Nos idos da década de 1980 o Acre vivia momentos únicos de mobilização social em torno de temas relacionados ao seu processo de ocupação produtiva. Ao se intensificar a pavimentação da rodovia BR 364 no sentido Cuiabá a Rio Branco, passando por Porto Velho, as áreas consideradas com potencial agropecuário saíam do isolamento e entravam na lista das propriedades do Arco do Desmatamento.

No entanto, tendo em vista que essas áreas, cujo potencial agropecuário era aferido única e exclusivamente pela localização privilegiada ao longo do traçado das rodovias, eram, em boa parte, ocupadas pela atividade extrativista, o confronto foi inevitável.

De um lado os trabalhadores extrativistas, em sua maioria considerados posseiros, que buscavam defender seu direito, legítimo diga-se, de permanecer na terra ocupada há mais de um século por gerações de produtores que tradicionalmente utilizavam o modo extrativista de produção, para auferir renda com a oferta de produtos como: borracha (Hevea sp) e castanha-do-Brasil (Bertholetia Excelsa).

De outro os médios e grandes pecuaristas, em sua maioria considerados proprietários, que buscavam retomar seu direito de propriedade, defendendo a opção pela agropecuária, com predominância da pecuária bovina, e condenando o extrativismo a um passado relacionado a isolamento, abandono e pobreza.

Ou seja, para uma região com facilidades de escoamento da produção advinda da pavimentação das rodovias, a permanência no modo extrativista de produção, não justificaria os investimentos públicos ali realizados. O retorno econômico da pavimentação, somente poderia ser alcançado quando uma transformação produtiva fosse levada à cabo, em direção à única alternativa: a pecuária.

Mas a transformação produtiva em direção à pecuária pressupunha algo que o mundo, no limiar da realização da Eco 92 no Rio, não estava disposto a tolerar: a destruição das florestas na Amazônia. O desmatamento, naquele momento de taxas abusivas, havia sido alçado à condição de inimigo número um de um movimento ambientalista nacional e internacional em ascensão.

A associação do movimento ambientalista com o dos trabalhadores extrativistas, denominado inicialmente de Movimento dos Seringueiros, culminou com uma articulação institucional e política jamais vista na história do Acre e, talvez, da Amazônia.

Ambientalistas e seringueiros unidos, conseguiram levar sua liderança mais expressiva na época, Chico Mendes, para ser ouvido em Assembléias Ordinárias de instituições de apoio multilateral da expressão do Banco Mundial, Bird, e do Banco Interamericano, Bid.

Instituições que eram as mais importantes na oferta de dinheiro para custear as pavimentações e que tinham uma reputação, na esfera da responsabilidade ambiental, que precisavam preservar.

Reputação que fez ampliar a quantidade de salvaguardas ambientais e sociais destinadas ao aporte financeiro das pavimentações. Exigências que deram origem a importantes programas de garantia social e ambiental como o Programa de Apoio ao Meio Ambiente e às Comunidades Indígenas, PMACI.

Com a redução das áreas de Reserva Legal de 80% para 50% das propriedades privadas patrocinada pela realização do Zoneamento Ecológico e Econômico e a insistente proposta de revisão do Código Florestal, parece que acordarão os velhos dilemas do século passado.

A profícua discussão sobre a possibilidade de se estruturar uma economia florestal na Amazônia por meio do Manejo Florestal de Uso Múltiplo ficará à espera da antiga ladainha acerca de mais ou menos capim

Uma perda de tempo que, seguramente, a Amazônia não tem.

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