São vários os desafios. Todavia o dilema maior é requerido pela própria empresa alemã que compra o cacau nativo do Purus. Para eles, o sabor do cacau que ocorre naturalmente na várzea do Rio Purus possui características únicas e incomparáveis, quando é transformado em chocolate.

Entenda-se por sabor único, um diferencial de mercado que faz com que o produto chocolate consiga melhores preços de venda e, o mais importante, traga identidade para a empresa.

Ou seja, o cacau produzido na várzea do Purus possui um gosto que, para quem aprecia chocolate, e são muitos na Alemanha e na Europa, compensa pagar mais por ele. A empresa que adquire esse cacau não faz falsa modéstia com o produto. É a única a vender um chocolate genuíno, nativo, natural, do jeito que a floresta amazônica oferece. Somente quem prova poderá saber a diferença do sabor autêntico e milenar desse cacau.

Um mercado que se amplia a cada ano. Afinal quem não gostaria de experimentar um chocolate que é consumido há milênios e que vem de uma região ícone no mundo: a Amazônia.

Para se ter uma idéia o contrato inicial da empresa com a cooperativa dos produtores do Purus demonstrou que a demanda pelo cacau era bem superior à oferta oriunda do manejo florestal comunitário. Algo, sem dúvida, inusitado no mercado que envolve produtos de origem extrativista da Amazônia. Na maioria das vezes tem-se uma diversidade enorme de produtos que, geralmente, não possuem mercados consolidados.

Ocorre que nesse momento, tal qual o que ocorreu com a borracha no início do século passado, o mercado quer mais desse cacau. E tal qual o que ocorreu com o próprio cacau, com a borracha, com o cupuaçu, com a pupunha, com a pimenta longa e assim por diante, a tendência seria a de recorrer aos cultivos comerciais para ampliar a oferta do produto.

A história econômica da Amazônia comprova que sempre que uma espécie florestal ganha dinamismo econômico, a resposta agronômica é rápida. Domesticação, plantio, colheita e, assim, o ciclo produtivo atende a expectativa do mercado. Um processo intenso de mecanização da produção será o inexorável passo seguinte.

Esse procedimento tem justificado a entrada no mercado de vários produtos da floresta amazônica. E tem, igualmente, justificado o afastamento da Amazônia de vários mercados abertos por suas espécies florestais. A borracha ainda é o melhor exemplo dessa triste constatação. Uma vez dominado o sistema de cultivo e o Estado de São Paulo vem dominando o mercado desde 1993.

No entanto, a história econômica da Amazônia também tem demonstrado que o que pode salvar a espécie florestal e o seu conseqüente manejo em ambiente natural são a existência de algumas características importantes para o mercado e que se perdem com ao serem cultivadas.

No caso do cacau a empresa compradora é taxativa. Cacau cultivado não é nativo e por isso não interessa. E aí volta-se ao maior dilema do início desse artigo:

Como fazer para triplicar, ou mais, a produtividade de um cacau nativo, sem recorrer aos plantios?

A ciência florestal amazônica precisa dar uma resposta contundente. Um passo importante vem sendo dado com uma parceria entre a Ufac e a Universidade Freiburg e um leque variado de outras instituições. Com um projeto apoiado pelo CNPq esta sendo possível reunir um número expressivo de especialistas para se debruçarem sobre o tema.

Tudo indica que em breve algumas soluções surgirão. Respostas que ajudarão a solucionar os desafios do cacau e, o melhor, do Manejo Florestal Comunitário da Amazônia.

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