Há quase 20 anos o Acre começaria a dar uma contribuição decisiva para a definição de uma política florestal genuinamente amazônida. Com esforço de um leque variado de instituições saíram daqui três propostas revolucionárias para compreender e oferecer soluções ao complexo processo de ocupação social e econômica da região.

A primeira, procurou demonstrar que existia um tipo de reforma agrária diferente da que o Estatuto da Terra e o Plano Nacional de Reforma Agrária preconizavam. Que era possível fazer assentamentos humanos, em áreas cobertas por florestas, sem precisar trazer os “paulistas”, vez que os assentados amazônidas haviam sido trazidos na época dos ciclos da borracha.

Indo além, uma reforma agrária que, por inadmissível que parecesse, não destruía o ecossistema florestal. Muito pelo contrário, que tinha nessa floresta sua maior referência para atividade econômica. Era isso. Uma reforma que não reformava, mas reconhecia o que o povo acreano já havia reformado há quase um século. Pegando emprestado os nomes da Reservas Indígenas, os acreanos chamaram essa reforma de Reservas Extrativistas.

A segunda proposta tratou de definição do escopo tecnológico para que as Reservas Extrativistas, que havíamos inventado e que agora se espalhara por toda a Amazônia, pelo Brasil e pelo mundo, fossem além do binômio produtivo borracha e castanha-do-Brasil. Com os dois mercados em crise profunda, sobretudo o de elastômeros, o extrativista seria levado de maneira inexorável à opção pelos plantios e pela criação de gado.

O risco da agropecuarização das Reservas Extrativistas era elevado e as organizações envolvidas com a proposta precisavam se avexar. Ampliar o leque de produtos florestais parecia a alternativa mais óbvia. Diversos estudos e levantamentos mais tarde permitiram a definição do arcabouço tecnológico do que foi denominado: Manejo Florestal de Uso Múltiplo. Um conjunto de opções produtivas que envolviam açaí, borracha, paca, queixada, orquídeas, fitoterápicos e assim por diante, além dos serviços ambientais de qualidade e quantidade de ar e água, a serem manejadas segundo um cronograma e uma demanda por trabalho, coerentes com a realidade das colocações de seringueiro.

Uma cesta de ofertas tão variadas quanto é a diversidade biológica na Amazônia. Uma cesta de ofertas possível de ser explorada em uma mesma unidade de produção, de uma só colocação. Uma cesta de ofertas que para se viabilizar não podia se dá ao luxo de excluir o produto florestal de maior liquidez: a madeira.

Todavia a entrada da madeira na tecnologia do manejo florestal de uso múltiplo exigiu a concepção da terceira e igualmente revolucionária proposta: a do Manejo Comunitário de Madeira.

O desafio seria definir um conjunto de protocolos de manejo florestal adequados à realidade das Reservas Extrativistas (que são Unidades de Conservação e por isso sujeitas a regime especial de exploração), e, o mais complicado, que não prejudicasse a oferta dos outros produtos e serviços florestais com os quais a colocação estaria comprometida, segundo a tecnologia do uso múltiplo.

O manejo comunitário, após um primeiro encontro realizado em Plácido de Castro em 1996, seguiu os passos das Reservas Extrativistas e se concretizou como alternativa tecnológica prioritária para sua sustentabilidade. Contribuições acreanas que não podem ser esquecidas pelos próprios acreanos.

Ao contrário, um legado que ajudou a consolidar no Acre a marca de preocupação com o futuro da Amazônia, que deve ser objetivo permanente da política pública.

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