O argumento da fome já não justifica a destruição das florestas no mundo. Tudo indica que os prejuízos, inclusive econômicos, acarretados pela substituição das áreas florestais em solos para produção agropecuária, finalmente, superaram a urgência política do combate à fome.

Ocorre que enquanto a fome se concentra em determinada região, ou seja, é localizada, a remoção das florestas, em qualquer lugar do mundo, põe em risco a manutenção da diversidade biológica, o abastecimento de água e, o mais importante, o equilíbrio climático do planeta. Por isso, se o problema da fome é local, o da floresta é global.

Adicione-se aí o fato de existir, comprovadamente, uma estreita vinculação entre os vários tipos de florestas existentes no mundo e a redução do efeito estufa e do conseqüente aquecimento global. A formação de florestas, ou mesmo a inibição de desmatamentos em florestas nativas, tem sido apontada como o melhor mecanismo para retirar fumaça (CO2) da atmosfera e, assim, resolver o problema do efeito estufa. Como esse tema do desequilíbrio climático foi alçado à condição de problema ambiental, econômico e social de urgência máxima, a manutenção das florestas foi igualmente elevada a níveis de prioridade absoluta para todos os países.

Mas e a fome localizada, como resolver?

Primeiro é preciso uma constatação importante: não há falta de comida no mundo. A área destinada à agropecuária, atualmente existente, isto é, que já foi desmatada, é mais que suficiente para produzir toda a comida que a humanidade necessita.

A tese segundo a qual a demografia cresceria em progressão geométrica enquanto a oferta de alimentos cresceria segundo uma progressão aritmética, conhecida como a tragédia malthusiana (numa referência ao pastor e economista inglês Thomas Malthus, que a formulou no século dezoito), não se concretizou em nenhum dos dois postulados.

Tanto as populações humanas no planeta, por várias razões, tendem a se estabilizar, conforme afirmam os demógrafos por volta de 2020, quanto a produção de alimentos atinge níveis de produtividade jamais vistos, graças à revolução verde.

A vida moderna, sobretudo em áreas urbanas (e a urbanização é uma tendência mundial) fez com que as taxas de fecundidades decaíssem a níveis preocupantes, inferiores à média de dois filhos por casal. A Europa, por exemplo, depende da migração de mão-de-obra de países em desenvolvimento, para fazer funcionar sua economia, apesar das elevadas vantagens que o poder público oferece à procriação.

Por outro lado, os avanços tecnológicos obtidos, tanto na agropecuária mecanizada quanto na denominada agricultura de enxada, são de tal ordem que a produtividade por hectare, sobretudo dos gêneros de primeira necessidade (arroz, algodão, milho, soja …) parece ter chegado ao seu limite. Sem falar nas possibilidades da biotecnologia e dos vilões transgênicos.

Todavia, fazer com que os alimentos cheguem às fomes localizadas é um problema de logística e, claro, econômico que precisa ser resolvido com urgência.

Uma urgência que, todavia, jamais justificará a destruição de florestas.

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