Será que a mudança de denominação de Polícia Rodoviária Federal para Polícia Viária servirá para estabelecer um protocolo de abordagem ao cidadão que considere todos inocentes até que se prove o contrário?

Tudo indica que não, pelo seguinte.

Para os que saem de São Paulo para conhecer Rondônia ou vice-versa aceitem desde já um conselho: pulem Mato Grosso.

Não por causa das belezas naturais que, tal qual a paisagem por todo esse abençoado e imenso país, são por demais exuberantes. E não devido aos mato-grossenses que são, igualmente, singular, receptivos e hospitaleiros em toda sua essência.

E, finalmente, não pela conservação constrangedora da malha viária em vias que ainda não foram privatizadas, estadual ou federal, que por razões incompreensíveis ainda não foram entregues ao eficiente gerenciamento privado, a despeito do sucesso na manutenção e segurança dos trechos com pedágio como acontece em tudo que é lugar mundo afora.

Mas, espante-se, por causa da polícia rodoviária (federal e estadual). Pode parecer estranho, contudo, há algo de sinistro no aparato policial rodoviário do Mato Grosso.

Desde que iniciei algumas aventuras rodoviárias, o nome é aventura mesmo, teimando em fazer turismo de carro, o termo é teimar mesmo, que percorro de maneira regular um longo circuito saindo da Amazônia em direção às regiões sudeste e centro-oeste.

Um veículo de passeio costuma ser perigosa exceção entre milhares de caminhões carregados de soja e alguns outros produtos do nosso competitivo e reconhecido agronegócio destinados à exportação e que geram quase a metade da riqueza, ou PIB, nacional.

Os caminhões, em sua maioria com dois vagões e mais de 25 metros de comprimento, realizam o percurso que vai da área de cultivo de grãos aos portos de embarque em Porto Velho (Rondônia) e no litoral do sudeste.

Rodam em média a 80 Km/h representando um desafio constante ao motorista do carro que roda a 120 Km/h para serem ultrapassados em uma malha viária com excesso absurdo de faixa contínua e que, ao mesmo tempo, não possui terceira faixa de ultrapassagem.

Não há como fazer esse trajeto sem passar por Mato Grosso. Desde 1990 percorro essas estradas e nesses quase 30 anos várias cidades foram formadas, ampliaram o IDH, se urbanizaram. Algumas poucas permaneceram estagnadas.

Nesse período passei por várias experiências no mínimo esdrúxulas, umas 15 sendo mais exato, envolvendo abordagem por policiais rodoviários com constrangimentos variados.

Todas elas aconteceram em Mato Grosso e todas elas causaram, por alguma razão, perplexidade nos ocupantes do veículo. Em nenhuma delas ocorreu alguma satisfação, enquanto cidadão e turista, com a atuação dos policiais. Mais de 80% das situações foram criadas pela polícia rodoviária federal.

Parece que os policiais que atuam em Mato Grosso consideram suspeito viajar em veículo de passeio por rodovias dominadas por caminhões e treminhões e se empenham fazendo de tudo para piorar sua experiência com o congestionamento, buraco, semáforo e uma centena de quebra-molas.

Longe de cair na ladainha sem provas daqueles que acreditam e vêem corrupção a torto e a direito (ou no jargão político: na esquerda e na direita), pelo contrário, se você não é parece correto supor que a maioria das pessoas também não, inclusive aquelas que se dedicam à valiosa arte da política.

Dentre as constrangedoras abordagens realizadas pela polícia rodoviária federal de Mato Grosso três delas merecem ser contadas, na versão resumida obviamente.

Na primeira abordagem, ocorrida há uns cinco anos, em um veículo veloz, dois policiais rodoviários nas proximidades da majestosa cidade de Barra do Garças, dispararam em uma perseguição cinematográfica que somente após alguns quilômetros foi possível perceber qual veículo estava sendo perseguido.

Após estacionar, os polícias se aproximaram com a mão na arma, puxaram conversa fiada com a indignada carona e ficaram olhando um carro novo, quase zero, como se fosse roubado. Sem explicar as razões daquela abordagem sinistra e espalhafatosa permaneceram um tempo incompreensível com o documento do carro e a carteira de habilitação, sob um sol à pino, na certa à espera de alguma atitude revoltada do indignado motorista, o que não aconteceu. Algo no mínimo esdrúxulo.

Já a segunda e terceira abordagens, que também merecem uma versão resumida, ocorreram em trechos semelhantes: a segunda na chegada a Cuiabá e a terceira na volta para Vilhena com intervalo de 20 dias entre uma e outra.

Poderia até ser piada, mas não é.

Acontece que ao sair de Vilhena e logo após a entrada no território mato-grossense um jovem policial, após deixar passar dezenas de caminhões exige que encoste o carro fora da pista de rolamento, o que indica uma determinação prévia e incompreensível de que será uma fiscalização demorada.

Abrir a janela não é suficiente e o policial, mesmo vendo o interior do veículo somente com bagagens e que claramente se tratava de uma família fazendo turismo em um carro zero recém-adquirido, ameaça o motorista: bafômetro ou multa?

Como se houvesse alguma decisão a ser tomada diante de tal agressiva imposição ainda completa: a decisão é sua. Importante um adendo, essa abordagem ocorreu antes das 11 horas da manhã.

Considerando que eles precisavam completar metas de estatísticas sobre bafômetro, algo por sinal inusitado para uma polícia rodoviária que se pretende superior, o bafômetro foi soprado e engolindo o constrangimento pelo tempo perdido nessa imundície, o caminho retomado.

Todos achando que o contratempo havia sido superado até que na volta…

Não é que no mesmo lugar, mesmo policial, mesma liberação de um monte de caminhão, acontece a interceptação e outro comando para estacionar? Nova intimidação com ameaça de multa, de apreensão do carro e de averiguação de documentos, do condutor e do veículo, repetindo um procedimento maldosamente interminável.

Mais inacreditável ainda foi abrir a janela afirmando que havia sido fiscalizado na ida, 20 dias antes, e nada. Houve, inclusive, um ato falho do tipo “é, me lembro do senhor”.

Como não havia, como se diz por aí, nada de novo, sem cerimônia, com um comportamento deplorável, do nada, os policiais na tentativa inútil de justificar o comportamento questionável pela brutalidade e imbecilidade afirmaram que a película no para-brisa, a mesma da ida, agora estava mais escura que o permitido na legislação.

Simples assim, em total desconsideração pelas regras básicas de cidadania e respeito com o cidadão, com os mais idosos e, evidente, com os mais inteligentes arrancaram a película diante do olhar perplexo do condutor e de sua família.

Convenhamos, generalizações são sempre perigosas, contudo como convencer quem passou por situações semelhantes que os policiais rodoviários de Mato Grosso merecem reconhecimento?

 Fim da história.

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