Um relatório pouco animador foi publicado em 19 de março de 2024 pela Organização Meteorológica Mundial, OMM, organismo vinculado à Organização das Nações Unidas, ONU, que reúne cientistas de todo mundo para monitorar as condições climáticas no planeta.

Em sua divulgação para a imprensa a OMM afirmou que estava fazendo um “Alerta Vermelho” para o mundo na tentativa de chamar atenção para a gravidade e emergência do aquecimento e as consequentes mudanças no clima planetário.

Segundo o relatório sobre o “Estado do Clima Global” no geral o calor ou a média de temperatura do planeta foi, em 2023, a mais elevada de uma série histórica robusta de estatísticas observadas em 174 anos de medições e chegou a 1,45º (graus celsius) superiores à temperatura no período anterior à revolução industrial.

Não precisa ser cientista para perceber que o Alerta Vermelho da ONU pretende balançar os países, ou melhor, os políticos que estão no poder, foram eleitos e, por conta disso, devem assumir a liderança de projetos de descarbonização de suas economias.

Existe certeza científica suficiente para adoção de ações voltadas à redução da produção de carbono, de um lado, e, no outro lado da equação,  para retirada do carbono colocado na atmosfera pelo modelo atual de economia que se ancora em combustíveis fósseis, leia-se petróleo.

Afinal, as causas são mais que conhecidas e o mundo precisa de projetos de contenção com pressa nunca vistas.

Significa afirmar, por exemplo, que a produção de energia, sobretudo a elétrica, deve priorizar a construção de hidrelétricas e a queima de biomassa florestal, que fornecem maior segurança à matriz de eletricidade, bem como sua complementação com as fontes intermitentes, solar e eólica.

Em outra frente o mundo deve forçar a retirada, no curto e médio prazo, do carbono que se encontra retido na atmosfera.

Plantar florestas e, o mais urgente hoje, zerar o desmatamento de florestas nativas no mundo, deve congregar esforços das economias em todos os países, mas especialmente nas regiões cobertas pelo bioma Amazônia.

Nesses pontos, o Brasil pode ser uma referência mundial.

Tanto na ampliação do aproveitamento da força das águas, construindo usinas hidrelétricas onde for possível, quanto na redução drástica do desmatamento da floresta amazônica.

No caso especial da Amazônia a construção de hidrelétricas se mostrou, após mais de 50 anos de análises, medida acertada para trazer riqueza ao tempo em que reduz o desmatamento na região.

Voltando ao tenebroso Alerta Vermelho da OMM e da ONU, existe um fato deveras preocupante e que, até o momento, tem recebido pouca atenção dos envolvidos na análise das alterações do clima planetário: a água do oceano foi a mais quente após 65 anos de medições.

O calor dos mares e oceanos adquire preocupação excepcional em decorrência da capacidade da água reter calor por muito mais tempo que a atmosfera.

Isto é, o calor registrado nas águas superficiais de mares e oceanos no mundo, em 2023, pode ser considerado irreversível e dependerá de centenas de anos para retornar ao ponto anterior.

Conclusão, num raríssimo jogo de ganha-ganha deveremos construir mais hidrelétricas na Amazônia, reduzir o desmatamento e avançar na nova economia.

Por óbvio, todos que se preocupam com os destinos do Acre sentiram os impactos de uma alagação que deixou milhares de desabrigados e causou prejuízos econômicos incalculáveis, mas a pergunta é incontornável: e agora?

Não é preciso se afastar do Acre para encontrar uma produção científica robusta sobre os fenômenos das alagações e das secas, em especial nos rios Purus e Acre.

De Manuel Urbano passando por Sena Madureira até os oito municípios servidos pela bacia do rio Acre, há informação suficiente para definição com muita segurança de uma política para aumentar a resiliência dos rios e a resistência pública.

Sendo assim, quais as razões para os acreanos se afundarem em um sentimentalismo repetido de forma quase anual em relação às alagações e, mais recentemente, às secas.

