Diante da alagação que ocorre em Rondônia, muitos se voltam contra as duas hidrelétricas instaladas no rio Madeira; outros aproveitam o momento para também se pronunciar contra a construção da usina de Belo Monte.

Sem levar em conta a extemporaneidade dessa insurgência – afinal, as duas hidrelétricas do Madeira já estão em plena operação, a um custo superior a 12 bilhões de reais, e a de Belo Monte está quase pronta e em breve entrará em funcionamento -, o fato é que o ataque a essas usinas é apenas um indicador da profunda indisposição com que a sociedade encara a hidroeletricidade; e aí entra em cena um elemento muito perigoso: a desinformação.

Diga-se, aliás, que, a despeito da diretriz seguida pelo Estado brasileiro desde a década de 1970, no sentido de priorizar a geração de energia elétrica por meio da força d’água, até hoje nenhum governo foi capaz de esclarecer a população quanto à importância, sob os aspectos tanto econômico quanto ambiental, da construção de hidrelétricas para o país.

O mesmo pode ser dito dos políticos e dos partidos políticos. Provavelmente por receio de perder votos (é sempre essa a motivação), todos sustentam o coro do questionamento das obras e, por meio desse questionamento, costumam obter espaço na mídia – que, mesmo depois da construção de mais de uma centena de usinas em território nacional, ainda põe em xeque esse tipo de empreendimento e levanta a dúvida: será que devemos construir hidrelétricas?

Pois, no mundo inteiro, em qualquer região onde haja um rio com queda suficiente para fazer mover uma turbina e gerar eletricidade (e a tecnologia tem possibilitado o aproveitamento de quedas cada vez menores), é certo que uma usina hidrelétrica será construída; porque, na absoluta maioria das vezes, esse é o melhor caminho para a produção de energia elétrica.

Aqui no Brasil, é comum verem-se pseudoentendidos advogando em defesa do vento e do sol, como alternativa ao uso sustentável da água para energia elétrica. Novamente, é a desinformação fazendo estragos.

Uma ligeira análise no mapa de ocorrência de ventos no mundo demonstra que o Brasil é um dos piores locais do planeta para a produção de energia eólica. Embora a ausência de ventos represente risco diminuto para ocorrência de furacões e outras mazelas relacionadas, trata-se de uma natural desvantagem quando se pensa em geração de energia; fazer o quê?

Sem vento, ou com pouquíssimas possibilidades de geração de energia eólica (em pontos específicos no Nordeste e no Sul), restaria ao país a opção predileta de todo ambientalista: o sol.

Não entrando no mérito do que seria mais ecológico – o aproveitamento da água ou do sol – nem levando em consideração o custo impraticável da tecnologia vinculada à geração de energia solar, a verdade é que, para esse fim, também o sol não é tão abundante no Brasil como se costuma pensar. No caso da Amazônia, por exemplo, não há luz de sol suficiente para garantir o abastecimento de uma cidade do porte de Xapuri.

Assim, deixando-se de lado o sol e o vento, uma vez que nenhuma dessas fontes irá suprir a demanda atual por energia elétrica, a alternativa à construção de hidrelétricas é continuar queimando óleo diesel nas usinas termoelétricas, a um custo econômico e ambiental simplesmente intolerável.

Não precisa ser especialista para concluir que a hidroeletricidade é a saída. A pergunta a ser feita, portanto, não é se devemos construir novas usinas, mas por que a sociedade é levada a crer que as hidrelétricas são nocivas.

Com a impressionante cifra de cerca de 120 hidrelétricas (felizmente) construídas no país, seria sensato que nós, como sociedade, superássemos essa discussão. Infelizmente, não conseguimos.

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