A exploração ilegal de madeira, em conjunto com a exploração mineral e o desmatamento-queimada são sem dúvida os mais graves problemas ambientais existentes na área rural da Amazônia. A rigor, ocorre uma associação cúmplice entre a exploração da madeira e a expansão da fronteira agropecuária. No rastro do desmatamento e antes da queimada o madeireiro é acionado para retirar as melhores madeiras, o chamado filé, equivalente a menos que 30% da madeira, os outros 70% serão simplesmente queimados.

Por sinal, são estas madeiras (os 30%) e sua liquidez para o pecuarista que tem permitido custear os serviços do próprio desmatamento, ou seja, por paradoxal que pareça é a própria floresta que financia sua devastação e ou substituição pelo pasto cultivado.

Este quadro caótico tem se agravado, ainda mais, com o esgotamento da madeira oriunda da fronteira de ampliação agropecuária. Esse fato tem levado os madeireiros a voltarem sua atenção para os poucos fragmentos florestais remanescentes na porção oriental do Acre, que em sua grande maioria, encontram-se em Unidades de Conservação, Reserva Legal e Terras Indígenas.

De outra banda, o Ministério do Meio Ambiente, o Conselho Nacional da Amazônia Legal – Conamaz, o Conselho Nacional de Meio Ambiente – Conama e outros instrumentos de definição de políticas públicas para Amazônia, têm ressaltado a importância de se estabelecer uma nova visão para a ocupação social e econômica da região.

Essa visão, segundo esses instrumentos e instâncias de políticas regionais, segue por dois caminhos complementares. O primeiro pressupõe a construção de um consenso, por sinal muito difícil de se conseguir sem uma presença pública forte, de que o modelo desenvolvimentista implantado nos últimos quarenta anos, baseado na grande propriedade e na pecuária, trouxe benefícios econômicos pífios, ampliou as desigualdades ao concentrar ainda mais a riqueza e acarretou danos ambientais de natureza internacional com repercussões negativas difíceis de qualificar e quantificar.

A partir desse, difícil diga-se, consenso essa nova visão passaria, em um segundo momento, a prescrever um leque de alternativas econômicas que tenham por princípio transformar as vantagens comparativas da região, como o ecossistema florestal (entenda-se por ecossistema florestal todo leque potencial de produtos e serviços que a floresta pode oferecer, oriundos da hidrografia, fauna e vegetação) em vantagens competitivas e assim fazer uma leitura concreta do desenvolvimento sustentável amazônico.

E aí chega-se ao segundo caminho, que, todavia, é de natureza ainda mais complexa. Significaria construir um outro consenso, agora acerca da opção produtiva que melhor se enquadre nos ideais de sustentabilidade comumente aceitos para a Amazônia. Significaria também, que os agentes econômicos e atores sociais existentes na região poderiam se conciliar com os pesquisadores, acadêmicos e técnicos em geral, que apontam o manejo do ecossistema florestal como principal instrumento para conquista e manutenção de vantagem competitiva na Amazônia.

De concreto, essa visão aponta como saída o estabelecimento de um variado leque de arranjos produtivos locais, todos ancorados em produtos e serviços oriundos do ecossistema florestal, a serem explorados de maneira sustentável, agora e pelas gerações futuras, inseridos na moldura tecnológica do manejo de uso múltiplo.

No caso específico do Acre, as condições políticas atuais parecem propícias para a implantação, numa escala que somente o Estado possui, de alternativas econômicas adequadas à sua realidade social e florestal.

Um passo importante nesse sentido foi dado pelos produtores extrativistas na década de 1990. Mas para que isso ocorresse os produtores foram levados à sensibilização da emergência de uma nova e adequada maneira de se viver e, o mais importante para o caso acreano, uma nova maneira de se produzir. Uma produção baseada na floresta e não na sua substituição por capim, surgiu, facilmente, como referência maior de alternativa econômica que gerasse renda dentro desse novo contexto produtivo.

Esses produtores, além disso, constataram que a produção baseada na floresta requeria que sua atenção, na condição de extrativista, voltasse para a floresta e não para o roçado, isto é, para adequar-se a uma produção aceita por essa nova visão produtiva da Amazônia (com uma sustentabilidade mais precisa) o extrativista deveria inverter sua maneira de olhar sua unidade produtiva, a colocação, dando as costas para o roçado e virando-se de frente para a floresta, onde está seu mais valioso estoque de riqueza. O sucesso deles demonstra que eles conseguiram.

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