O Projeto de Governo, em conjunto com a Capacidade de Governo e a Governabilidade compõe o tripé que, segundo o economista chileno Carlos Matus, quando funcionam em equilíbrio fazem o sucesso de um mandato de governo, quando não, o fracasso.

Considerado ousado e inovador o Projeto de Governo Florestania, iniciado no Acre em 1999, deveria ter estabelecido as bases para um desenvolvimento econômico duradouro e orientador do futuro, mas não foi o que aconteceu. 

Com forte viés nacionalista e populista, os líderes políticos do Florestania levaram ao extremo o imaginário de um Acre revolucionário que lutou para ser brasileiro deixando em segundo plano a elevação do PIB com base na biodiversidade florestal e sem desmatamento.

Embora do ponto de vista simbólico a árvore estilizada usada como logomarca para representar o ideário envolto no Projeto Florestania tenha obtido um sucesso imediato e grandioso alterar a realidade econômica se mostrou um desafio bem mais duro que o reconhecido simbolismo.

Transformada em timbre de papel oficial, em placa de obras e broche, a árvore que alguns acharam se tratar de castanheira (Bertholletia excelsa) foi estampada na lapela de ternos de políticos de um leque eclético de partidos e, inclusive, de servidores públicos no Acre e em Brasília.

Aqui um breve adendo. A árvore de castanheira possui área de ocorrência até o rio Purus, com maior ocorrência no vale do rio Acre com poucos espécimes chegando em Sena Madureira sem passar dali em direção a Cruzeiro do Sul.

Outro adendo. A extensa área de dispersão da castanheira coincide com os municípios acreanos onde a pecuária extensiva é hegemônica. Ao desmatar para criar boi o produtor condena a castanheira à extinção uma vez que a árvore, por razões ecológicas, não sobrevive sem a floresta ao redor.

Voltando ao Florestania, ninguém pensou no dilema econômico da dicotomia castanheira versus gado, na condição de exemplo concreto para o embate entre Florestania versus Agronegócio.

Afinal, onde se cria gado não se produz castanha da mesma forma que ao adotar o modelo do Florestania a pecuária extensiva deixaria de ser apoiada pela política pública destinada ao desenvolvimento do Acre.

No fundo todos acreditaram, de pronto, que o neologismo Florestania como slogan e uma árvore como logotipo seriam suficientes para sugerir uma guinada em direção ao novo modelo de desenvolvimento ancorado na biodiversidade florestal.

E ficou nisso mesmo. Sem investir, por exemplo, na ampliação da produção de castanha-da-Amazônia, na geração de energia elétrica com madeira e no mercado de carbono, o PIB florestal ficou estagnado e tudo não passou de mero simbolismo.

Pior, o desmatamento continuou elevado pois a criação extensiva de boi incentivada com créditos do FNO geridos pelo Basa desde a década de 1970 nunca foi, de fato, abandonada a despeito dos sinais evidentes de colapso para a economia.

Resumindo, o Florestania em seu nascedouro e nos primeiros anos se preocupou em resgatar a força da identidade regional dos acreanos e não em recuperar a economia estadual.

Acreanismo se tornou a palavra de ordem em uma gestão governamental que perdeu, com o tempo, sustentação no potencial econômico da biodiversidade florestal.

Hoje parece não haver dúvida de que o resgate cultural da identidade acreana se mostrou bem mais simples que a execução da complexa política pública exigida para destravar o desenvolvimento econômico.

Enquanto isso, a defesa da riqueza existente na biodiversidade florestal como eixo para o futuro foi cada vez menos defendida pelos líderes políticos do Florestania. Mas isso é outro artigo. 

xxxx