Nunca é demais repetir, em 2015 a quantidade de queimadas no Acre superou uma série histórica de medições, iniciada em 1998.

Para dizer de outra forma: em 18 anos, o Acre nunca queimou tanto quanto no ano passado. Ou, para soar como um alerta: os gestores públicos têm sido incapazes de controlar o aumento das queimadas observado desde 2011 no Acre.

A notícia é bem mais grave do que pode parecer e merece uma explicação detalhada. A começar por uma constatação preocupante – não foi de um momento para o outro que a quantidade de queimadas disparou no Acre, até atingir a taxa recorde de 2015. Ao contrário, a quantidade de queimadas ocorridas no território estadual vem aumentando nos últimos 5 anos: as aferições comprovam que desde 2011, quando aconteceram 1.912 queimadas, houve aumento constante e ininterrupto, ano após ano.

Para satisfazer aqueles que, como este autor, valorizam muito as estatísticas, pontua-se: em 2012 aconteceram 3.180 queimadas no Acre; logo depois, em 2013, observou-se leve ampliação, tendo sido constatados 3.242 focos de calor.

Em 2014, a elevação foi mais expressiva, chegando a 3.829 queimadas, e continuou até o recorde do ano passado, quando absurdos 5.512 focos de calor foram captados pelo satélite.

Antes de tudo, é importante esclarecer: a quantificação das queimadas é realizada por um tipo de satélite que possui sensibilidade aos focos de calor. Não se trata de observação humana, o que poderia conferir aos dados algum grau de insegurança. São informações obtidas com 100% de certeza.

Em não havendo dúvida sobre as taxas anuais de ampliação das áreas submetidas à queima no Acre, resta inquirir as razões pelas quais nenhuma providência foi tomada na tentativa de estancar o risco anual de ampliação.

Por sinal, os números apresentam comportamento bastante compreensível. Os pesquisadores costumam dizer que quando os números se comportam, medidas de correção são mais baratas e menos traumáticas.

Uma intervenção, por exemplo, na esfera das políticas públicas, no sentido de conter a ampliação das queimadas e reverter o processo, poderia ter sido pontual, ou seja, direcionada para determinada realidade local, já que as estatísticas apontam onde ocorriam os aumentos.

Não é preciso muito esforço para concluir que, na melhor das hipóteses, e uma vez que os dados disponibilizados pelo Ministério do Meio Ambiente e pelo Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) eram suficientes para subsidiar uma tomada de decisão, os gestores estaduais negligenciaram a ocorrência das queimadas.

Descuidaram de uma informação que se revelaria capital – provavelmente porque se supôs que se tratava de uma ampliação momentânea, ou seja, que os índices retornariam ao patamar anterior. Um grave erro.

Esqueceram um princípio elementar, fartamente comprovado na literatura científica sobre queimadas, que explica a motivação do produtor para adotar essa lamentável prática agrícola num determinado ano: as queimadas atendem a um imperativo da política pública. Em outas palavras, é o incentivo do governo que faz o produtor queimar.

Em época de crise aguda na economia, em esfera nacional e local, não deve ser difícil apurar que incentivo foi esse. Ao que parece, todavia, falta vontade para isso.

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