Difícil responder, entretanto, como afirma a ciência política, a elevação de uma agenda humanitária recorrente em pauta para política pública costuma exigir bem mais que teorias e base científica.

Tal como aconteceu com as várias soluções que amenizaram os impactos da seca na caatinga e tiraram o nordeste brasileiro da ladainha do noticiário anual das tragédias nacionais, o investimento da política pública acontecerá somente quando a mobilização e compreensão social sobre a alagação orientar o processo eleitoral.

Explicando melhor.

Esse ano, 2024, haverá eleições para vereador e prefeito. Sem exceção todos os candidatos, na capital e no interior, que almejam uma vaga no parlamento ou como gestor da cidade, vão defender a criação extensiva de gado como atividade econômica primordial para o desenvolvimento do Acre.

A compreensão social dos acreanos sugere que investir no agronegócio, que, no caso acreano, se resume quase que exclusivamente na pecuária extensiva, não consegue fazer uma associação de causa e efeito bem simples: cada boi sobrevive, em média, de dois hectares de pasto.

Avançando um pouco mais no raciocínio, não faz a ligação crucial de que nos dois hectares de pasto usados para criar apenas um boi havia antes uma floresta tropical com mais de 400 árvores e arbustos que recebiam o impacto das chuvas antes dos rios.

Finalizando o raciocínio, restaria vincular ainda o desmatamento para plantar capim com a alagação.

Muitos vão gritar que o desmatamento é um processo inevitável e natural para a ocupação produtiva do território e a alagação é causada pelo El Niño ou outro fenômeno climático qualquer, resumindo todo um leque de distrações na expressão: choveu mais em duas horas que …

Associar desmatamento com alagação e seca é ponto inicial para ajudar a inserir os transtornos de excesso e falta de água no rio Acre em um problema que possui solução por meio da política pública na cidade e no Estado.

Existem soluções e ciência para resolver a tragédia da alagação com o dinheiro público existente no orçamento estadual e municipal, sem ter que apelar para a sensibilidade da União. Pode parecer inacreditável, mas não é!

 Finalmente, nunca é demais repetir.

Não foi São Pedro que mandou chuva demais agora ou mandará de menos quando chegar em julho, o problema tem origem no desmatamento que faz com que a chuva de São Pedro escorra de uma terra vazia de árvores para o rio, se transformando em alagação ou seca, respectivamente.

Controlar e encontrar solução para abandonar a nefasta era da criação de um boi solto em dois hectares de floresta que virou pasto é a solução.

Somente para lembrar, pela teoria do Triangulo de Governo elaborada pelo economista chileno Carlos Matus ainda na década de 1970, enquanto o Projeto de Governo estabelece um rumo e a Governabilidade fornece estabilidade política, a Capacidade de Governo se refere a estrutura operacional que cria condições para realizar obras e investimentos.

Juntos formam o tripé, ou triangulo, que uma vez conduzidos de maneira equilibrada e de acordo com os pesos e contrapesos de uma democracia acarretam o sucesso de um mandato, do contrário, o fracasso.  

Como analisado em artigos anteriores o Projeto Florestania enfatizou o resgate de valores culturais de um acreanismo adormecido, sem decidir por apoiar o agronegócio da pecuária extensiva ou a exploração da biodiversidade florestal enquanto modelo de desenvolvimento econômico para o Acre.

Ao decidir pela generalização inclusiva, onde entrava o pecuarista e o extrativista, os líderes políticos do Florestania transferiram o conflito entre os dois modelos para a rotina diária da Capacidade de Governo.

Isto é, com pouca ou nenhuma orientação superior oriunda dos detentores de mandato eleitoral, ficou à cargo da equipe técnica as decisões rotineiras de execução que penderam para um e outro lado dos modelos.

Há, contudo, um registro histórico inescapável.

Antes do Florestania ser alçado à condição de Projeto de Governo em 1999, um conjunto de seis organizações não governamentais (ONG), ou da sociedade civil para usar uma denominação menos preconceituosa, discutiram e detalharam vários pontos do que chamavam de “saída econômica pela floresta”.

