A discussão acerca dos comprometimentos sociais e ambientais do processo de ocupação da Amazônia ganhou duras críticas no decorrer da década de 1980. Com a decadência do regime autoritário, foi possível detectar que a obsessão pela ocupação a qualquer preço da região trouxe um rastro de desequilíbrios sociais e ecológicos, com custos de recuperação bem superiores aos benefícios dela decorrentes. A ocupação em nome da soberania, impregnada de um discurso nacionalista que convenceu parcela significativa da nossa intelectualidade, sobretudo a dos “paulistas”, parece ter sido ultrapassada, apesar da existência, barulhenta, de alguns poucos adeptos.

As críticas eram sustentadas em levantamentos de pesquisadores, a maioria amazônidas, que garantiam a ineficácia daquele modelo de ocupação. O monocultivo, quer seja de grãos, quer seja de capim, realizado em larga escala e destinado à exportação invadiu o ecossistema florestal, transformando a paisagem e o clima, de áreas expressivas, proporcionais à dimensão territorial da Amazônia.

Uma área desmatada e queimada de tamanha extensão que chamou a atenção do mundo e disparou um alerta importante sobre a responsabilidade dos brasileiros sobre um bioma, que é seu, mas que possui significado internacional. A resposta, como não poderia deixar de ser, foi imediata e contou, para satisfação e elevação do orgulho dos acreanos, com o crucial envolvimento do maior contingente de produtores, existente na região: os incansáveis seringueiros extrativistas que ainda habitavam o interior do ecossistema florestal.

São aqueles mesmos seringueiros que teimavam em continuar ocupando a floresta ainda que abandonados pelas políticas públicas. Líderes como Wilson Pinheiro e Chico Mendes ousaram defender o indefensável: que era possível uma convivência produtiva com o ecossistema florestal da Amazônia. Afinal, eles se inspiravam no exemplo concreto da borracha e da castanha, espécies que há mais de um século eram manejadas pelos extrativistas, sem colocar em risco a manutenção da floresta.

Uma mensagem facilmente compreendida por sua base sindical que concebeu e reivindicou a legalização de áreas onde essa convivência, entre o extrativista e a floresta, seria materializada. Criaram-se, assim, as Reservas Extrativistas, um modelo de ocupação produtiva da região, inventada pelos acreanos, que ganhou o país e o mundo. O extrativismo, por sua vez, um modo de produção que não se atualizava desde o final do século XVIII, pode se elevar tecnologicamente ao manejo florestal de uso múltiplo.

Mas essa recente transformação fundiária no território acreano parece ainda não ter sido inteiramente assimilada. São mais de 50% das terras estaduais destinadas, por efeito de Lei, para atividade do manejo florestal de uso múltiplo. Na forma de Unidades de Conservação, quer sejam de uso sustentável ou de proteção integral, nessas áreas, a agricultura e a pecuária não podem ser praticadas de maneira comercial.

Ou seja, a discussão acerca do melhor modelo de ocupação produtiva, foi, para o caso dessas Unidades de Conservação, encerrada na década de 1990.

Agora não adianta mais. Não existem, na história política brasileira, casos de Unidades de Conservação que, depois de criadas, tenham sido canceladas. Por sinal, nem aquele político mais à direita teria coragem de propor esse tipo de coisa.

Para esses, aproximados oito milhões de hectares e as, igualmente aproximadas, 120 mil pessoas que neles habitam só há uma opção: viabilizar a floresta.

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