Após um tedioso e desnecessário debate em torno da oportuna Medida Provisória da Regularização Fundiária, que os ambientalistas teimaram em chamar de MP da grilagem apesar de não saberem explicar exatamente o que é isso, parece que o movimento retomou o rumo e conseguiu um golpe certeiro, na atividade produtiva que mais acarreta impactos sociais e ambientais na Amazônia: a pecuária.

Ocorre que o problema do desmatamento sempre esteve associado ao tipo de atividade produtiva que vai ser instalada na região. Prepostos, grileiros, capatazes, pequenos, médios e grandes produtores, seringueiros, ribeirinhos e assim por diante, tem na pecuária sua melhor opção de investimento.

Razões não faltam para isso. Os custos de instalação não são elevados e pode-se contar, em todas as ocasiões, com o costumeiro apoio do Banco da Amazônia. Serviços de assistência técnica também não faltam. Somam-se às instituições em nível federal, todas as Emater e Secretarias Estaduais e Municipais de Agricultura se esforçando para que não falte nada para a pecuária.

É bem provável que a pecuária seja a atividade produtiva que goze, há mais de 40 anos, dos maiores investimentos em ciência e tecnologia realizados na Amazônia. A Embrapa, que possui excelência mundial no agronegócio, dispõe de estrutura considerável na região, voltada à viabilização econômica da pecuária.

Ou seja, o foco da ação daqueles que acreditam na possibilidade da Amazônia conquistar a sustentabilidade, e sabem que a pecuária é insustentável no médio prazo, somente poderia ser a atividade e não o produtor ou a propriedade.

Inviabilizar a pecuária, quer sejam com salvaguardas ambientais, quer sejam com retaliações sociais, sobretudo as trabalhistas, ou ainda, por privações de lucratividade, por meio de taxações, é o caminho mais promissor a ser seguido.

Um caminho que os ambientalistas começaram a trilhar de forma exemplar. Pegaram a atividade no seu calcanhar de Aquiles: fartura de dinheiro. Primeiro pressionaram os bancos (principalmente o Banco Mundial e o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social, parece que o Basa é peixe pequeno) e outros agentes financeiros a não emprestarem dinheiro para pecuária na Amazônia.

Depois pressionaram os grandes atacadistas e varejistas da carne de boi, a não comprarem carne oriunda de fazendas localizadas na Amazônia e que tenham problemas com a legislação ambiental ou trabalhista, ou seja: quase todos.

Com apoio de uma imprensa com sede de notícias, ainda mais quando o governo aparece como um dos maiores responsáveis pelo apoio oferecido a essa nefasta atividade produtiva, os resultados não podiam ser melhores.

O Ministério Público, de posse dos levantamentos realizados pelas duas das maiores entidades ambientalistas internacionais, o Greenpeace e Amigos da Terra, desencadeou um processo de caça às bruxas do jeito que lhe é peculiar, para não deixar sobrar ninguém.

A pecuária esta diante de seu maior desafio, superar o período de denuncismo e mostrar que consegue atuar dentro das regras ambientais e trabalhistas vigentes no país. Mais ainda, que consegue se viabilizar sob os holofotes da legalidade.

Para uma atividade acostumada a operar às sombras, usada para todo tipo de operação que envolva burlar o fisco, o ambiente e os trabalhadores, tudo indica que será muito difícil sua consolidação na Amazônia.

Mas, não se enganem, sem uma alternativa produtiva que valorize o ecossistema florestal, a sombra da pecuária estará à espreita.

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