Muitos haverão de recordar que nos idos de 1988, quase dez anos antes do Florestania, com apoio técnico imprescindível do Centro de Trabalhadores da Amazônia, CTA, as ONG’s do Acre garantiram a regularização de mais de 2 milhões de hectares em Reservas Extrativistas, Resex.

Não à toa a invenção da Resex e a concepção da tecnologia do manejo florestal comunitário são dois legados do Acre para a política florestal na Amazônia.

Em síntese, dentro da Resex a agricultura de subsistência e a pecuária não podem ser realizadas com interesse comercial e a geração de renda vem, exclusivamente, da exploração sustentável da biodiversidade florestal, o que, por conseguinte, impede que o desmatamento presente na área do entorno se alastre.

Dessa maneira, com quase metade do território do Acre destinado, por força da legislação fundiária, a comercialização de produtos extraídos da biodiversidade florestal existente na Resex, o desenvolvimento econômico estadual deixaria de depender do nefasto desmatamento.

Do ponto de vista político, as ONG’s atuantes no Acre, desde o final da década de 1980, depositaram irrestrito apoio à ampliação de terras com florestas para que a biodiversidade florestal funcionasse como contraponto à criação extensiva de boi atraindo investimento estatal e da cooperação internacional.

Mais que apoio político, técnicos qualificados nas ONG’s migraram para a estrutura pública, na vã expectativa de que em cargos de direção direcionariam a Capacidade de Governo para colocar em prática o Projeto Florestania que excluía a pecuária extensiva.

No início até que deu certo. Nos primeiros seis anos de uma hegemonia que durou 20, o Florestania promoveu atividades vinculadas ao uso comercial da biodiversidade florestal.

Em 2001 foi aprovada a Lei 1.426 que instituiu a Política Estadual de Florestas que proporcionou a criação da Secretaria Executiva de Floresta e Extrativismo, de início subordinada a Secretaria de Produção e no ano seguinte transformada em Secretaria Estadual de Floresta.

Foi nesse período também que se construiu a fábrica de pisos de Xapuri, uma indústria moderna e automatizada voltada para produção de tacos com a madeira produzida no manejo florestal comunitário praticado na Resex.

Ainda em Xapuri se instalou a Natex, uma fábrica de preservativos masculinos de última geração a ser abastecida com a borracha nativa das colocações de seringa ocupadas pelos extrativistas na região do alto rio Acre.

Finalmente, foi fundamental o papel dos profissionais que tinham trabalhado com a visão da saída pela floresta em ONG para o fortalecimento da Capacidade de Governo que priorizou a interpretação do Florestania sem pecuária extensiva.

Por sinal, foi com base na experiência adquirida por esses técnicos que se aprovou três grandes projetos de financiamentos bancários, considerados decisivos para o modelo de desenvolvimento do Acre baseado na biodiversidade florestal. Mas, isso é outro artigo.    

Há 20 anos, um conflito entre o Ministério da Agricultura e o de Meio Ambiente dominou os noticiários com declarações fortes a favor e contra, respectivamente, a produção de alimentos modificados geneticamente, que os jornalistas chamam apenas de transgênicos.

Naquela época, ambientalistas pouco preparados e com posição radical contrária aos transgênicos defendiam que os rótulos dos produtos, sucrilhos por exemplo, que usassem milho modificado estampasse, não somente no rótulo mas nos materiais de divulgação, um alerta para o consumidor do tipo: cuidado, produto transgênico.

Muitos cientistas, inclusive aqueles que atuavam junto a Comissão Técnica Nacional de Biossegurança, CTNBio, esclareceram que os transgênicos haviam sido mais estudados que os produtos geneticamente melhorados por cruzamentos ao longo do tempo e que não havia dúvida sobre sua segurança para consumo.

