A fim de estimular a produção de conhecimento e o envolvimento social em relação às questões pertinentes aos recursos hídricos, a Agência Nacional das Águas, ANA, instituiu uma premiação que anualmente homenageia trabalhos que contribuem para melhorar a gestão dos recursos hídricos no país e garantir a conservação da água, em suas diversas procedências.

Na edição de 2012 do evento, o Projeto Ciliar Só-Rio Acre, executado por pesquisadores oriundos da Ufac, Funtac e Unesp, foi classificado como um dos cinco finalistas, na categoria de Inovação Tecnológica. Trata-se de um feito inédito no estado, e que evidencia a importância dessa experiência, já laureada em outras premiações de alcance nacional.

Na condição de principal órgão estatal para a regulação do uso da água, a ANA emite diretrizes que têm consequência direta na vida das pessoas; ou seja, a sua atuação pode garantir a oferta d’água, ou ampliar o risco de escassez desse recurso natural.

Independentemente do uso que é dado à água (seja para gerar energia elétrica, para irrigar um plantio de soja, ou, ainda, para matar a sede de um rebanho), à ANA compete a decisão de estabelecer um preço para o recurso hídrico – o que por sua vez, tem implicação direta, ou no subvencionamento de determinada atividade econômica, ou no aumento dos seus custos de produção.

No caso da pecuária, por exemplo, considerando-se os 36 litros d’água que cada vaca bebe por dia, é bem provável que se essa atividade, sobretudo na Amazônia, tivesse que pagar pela água consumida pelos animais, sofreria um impacto de custos de produção que poderia comprometer a sua já frágil viabilidade econômica na região.

Por outro lado, o fato de não se cobrar o grande volume de água consumido pela pecuária denota a subvenção de uma atividade produtiva que é apontada como principal responsável pelo desmatamento da mata ciliar. Como esse desmatamento, por sua vez, é a causa maior da degradação dos rios, um paradoxo terrível se estabelece – o de incentivar o que te destrói.

Foi justamente o reconhecimento da importância da mata ciliar que levou à concepção e execução do projeto Ciliar Só-Rio. O projeto, financiado pelo CNPq, contou com um orçamento de 200 mil reais, destinados à realização de denso diagnóstico sobre as condições de degradação da bacia hidrográfica do rio Acre

Após três anos de execução (2009 a 2011), o Ciliar Só-Rio Acre produziu um conjunto de 16 mapas – que demonstram a ação antrópica ocorrida sobre a mata ciliar -, e realizou amplo Inventário Florestal nos oito municípios banhados pelo rio, o que possibilitou a concepção de duas importantes inovações tecnológicas.

A primeira delas diz respeito ao desenvolvimento de uma metodologia para o cálculo do que se denominou “largura técnica da mata ciliar”. Indo além do que preceitua a legislação florestal, o cálculo da largura técnica da mata ciliar é específico para cada um dos oito municípios, e leva em consideração uma sequência de variáveis, medidas no local; uma dessas variáveis é a relação entre a quantidade de mata ciliar e a turbidez da água – assumindo-se que o nível de turbidez encarece o tratamento da água que chega à casa do consumidor.

A segunda se refere à criação de um indicador, batizado “IVI-Mata Ciliar”; esse apontador permite a identificação das espécies florestais que devem ser utilizadas em projetos de restauração florestal da mata ciliar, a serem efetivados em cada município.

São essas inovações que têm levado o Ciliar Só-Rio a ser reconhecido em âmbito nacional.

E cada vez que o projeto é prestigiado, reforça-se a certeza de que restaurar a mata ciliar é o caminho para a recuperação do rio Acre.

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