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Desmatamento não é problema para os nove governadores da Amazônia

Ecio Rodrigues & Aurisa Paiva, 28/04/2024

Reunidos em Rio Branco no Acre em sua 27ª edição, de 2024, o Fórum de Governadores da Amazônia terminou dia 12 de abril último, sem que em nenhum momento se pronunciasse ou escrevesse a palavra “desmatamento”.

Não é de hoje que os governadores e os prefeitos, eleitos e com mandato no Poder Executivo dos nove estados amazônicos, se negam a reconhecer a destruição da floresta como o principal, senão único, entrave real para a economia, desenvolvimento e a efetiva ocupação produtiva da região.

Preferindo expressões genéricas do tipo “conquista do desenvolvimento sustentável”, em busca da sustentabilidade”, ou as mais modernas “enfrentamentos dos eventos climáticos extremos” os gestores municipais e estaduais discursam e conseguem ludibriar jornalistas pouco preparados evitando, assim, colocar o dedo na incurável ferida do desmatamento.

Em um documento sofrível intitulado “Carta de Rio Branco” (que deve fazer o genial Barão de Rio Branco se remover no túmulo), os governadores aprovaram oito objetivos, ou ideias, ou diretrizes, ou seja lá o que for, que não mencionam o desmatamento e que todo mundo sabe não possuir nenhum significado no cotidiano de ninguém.  

Na realidade escamoteada pelo Fórum de Governadores, em todos os recantos da Amazônia, sem exceção, áreas de florestas foram desmatadas em 2023, da mesma maneira que em nenhuma cidade houve desmatamento zero, com destaque para os destruidores campeões de sempre: Rondônia, Pará e Mato Grosso.

Entretanto, dentre todos os locais em que se desmatou em 2023 sem a menor preocupação com o futuro, talvez o caso mais emblemático seja exatamente o do anfitrião para o 27º Fórum de Governadores.

No Acre, os gestores públicos, estaduais e municipais, vivem no universo paralelo que permite acreditar na existência de uma economia baseada no agronegócio da pecuária extensiva que se encontra em franca expansão sem precisar, pasmem, de desmatamento.

Dado que é impossível e bastante óbvio a criação de gado ou o cultivo de pasto embaixo de uma floresta tropical densa e úmida, as autoridades do Acre defendem o projeto econômico de um agronegócio, que se resume à pecuária extensiva com o boi solto no pasto, que não desmata e por isso imaginam possuir certo grau de sustentabilidade.

Sendo que a estagnação da economia e a destruição florestal representam a dura realidade dos acreanos.  

Finalmente, não precisa de muito esforço intelectual para entender que a única possibilidade de desenvolvimento sustentável no Acre e na Amazônia depende do desmatamento zero, contudo, como bem sabem os alcoólatras, se ninguém sequer reconhece o problema, só resta perdoá-los por não saberem o que dizem.

Nada mais triste e desanimador que assistir à comitivas do governo do Acre participando de reuniões internacionais, inclusive sobre o Acordo de Paris que é considerado o mais expressivo pacto mundial contra o desmatamento, defendendo o absurdo de um agronegócio que depende da ampliação do desmatamento para ganhar escala e se viabilizar.

Um misto de insensatez e estupidez infinita que coloca todos nós em um universo paralelo e, o pior, cada vez mais isolado e distante do mundo!  

 

Acre será ponto cego nas Rotas de Integração do Mercosul

07/04/2024

Nada mais compreensível que a sociedade acreana se distancie do debate, complexo diga-se, sobre o processo de integração da economia estadual na região amazônica e, por óbvio, com os países fronteiriços.

Entretanto não há justifica para que os gestores de governo e os políticos com mandato na Assembleia Legislativa e no Congresso Federal (deputados e senadores), não se envolvam na definição das obras para a logística que irá promover a integração econômica com o Peru e a Bolívia, por exemplo.

Na expressão “ponto cego” do título reside a definição mais acertada sobre o destino da economia no Acre, uma vez que o Mercosul aprovou cinco Rotas de Integração comercial que, em um olhar mais aproximado, coloca a economia estadual e uma situação, no mínimo, preocupante.

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Após recorde de calor em 2023, ONU alerta: 2024 pode ser pior

24/03/2024

Segundo o relatório sobre o “Estado do Clima Global” no geral o calor ou a média de temperatura do planeta foi, em 2023, a mais elevada de uma série histórica robusta de estatísticas observadas em 174 anos de medições e chegou a 1,45º superiores à temperatura no período anterior à revolução industrial.