Os mesmos ambientalistas, por suposto, que hoje apontam o dedo para negacionistas da ciência em relação à vacina da Covid, se negaram a ouvir a CTNBio e os pesquisadores sobre os benefícios econômicos e, óbvio, ambientais das sementes transgênicas uma vez que exigiam menos defensivos agrícolas para cultivar.

Claro que com o passar do tempo o cultivo de sementes melhoradas foi ampliado em todo mundo e a rotulagem ambiental não impediu que a ciência confirmasse sua irrefutável prevalência sobre a escuridão.

Deixando os transgênicos de lado, o conflito sobre a exploração da margem equatorial, uma área imensa de águas profundas localizadas no Oceano Atlântico muito acima do litoral do Amapá, mas que para o Ibama e alguns jornalistas desinformados faz parte da foz do Rio Amazonas, coloca de um lado o Ministério do Meio Ambiente e de outro o Ministério das Minas e Energia.

Nem precisa reforçar que os ambientalistas radicais negam a exploração de petróleo em qualquer lugar mesmo que a ciência afirme ser possível, enquanto os engenheiros da energia e muitos cientistas afirmem que a transição energética em direção às fontes de geração limpa ainda dependerá de muito petróleo.

Há fartura de estudos sobre a relevância da extração de petróleo onde for possível até 2050, quando a oferta de eletricidade limpa, aquela que vem do sol, do vento, da água e da biomassa dominará o mercado.

Não à toa, o parecer da Advocacia Geral da União – AGU, publicado recentemente, deixa claro que a exigência do Ibama por estudos denominados de Avaliação Ambiental de Área Sedimentar não faz sentido agora, na fase de prospecção da viabilidade da exploração de petróleo na Margem Equatorial.

Mais grave, segundo a AGU o leilão de outorga que aconteceu em 2013 autorizou o processo até a fase atual, por isso uma junta de conciliação entre os ministérios deveria ser instalada com objetivo de encaminhar a prospecção e atender, no que for plausível pela ciência, a demanda dos ambientalistas.

Tal qual o imbróglio dos transgênicos em 2003, o petróleo da Margem Equatorial pode tirar alguns da área ambiental do governo. Espera-se que somente os radicais.

Existe uma dificuldade crônica e, até hoje, insuperável para industrializar um leque de produtos oriundos da biodiversidade florestal da Amazônia e duas verdades científicas ajudam a explicar o impasse na indústria da biodiversidade.

De um lado há elevados riscos para conseguir retornos compatíveis aos investimentos quando se trata da manufatura de sementes florestais, óleo de buriti ou seiva de jatobá, por exemplo.

Por outro lado, as dificuldades criadas pelos órgãos de controle ambiental, sobretudo o Ibama e ICMBio, adicionam aos riscos inerentes ao retorno do capital uma insegurança jurídica que torna o investimento particular quase inacreditável.

É notória e reiterada tal qual ladainha pelo empresariado regional a hostilidade dos técnicos e fiscais da esfera ambiental nos três níveis de governo (federal, estadual e municipal) quando requisitados para elaborar parecer sobre algum tipo de investimento empresarial privado na Amazônia.

Some-se ao risco econômico, à insegurança jurídica e à hostilidade dos analistas de órgãos ambientais uma ausência inexplicável de tradição nacional para investir na industrialização seja do que for.

Como explicam os estudiosos acontece que a industrialização por aqui chegou mais tarde, bem depois de assentar nos países do hemisfério norte.

Até 1808, quando o país saiu do isolamento com a abertura dos portos por Dom João VI, a manufatura não avançou porque a prioridade de Portugal residia na exportação de produtos agrícolas.

Mais tarde, após a independência em 1822 o desafio seria atrair e formar trabalhadores para atender a demanda da indústria, uma tarefa que se mostrou complexa demais em um país de predominância rural.

Para os pensadores sobre a formação social e econômica do Brasil, em especial Caio Prado Júnior e Celso Furtado, o povo brasileiro emergiu da conjugação de processos históricos e de uma mestiçagem intensa do português com negros e indígenas, além do contingente de imigrantes europeus e asiáticos recebidos para absorção pela indústria.

