Nos idos do final da década de 1980 um movimento de trabalhadores rurais, bem especial, ganhou notoriedade internacional. Sob a liderança de Chico Mendes os seringueiros se transformaram em referência para a manutenção do ecossistema florestal na Amazônia.

Ocorre que a atividade produtiva principal, desses trabalhadores rurais era a extração de latex, para produção de borracha. Uma matéria-prima que depende da ocorrência de árvores de seringueira no interior da floresta. Árvores que, por sua vez, dependem da floresta para existir e que, quando plantadas ou cultivadas, fora da floresta, são atacadas por pragas. A doença do mal-das-folhas causada pelo fungo Mycrociclus uley destrói as plantações na Amazônia.

Se, manter a atividade produtiva do extrativismo significava manter a floresta, para os ambientalistas, essa atividade produtiva foi elevada à condição de adequada à realidade da Amazônia e aos seus critérios de sustentabilidade.

Com ajuda essencial dos ambientalistas, os seringueiros conseguiram um apoio internacional precioso. As agências multilaterais, como o Banco Mundial, reconheceram esses atores sociais como interlocutores, para serem ouvidos nas decisões de investimento. Isto é, os seringueiros passaram a influenciar nas tomadas de decisão sobre a pavimentação de estradas como, por exemplo, da BR 364 ligando Cuiabá (MT) a Rio Branco (AC).

E mais, com o endosso de pesquisadores, técnicos, acadêmicos e profissionais que atuam na área biológica e florestal, os seringueiros conseguiram elaborar uma proposta de ocupação produtiva da região, que reunia e atendia as expectativas dos produtores e dos ambientalistas: as Reservas Extrativistas.

Pensadas como uma versão branca das Terras Indígenas, as Reservas Extrativistas funcionariam como local ideal para colocar em prática uma produção primária sustentável. Para isso, se estabeleceram limites rígidos à produção agropecuária, no interior dessas Unidades de Conservação.

Na verdade, a produção agropecuária foi levada à condição de ser realizada única e exclusivamente para subsistência dos produtores. Era uma produção para evitar a fome e impedir que o dinheiro obtido fosse usado para compra de comida no mercado local.

Tratava-se de uma produção de arroz, milho, feijão e macaxeira, destinada ao consumo e nunca, nunca mesmo, ao comércio. Não se poderia ganhar dinheiro com ela.

A demanda por proteína animal fez com que se incluísse a criação de pequenos animais domésticos como: porco e galinha, na lista de produtos de subsistência. E o leite, essencial para as crianças, fez incluir a vaca.

Todavia logo, rapidamente, os antropólogos e demais engajados da área social, conceberam a necessidade de se criar bois, e não somente as vacas do leite, como condição para existência de uma poupança nas Reservas Extrativistas.

Não aquela poupança, que os economistas sugerem guardar para futuros investimentos. Mas, aquela poupança que os sociólogos guardam para futuras emergências. Vai que alguém adoece?

Poupança que se transformou no principal objetivo da colocação de seringueiro na Resex Chico Mendes. Poupança que coloca em risco a sustentabilidade da própria Resex.

Poupança que destrói a maior poupança que o seringueiro possui: a floresta.

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