Antes de falar da lama em si, que não é tóxica, cabe ressaltar que o incidente ocorrido na cidade de Mariana, em 2015, a despeito do significativo impacto causado ao meio ambiente, não chegou a ser uma tragédia ambiental – quanto mais “a maior do país”. O detentor desse lamentável título, tanto em termos de dimensão quanto de prejuízos econômicos e ecológicos, é o desmatamento que há 40 anos destrói a floresta na Amazônia.

Para essa tragédia, todavia, os meios de comunicação não dão a mínima – e apesar de ser quantificada com precisão científica desde 1988 pelo reconhecido Inpe, a taxa anual de desmatamento continua a persistir em níveis inadmissíveis.

Voltando à lama que não é tóxica (importante repetir), surpreende o modo inusitado com que a mídia se portou em relação a essa informação – que é fundamental para entender a dimensão das tragédias de Mariana e Brumadinho.

Ainda mais surpreendente foi a forma como os órgãos estatais de monitoramento e controle, instituições mantidas com custos elevados para a sociedade, reagiram, tanto em 2015 como agora, à histeria da imprensa.

Acreditando na máxima de que opinião publicada é o mesmo que opinião pública, negou-se às empresas o benefício da dúvida. Na verdade, parece não haver nenhuma dúvida quanto à intenção criminosa dos dirigentes da Samarco e da Vale.

Assim, uma tragédia humanitária – e não ecológica – se transforma em espetáculo sensacionalista, com direito a perseguição ao vivo, apreensão de computadores, divulgação de dados empresariais privados, e mais uma série de atos que evidenciam despreparo institucional para tratar do desastre – e investigar suas causas, obviamente – sob a seriedade e circunspecção necessárias.

Por outro lado, ativistas ambientais, daqueles que pensam que mais vale se jogar na frente do trator do que acreditar na Engenharia e na informação técnica, são alçados à condição de especialistas pelos jornalistas, no propósito de assegurar uma suposta toxidade à lama.

Optar pelo depoimento do abnegado ativista ambiental, muito bem intencionado e pouco informado, sem a devida referência técnica, como prefere a imprensa, além de não contribuir para encontrar uma solução, expõe o país de maneira vexaminosa à opinião pública internacional.

Talvez exista um ódio velado às empresas, ao capital, aos executivos que recebem salários elevados, e assim por diante. Talvez esse ódio seja acalentado pela mídia e ajude a impregnar a percepção da sociedade – fazendo com que, no final das contas, os problemas se perpetuem.

Poucos se lembram, mas a Vale era uma empresa estatal gigantesca, que (ainda bem!) foi privatizada em 1997. Imagine o escândalo se a tragédia fosse recheada por denúncias de corrupção, casos de nepotismo, fisiologismo e outras pragas que costumam vir no encalço das estatais.

Por sinal, a empresa, logo após o incidente, demonstrou presteza para minimizar o sofrimento das famílias atingidas e para resolver o problema das barragens de maneira definitiva. Mas isso, pelo jeito, não agrada a ninguém.

Sim, Vale e Samarco devem ser responsabilizadas, as famílias devem ser indenizadas, as barragens devem ser monitoradas, contudo, no fundo, o que transparece é uma “sede de sangue”, um ânimo hostil, um anseio pelo fim das empresas. Mas isso interessa a alguém?

 

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