Poucos prestaram atenção, mas o denso e excelente estudo sobre planejamento estratégico contratado pelo governo estadual e elaborado pelos especialistas da Fundação Dom Cabral, publicado em maio último, trouxe revelações importantes para o desenvolvimento no Acre.

Empregando metodologia robusta e consagrada em literatura sobre a definição de cenários para planejar a economia e o desenvolvimento de uma região os peritos da Dom Cabral conseguiram detalhar com precisão a realidade econômica do Acre e, o melhor, as perspectivas para os próximos dez anos, considerando o período que vai de 2022 até 2032.

Entender a realidade é sempre o primeiro passo para se pensar no futuro.

Não à toa parte considerável do estudo foi dedicado ao diagnóstico da produção rural no Acre até 2020, incluindo a situação social e a análise das estatísticas relacionadas à sustentabilidade do desenvolvimento, sempre com destaque para as perigosas taxas anuais de desmatamento com assustadora tendência de elevação observada a partir de 2018.

A conclusão é simples, no ritmo atual de destruição de terras cobertas com florestas, o Acre não honrará o compromisso assumido pelos brasileiros perante a ONU e os mais de 190 países quando da assinatura do Acordo de Paris, em 2015.

Nesse ponto, por sinal, os especialistas apresentaram um achado de importância decisiva para os rumos do progresso e do desenvolvimento no Acre.

Contrariando a máxima de que o Acre possui vocação para o agronegócio que depende da ampliação do desmatamento, defendida à exaustão e com forte retorno eleitoral nas últimas três eleições, o retorno financeiro obtido em cada hectare ocupado pela produção agropecuária, com destaque óbvio para a criação extensiva de boi, equivale a R$ 1.082,88.

Por outro lado, o ganho por cada hectare não desmatado, em especial no mecanismo conhecido por REDD+ pode chegar, em uma estimativa considerada bem tímida, a R$ 8.986,54.   

Explicando melhor, o hectare de floresta em pé pode render ao Acre 730% mais que a mesma área destinada ao gado solto no pasto com capim.

A análise dos pesquisadores contratados pelo governo não para por aí.

No capítulo sobre as cadeias produtivas consolidadas, leia-se pecuária extensiva, repete-se a orientação sobre a necessidade de reinvenção e, o mais importante, o imperativo de redução drástica e rápida da participação da pecuária extensiva na composição do PIB estadual.

Para quem leu o documento de planejamento elaborado com excelência técnica pela Fundação Dom Cabral fica a impressão de que os atuais gestores públicos estaduais não entenderam a orientação repetida à exaustão.

Tirar o suporte da política pública dada ao boi e redirecionar os recursos para incentivar o mercado de carbono e o REDD+ é o caminho apontado com uma clareza inusual em estudos de planejamento estratégico desse nível.

A pergunta a ser feita também é simples:

O que o governo fará com as conclusões? Onde fica o desprezado Instituto de Mudança Climática, peça chave para o Acre de 2032?

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