A divulgação das taxas recentes de desmatamento na Amazônia, algo em torno de 14.000 Km2 para o período de julho de 2005 a julho de 2006, causou alegria e foi considerado motivo de comemoração para diversos setores da sociedade e, claro, sobretudo para o, agora transversal, governo como um todo.

No entanto, para uma compreensão realista do significado dessa taxa, que dizem ser pequena, é imprescindível uma análise de seu comportamento ao longo dos últimos anos.

Ocorre que as taxas de desmatamento, divulgadas anualmente em agosto (e medidas de julho a julho) apresentaram crescimento expressivo até o recorde de mais de 29.000 Km2 observado em 1995. Um ano trágico para o clima da Amazônia, cujos prejuízos econômicos dele decorrente ainda carecem de aferição. A partir daí, a taxa tem decaído, em que pese a ocorrência de oscilações para cima (como o susto de 2004 que chegou a 27.000 Km2), em algumas medições nos últimos doze anos.

Para resumir, a tendência parece ser de queda após a taxa recorde.

Em sendo assim, atribuir a redução da taxa, ocorrida no último ano, ao aumento da fiscalização ou a algum tipo de sintonia dos agentes públicos (a tal da transversalidade) que atuando em harmonia conseguiria controlar a mazela do desmatamento, parece, no mínimo, exagero e precipitação.

Como bem manda o bom cartesianismo é bom ir por partes. Afinal, um pouco de prudência e de princípio da precaução também valem para notícias ditas boas.

O processo de ocupação da Amazônia, intensificado nas décadas de 1970 e 1980 fez surgir o que os geógrafos denominaram de Arco do Desmatamento. Essa extensa área côncava, que vai da fronteira entre o Pará e Maranhão até Acrelândia e Capixaba no Acre, apresentou nos últimos 30 anos taxas de crescimento, e de desmatamentos, surpreendentes.

Todavia, tendo em vista o período de exposição ao processo de ocupação, ainda para alguns geógrafos, esse Arco do Desmatamento deveria ser chamado, atualmente, de Arco do Povoamento Adensado.

Isso significa que nessa antiga região de floresta, que cabe mais de um quarto da Europa, o processo de ocupação territorial encontra-se em ritmo de finalização. Somente para entender melhor, essa área foi responsável por mais de 80% das taxas de desmatamento anteriores.

Talvez, note-se, seja por isso que a taxa atual traga como novidade o fato de que os maiores responsáveis pelo desmatamento foram os Estados de Roraima e Amazonas, isto é, regiões bem distantes do Arco do Desmatamento e que antes não tinham contribuição expressiva para o cômputo da área total desmatada.

Por sinal, essa informação é por demais perigosa e os alegres não estão se dando conta disso. A pergunta a ser respondida é a seguinte:

Trata-se de uma ocorrência casual ou há fortes indícios de formação de um novo Arco do Desmatamento, agora convexo, indo de Roraima, passando pelo Amazonas e chegando em Rodrigues Alves no Acre?

Se a resposta for sim, não há tempo para comemorações.

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