Enquanto as taxas anuais de destruição florestal não forem contidas e levadas aos níveis de 2012, o ano mágico, único em que foi desmatada área inferior a 5.000 Km2, não haverá perspectiva para a Amazônia alcançar o desenvolvimento sustentável.

Relacionar a sustentabilidade do progresso (ou do desenvolvimento) ao desmatamento deveria ser uma regra entre os agentes financeiros – ou seja, os bancos e fundos de investimentos que atuam na região. Mas não é isso que acontece.

Basta uma rápida olhada nos sites do Basa e da Suframa para perceber que a palavra sustentabilidade – só a palavra mesmo! – vai sendo repetida nas explanações a respeito das carteiras de crédito, seja para o financiamento de pavimentação de estradas, de construção de indústrias ou de ampliação da Zona Franca de Manaus.

Contudo, e por óbvio, não há possibilidade de conquistar o desenvolvimento sustentável mediante a instalação de infraestrutura (embora infraestrutura seja imprescindível), uma vez que, diante da realidade objetiva presente na região, toda e qualquer nova infraestrutura surgida vai beneficiar a cadeia produtiva que já está consolidada.

Significa dizer que todo quilômetro a mais de estrada, de rede elétrica, de cabo de internet etc. vai servir ao único propósito de ampliar a área ocupada pela pecuária extensiva na região, substituindo a biodiversidade florestal por pastos.

São fartos os trabalhos científicos que comprovam o efeito nocivo do desmatamento sobre os três pilares da sustentabilidade (econômico, social e ecológico), efeito esse que levou e continuará levando a região ao ciclo intolerável que associa estagnação econômica e degradação ambiental.

Para quem não acompanha o escasso noticiário nacional em torno da maior floresta tropical do mundo, vale relembrar.

De 1º de agosto de 2020 a 31 de julho de 2021, 13.235 km2 de biodiversidade florestal foram destruídos na Amazônia, uma elevação de 22% em relação ao índice computado entre 1/8/2019 e 31/7/2020 (para saber mais, acessar http://www.andiroba.org.br/artigos/?post_id=5174&artigos_ano=2021).

Trata-se de uma cifra assustadora, não apenas pelo aumento em si, mas diante do cenário em que esse aumento se dá.

A partir de 2012 começou a se delinear uma tendência de alta no desmatamento que não foi contida pelo investimento público permanente em fiscalização (sempre onerosa e pouco eficiente).

Ocorre que, além de confirmar essa tendência de alta, os números apurados em 2021 demonstram também que o incremento foi maior em estados que geralmente exibem baixos índices de destruição florestal.

É o caso de Amapá, Amazonas, Roraima e Acre. Mesmo apresentando economia fragilizada – na verdade, em frangalhos, devido ao contexto de pandemia/quarentena – todos eles desmataram acima da média de 22% totalizada para a região.

Com efeito, no Amapá o aumento foi de 62%; no Amazonas, 55%; Em Roraima, 30%; e no Acre, 23%.

Algo de muito insólito acontece, pois a ocupação produtiva levada a efeito nesses estados não se baseia em grandes empreendimentos da indústria do agronegócio, como acontece no Pará e no Mato Grosso. Por outro lado, em nenhum deles a dinâmica econômica justifica tão alto investimento no desmatamento.

Não dá para considerar, ademais, como querem crer setores do movimento ambientalista, que o aumento decorre exclusivamente do discurso político a favor do desmatamento, muito praticado pelo governo federal e pelo governo do Acre, por exemplo.

Enfim, a compreensão da dinâmica atual do desmatamento vai exigir muitos estudos, mas decerto essa é a chave para conter a disparada da destruição florestal e, dessa forma, honrar compromissos assumidos perante o Acordo de Paris.

A boa notícia é que, durante a COP 26, encerrada em novembro, além de importantes acordos, celebrados no intuito de obstar a destruição florestal no mundo, foi aprovada a regulamentação do mercado de carbono no âmbito da ONU.

Em 2022, o pacto pelo desmatamento zero e o mercado de carbono devem trazer expressivos ganhos para a sustentabilidade na Amazônia.

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