Embora venham sendo realizados, nos últimos 40 anos e ao longo de diversas administrações, investimentos elevados na promoção da produção rural no Acre, o retorno para a sociedade desse investimento é bastante questionável.

Por sinal, chega a ser um tanto incompreensível o espaço conferido a essa produção primária em períodos eleitorais. Ora, levando-se em conta que o voto dos produtores rurais é disperso e numericamente pouco relevante, ao que tudo indica, a população urbana gosta de votar em quem aparece como defensor de uma produção rural sofrível.

Enfim, o ponto é que a comida que chega à mesa dessa população urbana não vem da produção realizada no estado. E embora esse fato seja (ou deveria ser) de conhecimento geral, ao que parece, todo mundo – o povo, os candidatos, os governos eleitos –, todo mundo espera que um dia o Acre se torne um grande produtor rural. Só isso explica os votos.

E também os investimentos. É provável que, em termos per capita, o Acre figure entre os 10 estados brasileiros que mais investem na promoção da produção rural.

Assumindo-se tal premissa, duas perguntas surgem de pronto. A primeira diz respeito à posição que a produção agropecuária do Acre ocupa em relação à produção dos demais estados amazônicos; a segunda se refere às perspectivas de médio prazo para o Acre se tornar um “player” (como diz o pessoal do agronegócio) importante nesse mercado.

Quanto à primeira pergunta, o Acre, exceto pela pecuária de gado, ostenta um dos piores indicadores amazônicos na produção dos tradicionais arroz, feijão, milho e macaxeira. Como não há qualquer indício de diversificação dessa produção ou de inclusão de commodities lucrativas, como soja e algodão, o Acre continuará apresentando esses indicadores – para sempre, esclareça-se.

Portanto, e já respondendo à segunda pergunta, as perspectivas são inexistentes e deveriam, por si, justificar uma discussão a respeito dos rumos que deve tomar, no estado, a economia oriunda do setor primário.

Duas constatações, o que significa que são fatos e não conjecturas, são simples de entender e evidenciam com clareza por que o Acre nunca irá se tornar um produtor rural de peso: (a) inexistência de área agriculturável; (b) inexistência área disponível para ampliação do desmatamento.

De acordo com estudos realizados no âmbito do Programa de Zoneamento Ecológico-Econômico, em mais de 80% do território do Acre os solos não suportam mecanização intensiva. Ou seja, excluindo-se alguns locais onde atualmente se produz e com bons resultados, em especial nos municípios de Acrelândia e Plácido de Castro, não existe terra para mecanização no estado.

Ora, sem mecanização não há produção agropecuária expressiva, e isso também é fato. Nenhum lugar do mundo se tornou importante para a indústria do agronegócio sem mecanização. Só as máquinas conferem a produtividade requerida nesse tipo de empreendimento, cujos preços são tabelados no mercado internacional.

Por fim, considerando-se que uma parte significativa dos municípios do Acre (onde não por acaso se encontram os solos mecanizáveis) ultrapassou os 20% de área legal passível de desmate, também já não mais existe terra disponível para o agronegócio.

Certamente haverá quem argumente que a legislação pode ser alterada, da forma como ocorreu com o Código Florestal; todavia, quando se trata de mudar a lei para permitir maior porcentagem de área desmatada na Amazônia, o custo político costuma ser alto.

Sem perspectiva no agronegócio, o Acre vai continuar restrito aos costumeiros arroz, feijão, milho e macaxeira de subsistência. A saída está onde sempre esteve: na floresta.

 

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