De vez em quando surgem idéias de cultivos para a redenção da produção rural na Amazônia. Essas idéias sempre partem da constatação de que a atual produção rural amazônida está sujeita a uma conjuntura de primitivismo tecnológico, baixa produtividade e elevado impacto ambiental. E que esse tripé circunstancial pode ser alterado.

Os defensores das novas culturas também costumam perfilhar-se ao equivocado senso comum de que o ecossistema florestal não é capaz de gerar emprego e renda – no calibre demandado pelo elevado contingente populacional da região.

Como para todo problema complexo existe uma resposta fácil, simples, rápida – e errada, a solução imediata de introduzir-se uma nova cultura surge como a salvação da lavoura (com o perdão do trocadilho).

Desse modo, muitas espécies entraram e saíram do rol das culturas que suplantariam o tripé da conjuntura rural amazônica: do cacau, passando pela borracha, até a pupunha, a pimenta longa, todas elas, em algum momento, tornaram-se a aposta da vez.

Mais recentemente, as atenções se voltam para as espécies de ciclo médio ou longo que possam originar óleo vegetal. Obviamente, é consenso que o óleo vegetal mais vantajoso é o proveniente da soja – que, por apresentar custos de produção reduzidos e elevada produtividade, leva vantagem sobre as demais espécies que podem ser usadas na produção de biocombustíveis.

Os biocombustíveis se tornaram tema da moda porque o mundo compreendeu dois pontos em relação ao petróleo. Primeiro, que esse combustível tem os dias contados. Os especialistas acreditam que a curva de decadência da oferta mundial de petróleo, mesmo com os novos poços brasileiros, inicia-se por volta de 2050.

Segundo, que o petróleo é o maior responsável pelo aquecimento global, que gera as mudanças climáticas que, por sua vez, põem em risco o planeta. A substituição das fontes de combustíveis – do petróleo para óleos vegetais, que são renováveis- vem sendo apontada como medida importante para reverter-se o quadro de crise ecológica mundial.

E é aí que entra a produção rural amazônica e o seu insuperável tripé. A cultura da vez terá que integrar a cadeia produtiva dos biocombustíveis, cujo consumo deverá crescer exponencialmente no mundo. A despeito de suas vantagens, a soja – ao lado do capim – é a cultura mais execrada pelos ambientalistas; as duas espécies lideram a lista dos principais responsáveis pelas taxas de desmatamento que persistem na Amazônia.

Assim, para se ficar bem na foto, as opções são o óleo de dendê, ou o de palma, espécies de palmeiras exóticas, de ciclo médio (o plantio precisa ser renovado depois de certo período), e que não compartilham do preconceito enfrentado por sua concorrente direta – a soja.

Todavia, existem duas perigosas arapucas – que os defensores dessas novas culturas preferem não enxergar.

Em primeiro lugar, tudo indica que é remota a possibilidade de o plantio dessas palmeiras, que fornecem biocombustiveis, resolver o problema da agricultura familiar. É que óleo vegetal, petróleo, minérios e soja são commodities, mercadorias produzidas em larga escala, cujo preço é estabelecido em mercados futuros, em âmbito mundial. Não é coisa para pequeno, enfim.

Já a segunda armadilha é mais complexa de se entender e suas conseqüências podem ser mais nefastas para a Amazônia. Pois que todas as vezes que uma espécie domesticada adquirir um valor que torne sua produção mais atrativa, essa espécie, primeiro, ocupará os pastos. Depois, tomará as florestas.

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