Sendo assim, estaria no enraizamento e afinidade extrema da população com a economia representada pelo setor primário uma das justificativas para explicar, em parte, a tardia industrialização nacional e quase inexistente na Amazônia e, com muita razão, o histórico peso do agronegócio para o PIB nacional.  

Todavia, há uma exceção alentadora. O Brasil é líder mundial nas indústrias do setor florestal e na manufatura de produtos oriundos de florestas plantadas de eucalipto e pinus.

Trazer essa liderança de mercado para o beneficiamento industrial da biodiversidade florestal da Amazônia pode ser a saída.

Afinal, ampliar a competitividade da biodiversidade florestal promovendo sua industrialização por meio de uma política industrial conduzida pelo governo federal significaria estabelecer mecanismos permanentes que fortaleçam seu potencial para gerar riqueza.

E ninguém pode duvidar de uma coisa: a industrialização da biodiversidade florestal é a melhor resposta para o desmatamento zero da Amazônia.

Existe um exemplo, didático e bastante repetido nas faculdades de Engenharia Florestal país afora para explicar a relação entre a quantidade de carbono, que é o principal responsável pelo aquecimento do planeta de maneira perigosa, existente na atmosfera e as árvores.

Para quem desconhece o tema a árvore é formada, basicamente, de lignina e celulose. A primeira é muito usada na indústria de colas e tintas. A celulose, por sua vez, é bem mais conhecida e está presente no cotidiano.

Após passar por um processo industrial um tanto simples, a celulose se transforma em cadernos, notas de dinheiro, envelopes, fraldas e um monte de tipos de papeis para escrita e impressão.

Com variações entre as espécies arbóreas, mais de 80% do peso das árvores representam compostos de carbono, ou seja, a cada tonelada de madeira tirada das árvores 800 quilos, no mínimo, é carbono.

Voltando ao exemplo didático, devido à altíssima concentração de carbono na madeira das árvores, estima-se, de maneira bastante rudimentar, que um bloco ou um cubo sem ocos, bem sólido, de madeira contendo 100 quilômetros de lado, concentraria quase a totalidade de carbono existente na atmosfera.

Ao manter essa quantidade de carbono estocado no bloco de madeira, o aquecimento do planeta seria estancado e, uma vez conservado o estoque permanente no bloco, a temperatura no mundo regressaria ao período anterior ao uso industrial do petróleo e nós não correríamos o risco de morrer de calor.

Essa é uma ideia fácil de explicar e de entender em que se baseia na proposta, encabeçada pelo engenheiro florestal alemão Tim Christophersen, um dos gestores da empresa Salesforce, reconhecida por apoiar projetos de reflorestamento e que obteve receita de quase 32 bilhões de dólares em 2023.

Ciente de que se trata de uma meta um tanto utópica, o engenheiro florestal explica que a solução baseada na natureza para a crise ecológica, decorrente do aquecimento do planeta e que parte do plantio de árvores, não é novidade.

Todos sabem que árvores são eficientes para retirar e estocar o carbono da atmosfera, a diferença, segundo ele, é que atualmente empresas de todo o mundo querem plantar árvores e, o melhor, em tudo que é canto do planeta.

Se antes da revolução industrial e da revolução verde que resolveram os problemas de abastecimento e de produção de alimentos, respectivamente, para a humanidade o planeta tinha 6 trilhões de árvores hoje temos menos que a metade desse estoque.

Recuperar as florestas, plantando e cuidando de qualquer espécie de árvore onde quer que seja possível no mundo todo, deveria, por isso, ser um dos objetivos da humanidade até 2030.

Plantar um trilhão de árvores e cuidar delas até ficarem adultas não só é possível como afastará a humanidade do colapso climático. Simples assim!!

