Uso múltiplo da biodiversidade é o caminho para Amazônia

(Artigo publicado originalmente em 18/07/2010)

A importância econômica e social do extrativismo florestal na Amazônia é reconhecida desde os primórdios da ocupação da região pelos colonizadores portugueses.

De maneira geral, a exploração florestal foi o motor principal a garantir o estabelecimento dos primeiros produtores portugueses na região. Esses pioneiros se esforçaram para compreender os diversos usos conferidos pelas populações indígenas a um igualmente diverso leque de produtos de florestais.

A produção florestal gerou, no período da colonização, ciclos econômicos que foram fundamentais para a instalação de uma infraestrutura considerável na região, bem como para a permanência de um grande contingente de mão de obra.

Os ciclos econômicos baseados nos produtos florestais se iniciaram com as espécies florestais batizadas de “drogas do sertão” (em especial canela, cravo, cacau e salsaparrilha), passando pelo óleo de tartaruga (que iluminou durante um bom tempo as cidades amazônicas) e chegando ao seu mais importante produto: a borracha.

Com a demanda crescente por borracha, a Amazônia foi definitivamente ocupada por produtores, empresários e trabalhadores florestais, originando-se uma riqueza jamais verificada na região. Nenhum outro período da história econômica regional pode ser comparado, em termos de prosperidade e opulência, ao período abrangido pelos quase 20 anos de duração do ciclo econômico da borracha.

Mais recentemente, na segunda metade do século passado, a importância dos produtos florestais para a economia local ficou restrita à produção de madeira – que era efetuada sem a menor preocupação com a manutenção dos estoques, tampouco com o emprego de técnicas de manejo florestal.

Finda a relevância econômica dos produtos florestais, a Amazônia se viu às voltas com a instalação, em larga escala, de atividades baseadas na agropecuária.

Os efeitos nefastos da substituição da floresta por monocultivos, sobretudo de forrageiras e grãos, foram rapidamente sentidos, chamando a atenção do mundo para a aceleração dos desmatamentos e das queimadas.

A busca por uma opção produtiva mais adequada aos critérios de sustentabilidade fez ressurgir o extrativismo, revigorado em função da expectativa que os ambientalistas depositavam na atividade.

As populações tradicionais da Amazônia, na condição de extrativistas que contribuíam para manter a floresta, alcançaram espaço político prioritário.

Experiências produtivas foram realizadas, no escopo de elevar o extrativismo ao nível tecnológico do manejo florestal de uso múltiplo. A análise dessas experiências, com vistas à sua multiplicação, deveria ser o objetivo principal de uma política pública destinada a promover essa atividade em larga escala e em toda a Amazônia.

Afinal, o uso múltiplo da diversidade biológica existente no ecossistema florestal da Amazônia é o melhor caminho para a ocupação sustentável da região.

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