Ao observar um treminhão (aquele caminhão com dois vagões) rodando, repleto de toras, poucos arriscariam afirmar que um carregamento desse tipo não teria causado um impacto significativo no ecossistema florestal onde foi realizada a retirada de madeira – ou a derrubada das árvores, para soar mais dramático.

A verdade, porém, é que – ao contrário do que comumente se pensa – nem sempre a exploração madeireira deixa pra trás um rastro de destruição; não estaria, portanto, tão equivocado como em princípio se poderia supor, quem ousasse divergir do senso comum. Explica-se: é grande a chance de as toras transportadas serem originárias de madeira explorada por meio da tecnologia do manejo florestal.

Madeira manejada é aquela cujo processo de extração – ou seja, os procedimentos relativos à escolha da árvore a ser colhida, derrubada, arraste da tora, e transporte no tal treminhão – atendeu rigorosamente aos requisitos técnicos desenvolvidos pela Engenharia Florestal.

E não são poucos – registre-se – os pressupostos a ser cumpridos no manejo de madeira praticado na Amazônia, a fim de habilitar o produto à comercialização. Envolvem uma centena de coeficientes técnicos concebidos por instituições do peso do Inpa e da Embrapa, ao longo de mais de sessenta anos de pesquisas na região, que não deixam dúvida quanto à viabilidade técnica, social, econômica e ecológica do manejo florestal para a floresta nativa amazônica.

Trata-se de uma totalidade de informações, que, notadamente nos últimos 20 anos, vem sendo ampliada mediante a atuação de outras instituições com forte vocação para a inovação tecnológica. Institutos estaduais de pesquisa, como a Funtac, no Acre, e o Iepa, no Amapá, e mais um vasto número de organizações não governamentais, como o Centro dos Trabalhadores da Amazônia, aderiram ao esforço para produzir inovações na área florestal.

Superada a fase da exploração predatória e por isso insustentável, a madeira passa à condição de produto essencial para os ideais de sustentabilidade presentemente preconizados. Com efeito, a madeira retira carbono da atmosfera, o principal gás causador do aquecimento global e das consequentes mudanças climáticas – cuja evidência científica, aliás, foi comprovada em 2007, pelos cientistas que compõem o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC, na sigla em inglês).

Ora, é fato que a humanidade trava uma corrida tecnológica sem precedentes, em busca de alternativas ao uso de materiais intensivos em carbono, como é o caso do alumínio e do petróleo – somente para ficar nas duas matérias-primas atualmente mais utilizadas no planeta.

Dessa forma, a madeira manejada se torna opção preferencial para a substituição de ambos os componentes numa infinidade de aplicações em produtos e utensílios que fazem parte do cotidiano das pessoas e que, portanto, são demandados em quantidades elevadas.

Para entender melhor: o uso do alumínio e do petróleo amplia a quantidade de carbono na atmosfera, e, por conseguinte, o risco de tsunamis, enchentes, furacões e outras tragédias, tornando inevitável o colapso decorrente da crise ecológica. O emprego da madeira, ao contrário, ajuda a evitar as catástrofes ambientais, já que a madeira contribui para o equilíbrio do clima, ao retirar carbono da atmosfera.

A conclusão parece óbvia: a madeira manejada – que pode ser alçada a um patamar ainda mais nobre e com maior valor de mercado, por meio da certificação – é benéfica para o meio ambiente; e na era da Economia de Baixo Carbono, a utilização dessa matéria-prima ganha importância estratégica.

Tudo leva a crer que, finalmente, o potencial da biodiversidade amazônica alcançará especial interesse econômico, e o ecossistema florestal, a devida valoração.

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