Desde a década de 1990, quando grupos de empresas, trabalhadores e ambientalistas se uniram para fundar o Conselho Internacional de Manejo Florestal, FSC da sigla em inglês, a área de floresta certificada se amplia mundo afora (saiba mais: http://www.andiroba.org.br/artigos/?post_id=2473)

Certificar uma área de terra coberta por muitas árvores, em que a floresta pode ter sido cultivada por alguém ou regenerada de forma natural, significa depositar naquela área um selo verde. Isto é, uma garantia de que o produto que sai dali não acarretou danos para comprometer sua perpetuidade ou regeneração eterna.

No caso do FSC, com o selo sendo impresso por mais de 30 anos em uma série enorme e variada de produtos, o emblema de uma árvore estilizada com traços de que tudo está Ok naquela indústria alcançou significativa capilaridade.

Afinal, o selo verde do FSC está espalhado por quase todos os produtos que saem da indústria do papel e celulose. Também pode ser visto em parcela considerável da indústria da madeira e mobiliário.

A abrangência do FSC pode ser explicada por várias razões, mas sobretudo por ser exigido como porta de entrada para vários mercados, em especial na Europa.

Apesar de às vezes incompreendido quando, por exemplo, as pessoas se chocam com uso de papel ao supor que a produção requereu a derrubada de uma árvore, é provável que os plantios das árvores de eucaliptos que originam o papel com o selo do FSC, se transformem em novas árvores até mesmo antes do papel surgido da árvore anterior chegar em nossas mãos.

A importância do setor florestal para a economia mundial é expressiva com expectativa de crescimento por duas razões: as florestas são mecanismos eficientes para retirar carbono da atmosfera e podem fornecer um leque variado de produtos quando manejadas com tecnologia e ciência (saiba mais: http://www.andiroba.org.br/artigos/?post_id=2175).

Para se ter uma ideia, segundo a FAO, agência da ONU para florestas, em 2022 o setor florestal gerou 1,5 trilhão de dólares para a riqueza mundial e empregou 33 milhões de trabalhadores, o que demonstra uma força econômica expressiva.

Atualmente, o FSC contabiliza 8 milhões de hectares de florestas certificadas no Brasil. São aproximados 160 milhões de hectares, entre florestas plantadas e nativas, usando o selo FSC em todo planeta.

Segundo a organização há muito espaço para ampliação da área de floresta certificada e a meta é chegar a 300 milhões de hectares de florestas usando o selo verde do FSC ainda em 2026.

A certificação das florestas pelo FSC demonstrou, nos últimos 30 anos, que a aplicação da tecnologia de manejo florestal por comunidades e pelas indústrias fornece rendimentos e garante a perpetuidade da área de floresta sob manejo (saiba mais: http://www.andiroba.org.br/artigos/?post_id=5196).

Hoje não há dúvida, a certificação das florestas pelo FSC é uma das principais soluções para o desmatamento zero da Amazônia. Simples assim!

Parece que o aquecimento do planeta ou, melhor dizendo, o calor infernal com recordes em várias cidades, aconteceu, por razões incompreensíveis e destaque para o fenômeno El Niño, somente em 2023, mas não é bem assim.

Há um considerável e reiterado histórico de estudos divulgados por cientistas e pela Organização das Nações Unidas, em especial com assinatura de uma equipe de mais de 3.000 pesquisadores que compõem o IPCC (sigla em inglês para Painel Internacional para Mudança Climática), alertando ao mundo para duas verdades inconvenientes bem comprovadas: o planeta está aquecendo e a culpa é nossa.

Há, inclusive, uma data que pode ser considerada inicial na discussão sobre a temperatura do planeta. Foi quando a ONU, em 1992, organizou no Rio de Janeiro a assinatura de três convenções (do clima, da biodiversidade e da Agenda 21).

Naquele momento, ainda pairava uma série de dúvidas acerca da taxa de aumento da temperatura do planeta e os consequentes impactos, por exemplo, do degelo das calotas polares para as sociedades e ecossistemas mundo afora.

Um grupo de estúpidos, eles sempre existiram, defendia o disparte de que o planeta estaria resfriando e não aquecendo e, desde então, sempre que a temperatura por alguma razão diminuía em um mês atípico gritavam “eu não disse”.

