Embora o dilema de explorar ou não a floresta na Amazônia remonte ao início da colonização portuguesa, somente na década de 1950 houve a sistematização, no Brasil, de um processo de discussão quanto à melhor tecnologia para a extração de madeira.

É que, como a madeira que se encontrava na beira dos rios, dita de várzea, começara a se esgotar, a exploração se direcionou para terra firme. Todavia, a demanda por estradas, ramais, tratores etc. fez ver o estrago que uma exploração de madeira sem tecnologia poderia causar no interior da floresta (no dizer dos extrativistas).

A primeira providência foi pedir-se socorro aos americanos. A FAO (agência da ONU para as florestas) enviou uma missão de engenheiros florestais (alguns alemães), que, acompanhados por agrônomos do Ministério da Agricultura, permaneceram um bom tempo na região, discutindo Manejo Florestal em floresta tropical – também eles não sabiam muito bem como proceder, pois só conheciam as suas florestas, as temperadas.

Os fatos se desdobraram na criação do primeiro curso de Engenharia Florestal, que formou a primeira turma em 1965 – quando também foi aprovado o Código Florestal. Uma Engenharia Florestal genuinamente nacional firmava-se, dessa forma, no país, e também na Amazônia.

Mediante o trabalho realizado pelo Inpa, em Manaus, e pela Embrapa (notadamente a de Belém), na década de 1970 a Amazônia já detinha uma tecnologia de Manejo Florestal pronta para ser aplicada na região. No Acre, essa tecnologia estaria disponível somente a partir do final da década de 1980, quando foi criada a Funtac.

A instituição foi pioneira nas pesquisas empreendidas na área – cujo apogeu foi o projeto executado na Floresta Estadual do Antimary, financiado pela Organização Internacional de Madeira Tropical (ITTO, na sigla em inglês). O projeto do Antimary foi um marco, tendo assentado as bases de uma metodologia adequada às características da floresta presente em território estadual. Registre-se que jamais houve em toda a história do Acre um investimento tão elevado em pesquisas com Manejo Florestal.

O Antimary, todavia, direcionou-se para o manejo realizado em larga escala, de natureza empresarial. No caso do manejo voltado para a prática comunitária, duas outras experiências merecem destaque: a da Embrapa no PAD Peixoto, e a do CTA, no Seringal Porto Dias.

A tecnologia desenvolvida nesses experimentos – denominada Manejo Florestal Comunitário – é, com certeza, um legado do Acre, como o são as Reservas Extrativistas e o Manejo Florestal de Uso Múltiplo. Tais concepções, a despeito de não gozarem do devido reconhecimento pela sociedade local, foram engendradas no estado; vale dizer, foi daqui que saíram as informações definitivas para a sua conceituação.

A Embrapa conseguiu a façanha de introduzir o Manejo Florestal na realidade dos projetos de assentamentos e das propriedades distribuídas em linha ao longo dos ramais. Já o CTA, por sua vez, possui o mérito de ter levado o manejo para o contexto das colocações, dos varadouros e das varações – um feito formidável, não há dúvida.

Definitivamente, as equipes da Funtac (que atuou no Antimary), da Embrapa (PAD Peixoto), e do CTA (Porto Dias), são precursoras do Manejo Florestal desenvolvido no Acre, seja a técnica exercida pelas empresas, seja o método conduzido pelas comunidades. Trata-se de um grupo de técnicos que assumiu árdua incumbência: a de convencer a sociedade de que a exploração madeireira é atividade benéfica para a economia, para a coletividade, e – o mais surpreendente – para a floresta.

Esses pesquisadores contribuíram enormemente para assentar o país, em relação ao Manejo Florestal, numa posição de destaque na América Latina. O Brasil detém um cabedal de informações bem superior aos demais países, e é, de longe, a nação que desenvolveu a tecnologia mais aprimorada.

Que manejo é esse, enfim? O praticado na Amazônia é amazônida, certamente. Mas, o Manejo Florestal realizado aqui é um legado nosso; coisa do Acre, com certeza!

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