Ingenuidade imaginar que, por uma espécie de altruísmo ecológico, uma decisão de política de governo, no caso, a de construir uma usina hidrelétrica, poderia ser revista durante o processo de licenciamento ambiental da obra.

Ora, diante da máxima, válida para qualquer lugar do mundo pelos próximos 50 anos (prazo que pode ser considerado otimista para superação da crise de energia que afeta a humanidade), de que onde houver um rio com queda suficiente uma hidrelétrica será construída, uma coisa é certa: muitas hidrelétricas ainda estão por vir.

E a razão é simples. Acontece que as alternativas ao aproveitamento da força d’água para a geração de energia elétrica, ou são piores em termos econômicos e ambientais (como a geração a diesel, a gás ou a carvão mineral), ou não alcançam uma escala compatível com a demanda atual (como a energia eólica ou a solar), ou, ainda, representam um risco que a humanidade não está disposta a suportar (como a nuclear).

Por sinal, foi essa a lógica que impeliu o país a investir maciçamente na construção de hidrelétricas em todo o território nacional, e especialmente na Amazônia – nesse caso, em função da abundante quantidade de água ofertada pela bacia do rio Amazonas.

Passados mais de 20 anos desde a construção da primeira hidrelétrica, e contando atualmente com mais de 20 usinas em operação, o Brasil é uma referência mundial na geração de energia elétrica por meio das águas; e isso vale tanto no que se refere à tecnologia de geração quanto no que diz respeito à experiência acumulada pela engenharia civil nacional para a construção das barragens.

Essa experiência leva as empresas brasileiras a construir usinas de grande porte em países como China e Índia, e de pequeno e médio porte em países como Peru e Bolívia. Uma expertise privilegiada, que deveria ser motivo de orgulho, mas não é o que acontece.

Constata-se no âmbito da sociedade brasileira um sentimento inexplicável de rejeição para com as hidrelétricas, e, uma vez que a desinformação invariavelmente dá a tônica, esse sentimento acaba por ser reforçado e ampliado.

Por outro lado, como a política, ou melhor, os políticos, costumam captar as impressões da sociedade e se esforçam para adotar o mesmo discurso, raramente ou quase nunca uma autoridade pública se expõe na defesa das hidrelétricas, com receio de perder votos.

As implicações da desinformação são desastrosas. A rejeição às hidrelétricas motiva desde balburdias em que se queimam tratores e alojamentos nos canteiros de obra das usinas até uma avalanche de ações judiciais.

Essas ações, diga-se, na maioria das vezes são propostas pelo próprio Estado, ou seja, por procuradores públicos que de forma inexplicável desaprovam a hidroeletricidade, uma energia considerada limpa pelos ambientalistas e pelos países mundo afora, e se apegam ao licenciamento ambiental para tentar reverter a construção das usinas ou, o que é ainda mais espantoso, para impedir a operação de hidrelétricas já construídas.

Basta dizer que um levantamento realizado pela Advocacia Geral da União apontou um total de 38 ações ajuizadas no intuito de atalhar a construção das hidrelétricas de Belo Monte, Tapajós, Teles Pires e São Manoel, todas no Pará. Só contra a usina de Belo Monte existem 27 ações, as quais, segundo a empresa responsável, causaram atrasos e modificações no projeto, que, por sua vez, elevaram o custo da obra: de R$ 9 bilhões, valor em 200, esse custo chegou a cerca de R$ 30 bilhões, hoje.

Não há razão para se arcar com esse ônus. É imperativo que se discuta com a sociedade um fato: nós, brasileiros, temos muitas hidrelétricas a construir.

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