No Brasil, os que gostam de desacreditar as pesquisas científicas costumam obter seus quinze minutos de fama ao contestar os resultados apresentados pelos cientistas que se dedicam ao estudo sobre o aquecimento global e as consequentes mudanças no clima.

Na verdade, o expediente de pôr em xeque as informações divulgadas pelo Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC, na sigla em inglês) tem sido corriqueiro nesse país que cultua a desconfiança: não à toa, a propalada existência de espiões e biopiratas impregna o imaginário popular de maneira persistente e equívoca.

O IPCC, como se sabe, é formado por mais de 3.000 cientistas, que receberam mandato da ONU para estudar as mudanças climáticas e publicar relatórios periódicos, cujo conteúdo chama a atenção dos países para a existência de um processo de aquecimento do planeta, causado pelas atividades produtivas vigentes e que sustentam os atuais níveis de consumo da humanidade.

Pois bem. A despeito das credenciais ostentadas pelo IPCC, vez ou outra alguém ganha espaço na mídia nacional rebatendo os resultados apresentados por esses cientistas e garantindo que o mundo – incluindo-se o Brasil, obviamente – estaria sujeito a um processo de resfriamento, e não de aquecimento.

Portanto, não haveria mudança no clima, nem tampouco perspectiva de catástrofes, e todas os eventos climáticos que vêm ocorrendo não passariam de uma transformação natural e previsível na história da existência do planeta.

Não raro, para esses arautos da desconfiança, as conclusões do IPCC seriam tendenciosas, uma vez que procedem de estudos levados a cabo por estrangeiros. Vale dizer, como se trata de informações suscitadas por cientistas a serviço de potências com interesses escusos em relação ao Brasil, não mereceriam crédito.

Todavia, diante da publicação, em 09 de setembro último, do relatório produzido pelo Painel Brasileiro de Mudanças Climáticas – formado, diga-se de passagem, exclusivamente por cientistas brasileiros – esse argumento já não pode ser levantado.

O Painel nacional foi instituído pelo governo brasileiro em 2009, com a missão de rever, analisar e aplicar as metodologias empregadas pelo IPPC e que resultaram no diagnóstico de um processo permanente e inexorável de aquecimento global. Depois de três anos de pesquisas, os cientistas brasileiros concluíram que sim, o aquecimento global é uma realidade científica também no Brasil.

Para a Amazônia, o cenário é, no mínimo, estarrecedor. Os cientistas brasileiros preveem, até 2040, diminuição de 10% no volume de chuvas, além de aumento na temperatura, estimado entre 1 e 1,5º C.

O quadro se agrava de 2041 a 2070, estando prevista redução de 25% a 30% nas chuvas e ampliação da temperatura entre 3 e 3,5°C. De 2071 a 2100, a situação será ainda pior: redução de 40% a 45% nas chuvas e temperatura mais alta entre 5 e 6°C.

Também foi objeto de análise pelo Painel brasileiro as implicações do aquecimento global sobre as atividades produtivas exercidas no país. E, embora os produtores envolvidos com o agronegócio não acreditem nas tais mudanças climáticas, essa atividade, seguramente, será a mais afetada.

O fato é que as principais consequências do aquecimento global são aumento da temperatura e redução da quantidade de chuvas. Ora, considerando-se que a oferta de água e o equilíbrio na temperatura são fatores cruciais para o sucesso do agronegócio, os descrentes, em algum momento, terão que reavaliar suas posições.

Não há dúvida científica: se o país não zerar o desmatamento, a crise ecológica será inevitável. Simplesmente, já não há mais tempo para desconfianças.

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