Por eles e pela dúvida reinante costumava-se apelar para o princípio da precaução, um instrumento empregado pelos pesquisadores preconizando que quando há dúvida é melhor não arriscar.

Isto é, mesmo não havendo certeza científica sobre a elevação da temperatura no planeta por precaução seria melhor parar de jogar fumaça na atmosfera (leia mais aqui http://www.andiroba.org.br/artigos/?post_id=2437).

Foi com a publicação do relatório do IPCC de 2007 e o importante documento elaborado pelo governo da Inglaterra sobre os impactos econômicos do aquecimento que tornou o princípio da precaução desnecessário.

Desde 2007 não existe dúvida, o aquecimento do planeta e o calor insuportável na rotina das pessoas seria uma trágica realidade nos próximos anos (leia mais aqui http://www.andiroba.org.br/artigos/?post_id=1765).

Vários eventos extremos de elevação de temperatura começaram a ser observados desde o final do século passado e inicio do atual.

Em 2015 o mês de julho foi o mais quente da história da humanidade. Veja bem, não o julho, mas o mês de maior temperatura até então (leia aqui http://www.andiroba.org.br/artigos/?post_id=3127).

No decorrer de três anos consecutivos, a partir de 1880 quando se mediu a temperatura do planeta pela primeira vez, aconteceram recordes anuais de calor em 2014, 2015 e 2016 (leia aqui http://www.andiroba.org.br/artigos/?post_id=3615).

Por sinal, as estatísticas devem confirmar 2023 como ano mais quente em 125 mil anos de existência do planeta.

Algo até bem pouco tempo impossível de se imaginar e que mostra o caminho para uma tragédia planetária se as soluções aprovadas e comprometidas na ONU quando da assinatura do Acordo de Paris, em 2015, não forem priorizadas pela política internacional.

Em 2023 o calor insuportável chegou às pessoas e trouxe a tragédia da mudança do clima para a agenda política, não tem mais volta. Espera-se!

De todas as notícias espalhafatosas divulgadas com profissionalismo pelo governo federal que assumiu em janeiro de 2023, a comprovação, apurada com rigor e precisão pelo reconhecido Inpe, da redução do desmatamento foi a maior contribuição para a sustentabilidade da Amazônia.

Por mais que seja assustadora, a destruição de 9.001 km2 de florestas na Amazônia, no período compreendido entre 01 de agosto de 2022 a 31 de julho de 2023, foi recebida com otimismo pois pode significar a quebra em uma tendencia de alta que ganhou força a partir de 2019.

Após a provável interrupção da curva de elevação a expectativa dos estudiosos sobre desmatamento na Amazônia, incluindo o autor, é o retorno às taxas medidas até chegar ao melhor ano da estatística sobre desmatamento iniciada em 1988 (saiba mais aqui: http://www.andiroba.org.br/artigos/?post_id=5680&artigos_ano=2023).

Considerado um ano histórico, o ciclo de desmatamento aferido entre 2011/2012 foi o único, em mais de 35 anos de exatas medições realizadas pelo Inpe, em que se destruiu área inferior a 5.000 Km2 de florestas na Amazônia.

Ainda é cedo para otimismo e cinco meses do período analisado esteve à cargo do incompetente governo de plantão em 2022 e abarcou um período eleitoral, duas condições bastante favoráveis para motivar o produtor rural a desmatar.

Há que se aguardar as próximas medições para constatar o nível de disposição política do Ministério do Meio Ambiente para enfrentar a insatisfação de pecuaristas, em sua maioria criadores de plantel reduzido de gado em pequenas propriedades rurais, de modo a impor por força da fiscalização na redução paulatina até alcançar a meta, por óbvio bastante factível, do desmatamento zero na Amazônia.

Afinal, é o que preconiza a quinta edição do plano de controle do desmatamento (conhecido pelo sofrível acrônimo PPCDAM) lançado, com inexplicável atraso diga-se, em junho último.

