Entre todos (nacionalismo, populismo, estatismo, intervencionismo…), o moralismo pode ser o pior dos legados da era das delações.

O moralismo banaliza no âmbito da sociedade um abominável sentimento de desconfiança. E num momento da historia nacional em que a desconfiança – sobre indivíduos, empresas, instituições – parece ser regra, a urna eletrônica não haveria de escapar ilesa.

Desde que o voto eletrônico foi empregado em larga escala pela primeira vez, no pleito municipal de 1996, a segurança dessa tecnologia foi colocada à prova em 11 eleições consecutivas, e – ainda que os insatisfeitos com os resultados tenham teimado em negar – foi aprovada em todas elas.

Todas as auditorias realizadas nos períodos pós-eleição, pelas mais variadas equipes de peritos em tecnologia de informação (oriundas da iniciativa privada, de instituições de pesquisas, de universidades públicas) comprovaram a inviolabilidade do sistema de votação eletrônica.

Não à toa, o Brasil emprega o voto eletrônico em 100% das urnas e 100% das eleições. Uma tecnologia nacional, que se aprimorou nesse intervalo, sendo hoje exportada para outros países e gerando muitos empregos.

Mais importante: com o voto eletrônico, a apuração das eleições já não para mais o país.

Os mais jovens não lembram, entretanto, a realização de eleições a cada 2 anos se tornou algo inviável para os brasileiros por razões que, agora, depois de 20 anos de urna eletrônica, são evidentes: custo financeiro, desgaste político e instabilidade social.

Para explicar melhor é preciso entender como era antes.

Na seção de votação, os eleitores recebiam a cédula eleitoral em papel e tinham que preencher, à mão, todos os campos da cédula.

Numa eleição para presidente como a de 2018, o eleitor tinha que escrever o número de um deputado federal, de um deputado estadual e de dois senadores, e ainda marcar um candidato à presidência e outro candidato ao governo estadual.

Imagine-se o tempo que levava cada voto e o tamanho das filas que se formavam fora das seções de votação.

Depois vinha a contagem, realizada por milhares de cidadãos e servidores, num trabalho de escrutinação que levava até semanas.

Evidente que os custos financeiros eram pesados, e – tendo e vista que cada etapa do procedimento envolvia elevado risco de violação e anulação – a vulnerabilidade política e social também era grande.

Todo o processo era envolto em desconfiança. No imaginário da população, era simplesmente impossível ocorrer eleição sem algum tipo de falcatrua.

A cada pleito, crescia o número de urnas impugnadas, e era comum circularem histórias de urnas que teriam desaparecido. Todos os candidatos perdedores, por sua vez, pediam recontagem, acusando os vencedores de fraude eleitoral.

Imprimir o voto depositado em urna eletrônica, como defendem, de maneira irresponsável, políticos e parte do jornalismo, será o reconhecimento de que não cremos no que criamos.

Mas, que não se esqueça: a alternativa é o escrutínio manual.

Download .DOC

xxxx