Cresce o senso comum de que a destruição trazida pelo plantio de soja ou cana-de-açucar e a criação de gado na Amazônia pode ser, ou melhor, é compensada com a criação de Unidades de Conservação. Aqueles que acreditam nessa tese, além de enganados contribuem para redução das atuais áreas cobertas por florestas.

Na verdade, eles, os que defendem a tese da compensação, tem por certo que não há alternativas produtivas que não aquela vinculada a agropecuária, que os desmatamentos e queimadas são ruins, mas necessários e inevitáveis para o processo de produção e que a sociedade em geral esta conformada e concorda em pagar o ônus para manter a produção agropecuária.

Acontece que tanto a ausência de alternativa produtiva, capaz de gerar emprego e renda na região sem requerer desmatamentos, quanto a aceitação social do ônus oriundo dos desmatamentos e das queimadas contam com cada vez menos adeptos.

Esses dois pontos merecem ser discutidos com mais detalhe. Poucos se dão conta, mas, no entanto, há uma diferença grave de percepção social quando se avalia a reação da sociedade que vive em nível local, no município onde acontece o impacto, e a reação daqueles que vivem mais distantes, no estado ou em Brasília ou, até mesmo, em outro país.

Diferente das populações municipais, que no caso da Amazônia ainda possuem elevado contingente de famílias vivendo em ambiente rural, as populações das grandes cidades espalhadas pelo país e mundo afora, são na grande maioria urbanas e, por isso, possuem cada vez menos tolerância à realização de desmatamentos.

Para essa população urbana e que se encontra distante do problema, o argumento da falta de alternativas produtivas já não convence. Da mesma forma que não há conformismo com relação aos danos advindos da produção agropecuária.

Mas, voltando ao senso comum, a criação de Unidades de Conservação agrada tanto aqueles que toleram os efeitos da agropecuária quanto os que não se conformam com os desmatamentos. Sendo assim, pessoas e instituições têm direcionado seus esforços para tornar esse conformismo com a expansão da agropecuária sobre a floresta, em um sentimento cada vez mais solidificado, oferecendo o que os sociólogos devem chamar de bônus de consciência, ao introduzir medidas que, espera-se, reduzam os efeitos da expansão agropecuária.

A criação de Unidades de Conservação em quantidades cada vez maiores e com dezenas de categorias (Parques Nacionais, Estação Ecológica, Reserva de Fauna, Reserva Biológica, Reserva Extrativista, Área de Proteção Ambiental e assim por diante) se configuram no melhor e mais usual bônus de consciência.

Acontece que não era para ser assim.

Extensas áreas cobertas por florestas são segregadas do processo de instalação da agropecuária, sem que haja um fim específico para isso (que não seja o do bônus de consciência) e o resultado é por demais conhecido. As Unidades de Conservação, com raríssimas, e impossíveis de citar, exceções, são abandonadas, após sua onerosa criação, à dinâmica da ocupação produtiva em voga.

Florestas deveriam ser segregadas para que pudessem demonstrar a eficiência de um modelo produtivo alternativo ao desmatamento. Um modelo que por estar baseado na sustentabilidade se contrapõe ao atual.

Unidades de Conservação devem ser encaradas como áreas que estão incluídas no processo produtivo, todavia, com o diferencial da economia do baixo carbono e do conseqüente desenvolvimento sustentável.

Para isso as Unidades de Conservação na Amazônia devem gerar emprego e renda, isto é, precisam promover maior dinâmica econômica que a agropecuária.

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