Muitos costumam associar sustentabilidade à geração de emprego e renda por meio de toda e qualquer atividade produtiva. Outros consideram que basta a consumação de obras de infraestrutura, como a abertura e pavimentação de rodovias, construção de pontes, instalação de redes de energia elétrica e de comunicações, que a sustentabilidade é automaticamente conquistada. E há também os que acreditam que um processo forçado de industrialização, amparado na oferta de subsídios e de outras benesses públicas, leva inevitavelmente à sustentabilidade.
Embora se trate de inegáveis equívocos, é nesse tipo de juízo duvidoso que os defensores da Zona Franca de Manaus se amparam para apregoar a conveniência desse falido modelo de ocupação produtiva para a sustentabilidade de uma região complexa como a Amazônia. O modelo é falido porque não traz retorno (econômico, social, ecológico) compatível com os recursos despendidos pela sociedade para a sua manutenção. Uma série de estudos comprovam essa falência, não há dúvida quanto a esse ponto.
Está no aproveitamento das vocações regionais, sobretudo daquelas vinculadas ao ecossistema, a saída para a sustentabilidade da Amazônia. É um raciocínio relativamente simples. Não adianta instalar uma indústria para montagem de televisores em Manaus, pois, no dia em que os subsídios públicos não forem mais concedidos, essa indústria será transferida para o Sudeste do país – onde os custos são menores, e a qualidade do trabalho e da infraestrutura, entre outros, são bem superiores.
De outra banda, completando o raciocínio singelo, não há como o Sudeste competir com indústrias que têm no ecossistema florestal sua base de sustentação, uma vez que essa região está muito afastada da fonte da matéria-prima – a floresta. Diga-se que na maior parte dos casos o recurso florestal tem que ser processado no curto prazo, ou seja, não poderia ser transportado para São Paulo, por exemplo.
O aproveitamento dessa vocação regional inata – ou dessa vantagem comparativa, no linguajar de economistas e administradores – é o que se obtém quando se investe em indústrias beneficiadoras de matérias-primas oriundas da floresta.
Evidentemente que, para que o processo seja sustentável, essa exploração deve ser realizada por meio do aporte da tecnologia do manejo florestal, já consagrada e amplamente difundida na Amazônia. Assim, as escalas de produção devem ser compatíveis com a tecnologia do manejo florestal, isto é, devem respeitar a capacidade de regeneração do ecossistema, ressaltando-se que não há entraves tecnológicos que obstem o manejo de qualquer produto existente na floresta.
Mediante a instalação de um conjunto de indústrias – que vão de madeireiras e beneficiadoras de carne de animais silvestres aos empreendimentos baseados no promissor e estratégico ramo da biotecnologia -, seria possível a geração de emprego e renda tendo-se como fio condutor, ou referencia principal, o ecossistema florestal.
O ajuntamento, como dizem os extrativistas, desse conjunto de indústrias com as chamadas indústrias de apoio – que inevitavelmente surgem no rastro das empresas principais -, bem como com entidades de suporte, como as do Sistema S (Sebrae, Senai, Sesc…), e ainda com universidades, centros de pesquisas e outras iniciativas, formaria um aglomerado econômico que, por sua vez, daria origem a um cluster. Um “Cluster da Biodiversidade”, no caso.
Todavia, um cluster, vale dizer, uma conjugação de empresas e instituições especializadas num determinado setor ou segmento da Economia – como o que foi implantado na região do denominado Vale do Silício, na Califórnia, e que comporta as mais poderosas indústrias de informática do mundo – não acontece por acaso, pela força do mercado, pela tal “mão invisível”.
Sem política pública, não haverá o Cluster da Biodiversidade, e a sustentabilidade jamais chegará à Amazônia. Ponto.