economia, que um progresso harmônico surgirá de maneira inevitável.

Um erro perigoso do ponto de vista social e ecológico. Algumas atividades econômicas trazem a concentração de renda, aumentam a exclusão e deixam os mais pobres cada vez mais pobres e os mais ricos cada vez mais ricos. Da mesma maneira que algumas atividades econômicas trazem degradação ambiental, destruição dos recursos naturais e deixam os países pobres cada vez mais pobres e os países ricos cada vez mais ricos.

No caso da Amazônia é fácil perceber a distância existente entre a atividade produtiva baseada na agropecuária, insustentável por natureza, e a atividade produtiva baseada na floresta, sustentável por natureza. A opção de política pública pelo apoio a uma e outra definirá os níveis de sustentabilidade que a sociedade esta disposta a tolerar. E, infelizmente, a julgar pelas estatísticas oficiais a opção pela agropecuária é evidente.

Ocorre que ao mesmo tempo que a sociedade convive com extremos climáticos, de secas e alagações constantes, ocasionados pela pecuária, não consegue conviver com a atividade florestal que ainda encontra várias barreiras intransponíveis.

A produção acreana de castanha-do-brasil e de madeira são dois bons exemplos. Com relação à castanha, após as constantes dificuldades operacionais dos empreendimentos coletivos, que exigiam todo ano um capital de giro que não girava nunca, duas usinas foram construídas com recursdos públicos. A de Xapurí ainda não funcionou direito e a de Brasiléia esta sendo administrada pelos bolivianos. Mesmo que as duas usinas conseguissem funcionar seria uma inciativa, importante diga-se, mas limitada para consolidar uma economia florestal no Alto Acre.

Já com relação à madeira que, atualmente, é o produto florestal de maior liquidez e aquele com maior condição de ampliar a competitividade da floresta frente a agropecuária, após investimentos, também públicos, elevados, como os realizados na fábrica de pisos para exportação, ainda encontra um sem número de entraves, sobretudo para licenciamento.

Se a produção manejada de madeira em nível empresarial possui obstáculos burocráticos, que dirá aquela oriunda do manejo florestal comunitário. Em que pese a existência de experiências exitosas, como a da Embrapa no PAD Peixoto e a do CTA no PAE Porto Dias, ambas premiadas em nível nacional e internacional, nenhuma, nenhuma mesmo, comunidade possui condições efetivas de conseguir licenciar seu manejo comunitário.

Por sinal, os comunitários não conseguem licenciar nenhuma atividade florestal, sendo para produzir madeira ou qualquer outro produto. Para se ter uma idéia, dois produtos florestais com potencial de mercado e de manejo, como as sementes florestais e a fauna silvestre, são inacessíveis ao pequeno produtor. Nenhuma, novamente nenhuma, comunidade conseguirá as licenças para ofertar esses produtos.

As sementes florestais vivem sob o constante fantasma da biopirataria. Já a fauna silvestre, a depender dos órgãos ambientais nunca serão produzidas na Amazônia. Para os licenciadotres a produção de carne de paca, queixada e capivara não pode ser permitida para não esquentar o mercado negro. Um equívoco que exige muita paciência.

Enfim, a metáfora que facilita a compreensão é que:

“Enquanto a insustentável atividade agropecuária avança em um carro de fórmula 1 com um único Engenheiro Agrônomo ao volante, a sustentável atividade florestal, caminha em um fusquinha 64 com 8 advogados dentro e ninguém ao volante”.

Download .DOC

xxxx