A proposta de Reservas Extrativistas completa, em 2010, 20 anos de existência. As duas primeiras unidades foram criadas no Acre, ainda em 1990 (denominadas de Chico Mendes e Alto Juruá). Na época, havia muita expectativa com essas Unidades de Conservação, UC, por parte dos técnicos envolvidos com o tema, sobretudo os Engenheiros Florestais e os da área social.
Acontece que Reserva Extrativista é um tipo de UC bem peculiar. Difere do Parque Nacional, que é considerado de Proteção Integral, por permitir a exploração dos recursos florestais existentes em seu interior. No entanto, difere também da Floresta Nacional, que é considerada de Uso Sustentável, por permitir a presença de comunidades extrativistas habitando sua área.
Ou seja, trata-se da leitura mais concreta já feita sobre desenvolvimento sustentável para regiões como a Amazônia, por exemplo. Ao considerar possível e desejável que populações ocupem as florestas extraindo delas sua única, veja bem única fonte de renda, as Reservas Extrativistas se propunham à demonstração de que uma nova forma de ocupação produtiva da região poderia ser adequada aos ideais de sustentabilidade exigidos pelo mundo.
Não somente se contrapunha aos efeitos nefastos da ocupação produtiva baseada nos assentamentos da reforma agrária, que tem no danoso ciclo do desmatamento, queimada e plantio de capim (referência maior da agropecuária amazônica), as Reservas Extrativistas significavam mais: o sucesso ecológico de um modo de produção ancorado no extrativismo.
A recepção junto aos técnicos, à academia, aos institutos de pesquisas e às organizações não governamentais foi mais que animadora. Rapidamente estudos variados em Reservas Extrativistas, constatavam a superioridade desse modelo de ocupação para gerar emprego e renda de maneira sustentável na Amazônia.
Melhor ainda, as Reservas Extrativistas foram inventadas pelos brasileiros. Não era um tipo de Unidade de Conservação existente em outros países e copiados por aqui, como todas as outras.
Mais importante ainda, foi inventada ou concebida na própria Amazônia, no Acre para ser mais específico. Do mesmo lugar que viria a solução tecnológica para ampliação de um extrativismo estruturado no binômio borracha e castanha-do-brasil, ao Manejo Florestal de Uso Múltiplo da imensa diversidade biológica da floresta amazônica.
No entanto, após 20 anos da criação das primeiras Reservas Extrativistas, alguma coisa parece não ter avançado e as expectativas continuam frustradas. Estudos recentes sobre Propensão à Sustentabilidade nas Reservas Extrativistas acreanas não são nada animadores.
Assim, a Quarta Semana Florestal do Acre, evento que ocorre anualmente e é organizado pelos Engenheiros Florestais, formados e em formação, vinculados à Universidade Federal do Acre, pretende adentrar na nebulosa polêmica que envolve as Reservas Extrativistas.
Pretende mais, com muita discussão, que acontecerá de 09 a 12 de março próximo, os envolvidos nesse importante evento, poderão reforçar a tese de que as Reservas Extrativistas podem sim atender as expectativas surgidas na sua criação, desde que não se permaneça somente na regularização fundiária, o que é comum, e as ações para seu gerenciamento sejam efetivamente desencadeadas.
Todos são muito bem vindos nessa discussão, afinal o que está em jogo é o futuro do ecossistema florestal na Amazônia. Vale a pena.