Enquanto as atividades baseadas no agronegócio, como a pecuária e a cana, se consolidam e colocam em risco a sustentabilidade no Acre, a atividade florestal, considerada adequada à realidade social e florestal da região, não vinga.

Na afirmação anterior estão embutidas duas alegações que precisam ser consensuadas. A primeira, de que as atividades produtivas inseridas no agronegócio são de natureza predatória e colocam em risco a sustentabilidade. A segunda, por outro lado, de que as atividades florestais, evidente que somente àquelas realizadas sob as técnicas de manejo florestal de uso múltiplo, são de natureza sustentável.

A razão principal para essa constatação, por sinal mais que suficiente, é que a primeira depende da retirada total da cobertura florestal nativa (leia-se desmatamento), da limpeza da área (leia-se queimada), da exposição do solo aos castigos do clima (leia-se erosão), somente para ficar nos problemas mais conhecidos.

Já as atividades consideradas adequadas à realidade social e ambiental local, como aquelas que se utilizam de recursos florestais e, novamente, são realizadas sob a tecnologia do manejo florestal de uso múltiplo, são sustentáveis pela simples razão (mais que suficiente, diga-se) de não realizarem a remoção da cobertura florestal nativa. Ao contrário, essas atividades têm sua viabilidade, inclusive econômica, vinculada à existência e à manutenção da floresta.

Sendo assim, o quadro no setor primário acreano se firma com a atividade agropecuária no caminho da expansão e da ocupação de novas áreas, enquanto a atividade florestal ainda encontra empecilhos variados à sua instalação e, por isso, perde áreas antes ocupadas.

Ocorre que essas atividades, ancoradas no recurso florestal e inseridas nos ideais de sustentabilidade atualmente preconizados, não conseguem se estabelecer em condições de competir com a expansão da pecuária e da cana.

A atividade florestal é mais complicada, menos atrativa e, o que é pior, menos competitiva. Do ponto de vista do produtor, não há alternativa à agropecuária.

Exemplos variados dão conta da incapacidade de reação da atividade florestal. A borracha ou o setor de elastômeros talvez seja o mais antigo, mais didático e mais triste desses exemplos.

Após os dois históricos ciclos produtivos (final do século XIX e na metade do XX) ocorreu a extinção econômica da produção amazônica, apesar de, já na década de 1990, ter ampliado sua importância social. Mais recentemente, após alguns anos sendo produzida em notas fiscais beneficiárias de subsídios estatais, finalmente foi esquecida. As usinas de beneficiamento primário, que transformam borracha em borracha mesmo, faliram paulatinamente. Primeiro as geridas pelos coletivos cooperados e depois as dos próprios empresários.

A boa notícia é que, um último e bem vindo sopro de esperança para a borracha acaba de surgir com a inauguração da fábrica de preservativos masculinos de Xapurí.

Uma excelente iniciativa, sem dúvida, mas de repercussão limitada para funcionar como contraponto ao agronegócio. Mesmo que consiga funcionar em seu pico de produção, com o poder público adquirindo tudo o que sobrar da exportação para os bolivianos e peruanos, ocupará 700 famílias residentes na Reserva Extrativista Chico Mendes. Ou seja, infelizmente a borracha jamais voltará a ser, para a Amazônia e para o Acre, aquele produto responsável pela riqueza gerada no século passado.

Uma riqueza capaz de competir com qualquer outro produto da agropecuária.

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