Alguns historiadores chamam de aventura, outros de projeto de internacionalização da Amazônia, outros ainda de estratégia de expansão do industrialismo e, alguns poucos, como exemplo de modelo civilizatório, todos podem estar certos, mas é fato que as experiências da Ford Motor Company nas cidades paraenses de Fordlândia e Belterra, não podem ser esquecidas.

Também não podem ser reduzidas em importância, quando se tenta fazer parecer que, o principal motivo do fracasso, estaria no fato de que seu idealizador: Henry Ford, a despeito de todas as adversidades existentes no ecossistema amazônico, teimou em não respeitar as características ecológicas e sociais locais. Não foi bem assim.

Primeiro porque a companhia que inventou a linha de montagem, o sincronismo, a automação e concebeu os princípios basilares da indústria automobilística acreditava que a descentralização das etapas necessárias à produção de um automóvel deveria ocorrer em lugares e indústrias separadas.

Sendo assim, da mesma forma que teria sentido em plena floresta amazônica construir, não uma, mas duas cidades modelo, para produção de borracha, era igualmente possível a instalação de cidades, no próprio solo americano para produção de madeira que seria usada nas caldeiras e na fabricação do carro. Ford, antes de vir para Amazônia, construiu duas cidades madeireiras: Pequaming e Alberta.

Esse era o jeito de agir da companhia por ordem de seu dono. Associar cidades, onde a civilização pudesse ser revista, à produção de parte da enorme lista de matéria-prima requerida para fabricar um carro, era uma diretriz na qual Ford se apegava.

Evidente que os desafios na Amazônia não seriam iguais aos que a companhia enfrentou na fundação de suas outras cidades em Michigam por exemplo. No entanto, as dificuldades enfrentadas em todo período no qual a empresa esteve às voltas com a realidade amazônica, que durou de 1928 a 1945, geraram fracassos que não podem ser creditados à falta de domínio da realidade local pelos engenheiros da Ford.

Pelo contrário. Os resultados são facilmente visíveis. O padrão de cidade construída na Amazônia, com casas no modelo de classe média americana totalmente erguidas em madeira, hospital com atendimento médico permanente para doenças tropicais, escolas, campo de golfe e cinemas, não foi em nenhum momento da história da ocupação da Amazônia tentado novamente.

Comparar a experiência da Ford, que encantou Getulio Vargas, com qualquer outro grande projeto que tenha se aventurado por essas bandas, como o Projeto Jari, por exemplo, é impossível. Nada se compara ao investimento social e civilizatório pretendido por Ford. Algo que não aconteceu e que, tudo indica, não acontecerá novamente.

Além dos problemas relacionados à adaptação da população, dos trabalhadores, a esse novo padrão de cidade, que engana-se quem pensa que eles não gostavam, a empresa teve que enfrentar todas as conseqüências comuns ao processo de domesticação de espécies oriundas do ecossistema florestal da região.

O mal das folhas, causado por um fungo, destruiu várias vezes os plantios em linha. Mas não só o fungo. Lagartas, besouros, vespas, grilos e outros insetos também faziam sua parte. Para se defender das pragas a empresa foi buscar sementes de seringueiras no Acre, para encontrar espécimes resistentes.

Chegou-se ao que se tinha da mais avançada tecnologia para a época, ao montar a seringueira ideal, resistente e de alta produtividade, composta da raiz de um espécime, do caule de outro e a copa de um terceiro.

Quando as cidades foram vendidas ao Ministério da Agricultura por 250 mil dólares, após 20 milhões investidos, o mal das folhas estava sob controle e a domesticação da seringueira na Amazônia dava um passo definitivo.

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