Não precisa ser cientista para perceber que o Alerta Vermelho dos meteorologistas da ONU pretende balançar os países, ou melhor, os políticos que estão no poder, foram eleitos e, por conta disso, devem assumir a liderança de projetos de descarbonização de suas economias.

E num raríssimo jogo de ganha-ganha deveremos construir mais hidrelétricas na Amazônia, reduzir o desmatamento e avançar na nova economia.

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Alagação termina no Acre, vamos falar da seca?

17/03/2024

Sentimentalismos à parte, alagação tem tudo a ver com desmatamento.
Investir no agronegócio, que, no caso acreano, se resume quase que exclusivamente na pecuária extensiva, significa incentivar o desmatamento, afinal, cada boi sobrevive, em média, de dois hectares de pasto.
Avançando um pouco mais no raciocínio, nos dois hectares de pasto usados para criar apenas um boi havia antes uma floresta tropical com mais de 400 árvores e arbustos que recebiam o impacto das chuvas antes dos rios.
Finalizando o raciocínio, o desmatamento para plantar capim causa alagação.

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Plantar um trilhão de árvores para reduzir temperatura do planeta

04/02/2024

Com altíssima concentração de carbono na madeira das árvores, estima-se, de maneira bastante rudimentar, que um bloco sólido, de madeira contendo 100 quilômetros de lado, concentraria quase a totalidade de carbono existente na atmosfera.

Ao manter essa quantidade de carbono estocado no bloco de madeira, o aquecimento do planeta seria estancado e nós não correríamos o risco de morrer de calor.

Essa é uma ideia fácil de explicar que se baseia na proposta, encabeçada pelo engenheiro florestal alemão Tim Christophersen, de plantar um trilhão de árvores no mundo até 2030.

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Em 2023, reversão na tendência de alta do desmatamento recoloca Amazônia no rumo da sustentabilidade

01/01/2024

Por mais que seja assustadora, a destruição de 9.001 km2 de florestas na Amazônia, no período compreendido entre 01 de agosto de 2022 a 31 de julho de 2023, foi recebida com otimismo pois pode significar a quebra em uma tendencia de alta que ganhou força a partir de 2019.

Considerado um ano histórico, o ciclo de desmatamento aferido entre 2011/2012 foi o único, em mais de 35 anos de exatas medições realizadas pelo Inpe, em que se destruiu área inferior a 5.000 Km2 de florestas na Amazônia.

Ainda é cedo para otimismo e cinco meses do período analisado esteve à cargo do incompetente governo de plantão em 2022 e abarcou um período eleitoral, duas condições bastante favoráveis para motivar o produtor rural a desmatar.

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Selo verde do FSC comprova que floresta certificada dá lucro

28/01/2024

Certificar uma área de terra coberta por muitas árvores, em que a floresta pode ter sido cultivada por alguém ou regenerada de forma natural, significa depositar naquela área um selo verde. Isto é, uma garantia de que o produto que sai dali não acarretou danos para comprometer sua perpetuidade ou regeneração eterna.

No caso do FSC, com o selo sendo impresso por mais de 30 anos em uma série enorme e variada de produtos, o emblema de uma árvore estilizada com traços de que tudo está Ok naquela indústria alcançou significativa capilaridade.

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2023, o ano em que o aquecimento do planeta chegou até nós

14/01/2024

Há uma data que pode ser considerada inicial na discussão sobre a temperatura do planeta. Foi quando a ONU em 1992 organizou no Rio de Janeiro a assinatura de três convenções (do clima, da biodiversidade e da Agenda 21).

Naquele momento, ainda pairava uma série de dúvidas acerca da taxa de aumento da temperatura do planeta e os consequentes impactos, por exemplo, do degelo das calotas polares para as sociedades e ecossistemas mundo afora.

Foi com a publicação do relatório do IPCC de 2007 e o importante documento elaborado pelo governo da Inglaterra sobre os impactos econômicos do aquecimento que tornou o princípio da precaução desnecessário.
Vários eventos extremos de elevação de temperatura começaram a ser observados desde o final do século passado e inicio do atual.

Em 2015 o mês de julho foi o mais quente da história da humanidade. Veja bem, não foi o mês de julho e sim, de todos os meses, o de maior temperatura até então.

