Nos últimos 10 anos, em especial depois da popularização do marfim vegetal (como os fabricantes de joias, bijuterias e peças de decoração chamam a semente de jarina), o mercado de sementes de espécies amazônicas vem observando crescimento surpreendente.

Surpreende, igualmente, a desatenção e indiferença com que os gestores estatais, em todas as três esferas de governo e em todos os nove estados amazônicos, tratam a exploração e o aproveitamento desse valioso produto florestal.

Valioso, sem dúvida; mas não é só sob o aspecto econômico que a importância da produção de sementes se manifesta: além de possibilitar uma atrativa taxa interna de retorno, esse tipo de empreendimento possui um grande diferencial, que o torna preferencial como opção de investimento a ser impulsionada pelo poder público na Amazônia.

Ocorre que a produção de sementes depende da existência da floresta, ou seja, trata-se de uma atividade produtiva que fornece uma barreira natural (perdoe-se o trocadilho) à expansão do desmatamento na Amazônia – e barrar o desmatamento, claro, é uma prioridade para todos os países do mundo.

Lamentavelmente, contudo, o descaso dos prefeitos e governadores é tamanho que sequer se chega a diferenciar, para efeito do licenciamento ambiental, os dois grandes segmentos que integram o mercado de sementes florestais: sementes vivas e sementes mortas.

Enquanto para o primeiro segmento só interessam as sementes com poder germinativo, o segundo se volta para o fornecimento de sementes que já estão mortas, ou que morrerão no beneficiamento do produto a ser comercializado.

Diga-se que o segmento das sementes vivas atende a basicamente duas demandas: uso biotecnológico e produção de mudas, sendo que a segunda demanda representa atualmente mais de 80% da oferta. As mudas são usadas para reposição florestal, restauração em mata ciliar e reflorestamento com fins econômicos.

As sementes mortas, por seu turno, destinam-se à produção de bijuterias e ornamentos. A demanda pelas denominadas biojoias, adornos confeccionados com o emprego de matérias-primas naturais, suplanta o tradicional ecomercado (concentrado nas classes A e B), alcançando nichos mais populares, o que justifica uma oferta elevada.

Parece evidente que a regulação da produção de sementes deveria diferenciar as sementes mortas das vivas, contudo, bom senso não costuma prevalecer quando o assunto é a exploração econômica da biodiversidade florestal da Amazônia.

As normas que orientam a oferta de sementes florestais simplesmente desconsideram a existência do poderoso mercado que movimenta o segmento das sementes mortas.

Os regulamentos elaborados pelos órgãos estaduais de meio ambiente para o manejo das sementes no interior da floresta dizem respeito unicamente à produção de sementes vivas, sendo absolutamente inadequados à exploração de sementes mortas.

Há que se discutir ainda o que talvez seja o mais grave empecilho, que corrompe a imaginação de quase todo mundo quando se fala em sementes amazônicas: a biopirataria. Embora não haja qualquer evidência histórica quanto a esse tipo de ocorrência, o medo da biopirataria inviabiliza o mercado de sementes florestais na Amazônia.

É um paradoxo: o receio em relação à cobiça e ao saque iminente da biodiversidade impede a geração de riqueza mediante a exploração dessa biodiversidade – que é a única saída econômica para a manutenção do ecossistema florestal.

Enquanto isso, a floresta segue se convertendo em pastos, com o suporte da imprensa e dos políticos, que não se informam e não entendem nada.

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