A orientação pouco explícita mas que, com certeza deve estar escrito em algum lugar do PPCDAM, assevera que desmatamento ilegal se resolve com policiamento e fiscalização e o legal com a premiação de alternativas produtivas que não requerem desmatamento.

Caso, por exemplo, da regulamentação do mercado oficial de carbono, que poderá no curto prazo remunerar os proprietários que decidem aumentar a área de floresta para além da Reserva Legal, ao invés de desmatar para criar um boi em cada dois hectares de pasto.

Outra promissora notícia para a sustentabilidade da Amazônia foi, durante a COP28, a publicação do edital de reflorestamento do BNDES com investimentos aproximados de 450 milhões de reais, com recursos do Fundo Amazônia.

Por sinal a retomada, após quatro anos de sabotagem, da forte captação de recursos internacionais via Fundo Amazônia, demonstra que os brasileiros estão no caminho certo e podem reconquistar o histórico protagonismo para a política internacional de meio ambiente.

Finalizando, em números relativos arredondados a área de floresta destruída na Amazônia na série 2022/2023 foi 22% menor que o corte raso realizado no período anterior, entre 2021/2022.

Encerrando o ano uma excelente notícia: a COP30 em 2025 será em Belém para  deixar claro que a conservação da floresta na Amazônia é prioridade planetária.

Antes de iniciar qualquer discussão jamais esqueça que a seca e alagação na Amazônia, eventos extremos que passaram a ocorrer em intervalos de tempo menores, são consequências do desmatamento.

Foi a partir do corte raso de grandes áreas de floresta, com pico na década de 1970, mas que se manteve todos os anos com recordes perigosos em 1995 e 2004, que fenômenos climáticos como El Niño potencializaram os efeitos do desmatamento transformando estiagem e cheias nas tragédias da seca e alagação, respectivamente.

Resumindo, esticar a corda no sentido de endurecer as regras, aumentar o investimento no sistema de comando e controle para alcançar o desmatamento zero, legalizado ou não, da Amazônia até 2030 deveria ser prioridade para os políticos.

Na COP 28, que aconteceu em Dubai, a expectativa dos brasileiros foi que, sem poder contar com iniciativas promissoras nos nove governos estaduais, o Ministério do Meio Ambiente assumisse as rédeas e a responsabilidade pelo desmatamento zero na Amazônia.

De nada adiantaria repetir o discurso, cansativo diga-se, de que há um custo para implantar as políticas para o desmatamento zero e que esse dinheiro deveria vir dos países ricos que produziram, em suas indústrias, a maior parte do carbono que se encontra na atmosfera.

Ninguém discorda dessa ladainha e o dinheiro da cooperação internacional tem, em quantidade que por óbvio pode ser aumentada, abastecido o Fundo Amazônia, sobretudo após os quatro anos de incompetência do governo que se foi em 2022.

Da mesma forma que cansou a equivocada e repetida justificativa sobre uma pobreza crônica do produtor rural na Amazônia, tema há muito superado pelos programas sociais, que se não desmatar para criar gado poderá até morrer de fome. Ninguém pode, atualmente, achar que isso é possível.

Observadores internacionais e o movimento ambientalista de modo geral externam descrença sobre a possiblidade de conquistas para as políticas internacionais sobre transição na geração de energia, de maneira a substituir o petróleo pela força do sol, do vento e da água.

Acreditam eles, que a poderosa, Petrobras incluída, indústria do petróleo e do gás reforçou sua atuação aproveitando que o país anfitrião, os Emirados Árabes Unidos, faz parte do seleto grupo dos dez maiores produtores de petróleo do mundo.

Nada mais compreensível e seria ingênuo imaginar que a redução da produção de petróleo pela OPEP apareceria em algum documento oficial no final das negociações realizadas durante a COP28.

Porém, tudo foi bem diferente com relação à proteção das florestas. Afinal, os países produtores de petróleo também defendem o desmatamento zero da Amazônia.

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