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Petróleo será explorado na Margem Equatorial e onde mais for viável até 2050

25/02/2024

Em 2003, embora muitos cientistas, inclusive aqueles que atuavam junto a Comissão Técnica Nacional de Biossegurança, CTNBio, esclareceram que os transgênicos haviam sido mais estudados que os produtos geneticamente melhorados por cruzamentos ao longo do tempo e que não havia dúvida sobre sua segurança para consumo, o Ministério do Meio Ambiente fez uma confusão danada.
Deixando os transgênicos de lado, o conflito sobre a exploração da margem equatorial, uma área imensa de águas profundas localizadas no Oceano Atlântico muito acima do litoral do Amapá, mas que para o Ibama e alguns jornalistas desinformados faz parte da foz do Rio Amazonas, coloca de um lado o Ministério do Meio Ambiente e de outro o Ministério das Minas e Energia.
Não à toa, o parecer da Advocacia Geral da União – AGU, publicado recentemente, deixa claro que a exigência do Ibama por estudos denominados de Avaliação Ambiental de Área Sedimentar não faz sentido agora, na fase de prospecção da viabilidade da exploração de petróleo na Margem Equatorial.

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Industrializar a biodiversidade florestal da Amazônia é a saída

18/02/2024

Várias razões explicam a pouca industrialização de produtos da biodiversidade florestal da Amazônia e as dificuldades criadas pelos órgãos de controle ambiental, sobretudo o Ibama e ICMBio, estão entre elas.
Quando adicoinadas aos riscos inerentes ao retorno do capital a insegurança jurídica decorrente da hostilidade estatal torna o investimento particular quase inacreditável.
É notória e reiterada tal qual ladainha pelo empresariado regional a hostilidade dos técnicos e fiscais da esfera ambiental nos três níveis de governo (federal, estadual e municipal) quando requisitados para elaborar parecer sobre algum tipo de investimento privado na Amazônia.

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Europa não comprará carne de área desmatada na Amazônia após 2020

31/03/2024

Embora a regra seja válida para importações de todos os continentes o recado para os produtores localizados na Amazônia parece bastante claro.
Reduzir a fatia de mercado e a consequente competitividade da pecuária extensiva, atividade que ocupa aproximados 80% da área destinada para a agropecuária, contribuirá no curto prazo para o desmatamento zero da Amazônia.

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Fim do Florestania no Acre: Com ZEE governabilidade foi capturada pelo agronegócio da pecuária extensiva

05/05/2024

Difícil estabelecer, com precisão, a data em que o Projeto Florestania deixou de priorizar a biodiversidade florestal visando o resultado eleitoral, contudo, a aprovação da Lei 1.904 que instituiu o Zoneamento Ecológico e Econômico, ou ZEE, em julho de 2007 no Acre, representa marco histórico indiscutível.
Em síntese, mesmo que em um primeiro momento a Capacidade de Governo para concretizar o Projeto Florestania deu ênfase na valorização da biodiversidade florestal como principal ativo econômico acreano, o ZEE concretizou o contrário.

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Fim do Florestania no Acre: Bancos apoiaram a saída pela floresta

14/04/2024

O Projeto Florestania optou pela generalidade sendo omisso em decidir entre o apoio ao agronegócio da pecuária extensiva ou ao uso econômico da biodiversidade florestal como referência para o modelo de desenvolvimento.
Sem contar com a orientação e determinação dos líderes políticos que conquistaram cinco sucessivos mandatos eleitorais, o embate biodiversidade versus pecuária no Projeto Florestania foi vencido no momento da execução segundo o pensamento de cada equipe de técnicos que atuava em órgãos distintos.
Se a equipe técnica que conduziu a Capacidade de Governo dos primeiros anos, mesmo com visível timidez, pendeu para o modelo de desenvolvimento da biodiversidade florestal e o desmatamento zero, qual a razão para voltar as atenções para o agronegócio da pecuária no período posterior a 2006?

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Fim do Florestania no Acre: Técnicos, ONGs e Capacidade de Governo     

03/03/2024

Como analisado em artigos anteriores o Projeto Florestania enfatizou o resgate de valores culturais de um acreanismo adormecido, sem decidir por apoiar o agronegócio da pecuária extensiva ou a exploração da biodiversidade florestal enquanto modelo de desenvolvimento econômico para o Acre.
Antes do Florestania ser alçado à condição de Projeto de Governo em 1999, um conjunto de seis organizações não governamentais (ONG), ou da sociedade civil para usar uma denominação menos preconceituosa, discutiram e detalharam vários pontos do que chamavam de “saída econômica pela floresta”.
Não à toa a invenção da Resex e a concepção da tecnologia do manejo florestal comunitário são dois legados do Acre para a política florestal na Amazônia.

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