Desde os idos de 2006 que os engenheiros florestais da Universidade Federal do Acre se esforçam para desenvolver uma tecnologia voltada para o manejo florestal comunitário do cacau nativo.

Sob o apoio do CNPq em projetos que superam 400 mil reais, os pesquisadores conceberam e testaram alguns protocolos de manejo comunitário, com o fim de ampliar a produtividade do cacaueiro sem causar prejuízo ao sabor do fruto nativo.

Existe um nicho de mercado em expansão no mundo que valoriza o cacau nativo, em detrimento do chocolate produzido mediante a exploração do cacaueiro domesticado. Os especialistas asseguram que o “flavor” do cacau nativo – ou seja, a combinação sensorial entre sabor e aroma -, é bem superior ao do fruto cultivado em larga escala, e que passou por uma série de melhoramentos genéticos.

O produto florestal nativo, evidentemente, deve ser manejado em seu habitat de origem, o que não é tarefa das mais simples – ainda mais em se tratando da floresta amazônica, onde o cacau surgiu e foi domesticado pelo mundo.

Basta dizer que, como os cacaueiros são muito dispersos no interior da floresta, o produtor leva tempo para ir ao encontro de cada árvore e fazer a coleta dos frutos. Todos os dias, dessa forma, ele tem que cobrir uma vasta área de caminhada.

Mas, antes de levar-se a efeito o manejo propriamente dito, é necessário elaborar o respectivo plano de manejo. O problema é que, enquanto no caso da madeira existem metodologias específicas e consolidadas para a identificação das árvores a serem derrubadas e o cálculo do volume de madeira a ser produzido por hectare, com relação ao manejo de outros produtos florestais constata-se uma significativa lacuna de informações.

Inclusive, sob a genérica qualificação de “não madeireiros” costuma-se incluir, apressada e equivocadamente, um extenso rol de produtos. Essa denominação, contudo, não faz sentido, uma vez que não é possível, para fins de definição de metodologias, criação de protocolos e, enfim, elaboração de plano de manejo, o agrupamento de produtos completamente distintos, que praticamente só têm em comum o fato de serem oriundos da floresta.

Voltando ao cacau nativo, a Engenharia Florestal da Ufac concebeu um pacote tecnológico para a elaboração do plano de manejo desse produto, que se inicia com condutas técnicas aplicadas à prospecção dos pés de cacaueiro e se encerra com um conjunto de protocolos destinados ao manejo florestal comunitário do produto.

O procedimento como um todo envolve elevado grau de complexidade. As dificuldades começam na identificação dos locais de dispersão dos cacaueiros e no cálculo – crucial, diga-se – da quantidade de pés a serem alcançados em cada safra.

Dessa forma, a primeira etapa, a da Prospecção, inicia-se com a elaboração de um Mapa de Dispersão, por meio do emprego de tecnologia de ponta em sensoriamento remoto (com interpretação de imagens de satélite).

Depois da elaboração desse mapa, a dispersão das árvores na floresta é aferida mediante a realização do Inventário de Prospecção, que, por sua vez, dará origem ao Mapa de Ocorrência. Esse mapa fornece a indicação da localização dos cacaueiros e da quantidade de árvores que poderão ser manejadas.

Contando com o apoio do “Arpa”, um programa financiado pelos países desenvolvidos e que tem como alvo a conservação da floresta na Amazônia, essa metodologia será agora testada na Reserva Extrativista Chico Mendes.

Se tudo der certo, em breve, o cacau nativo poderá compor a cesta de produtos ofertada pelo manejo florestal de uso múltiplo promovido no Acre. É esperar para ver.

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