Em leilão realizado em março último pelo governo federal, que afirma não ser adepto do liberalismo econômico, o trecho da rodovia BR364, com arredondados 706 quilômetros entre as cidades de Porto Velho e Vilhena, foi leiloado e concedido por 30 anos para gerenciamento pela iniciativa privada.

Para todos que saem do Acre em direção a Cuiabá e que por absoluta ausência de alternativa são obrigados a percorrer esse trajeto a privatização, por hora somente desse trecho da rodovia, mais parece um milagre.

Por mais de incompreensíveis 40 anos, desde que o agronegócio da soja e da carne de boi chegou aos níveis de participação expressiva na geração da riqueza nacional, representando quase 50% do PIB, uma quantidade inusitada de caminhões trafegam nesse trecho.

Com razão econômica mais que visível e que remonta o final do século passado, a privatização, ou desestatização como preferem alguns, da rodovia BR364 esbarrava em uma equivocada e superada articulação de políticos ultrapassados que usam a exigência dos inevitáveis pedágios para amedrontar a população.

         Por mais que discursos inflamados contrários à privatização repitam a ladainha do custo representado pelos pedágios e sua possível influencia no preço pago pelo consumidor em Rondônia e no Acre, uma tolice totalmente fora da teoria econômica, o certo é que ninguém suportava as precárias condições de manutenção da estrada.

Por outro lado um dos argumentos mais simples para justificar a privatização remete à incapacidade operacional de todos os governos anteriores que cuidaram das rodovias federais e que, portanto, nomearam os gestores do DNIT, serem incompetentes para tapar buracos e pintar faixa de ultrapassagem, por exemplo.

Nunca, é nunca mesmo, houve um período consecutivo de, no mínimo, seis meses em que todo o trecho privatizado estivesse sem obras, plenamente concluído, em condições de uso e sem a ocorrência de congestionamentos.

Resumindo, uma quantidade absurda e inaceitável de acidentes decorrentes da péssima conservação da via forçariam a privatização se o objetivo final fosse somente o fim dos buracos.

Mas, por óbvio, o resultado da privatização será bem maior.

Tanto o pedágio quanto os serviços de manutenção da via representam um novo setor econômico no já elevado PIB estadual de Rondônia com a contratação de trabalhadores e a distribuição inevitável de renda e dividendos para a população.

Segundo os pressupostos da teoria econômica, que ajudam a entender a importância da cobrança dos pedágios para toda a sociedade e para a justiça social, somente os usuários tem obrigação de custear a manutenção da rodovia.

Nada mais grotesco, socialista e um tanto comunista que um cidadão que vive no interior de Pernambuco ser obrigado a contribuir, por meio do pagamento de impostos, com a remuneração dos trabalhadores do DNIT que tapam o buraco da rodovia em que o caminhão carregado se soja transita.

Claro que isso não é justo.

Usa quem paga e espera-se que o resultado final seja uma rodovia em perfeito estado de conservação. Sem buracos e com uma quantidade ideal de terceira faixa para o veículo de passeio conseguir ultrapassar o caminhão.

Espera-se mais, que não se repita o passado quando um governo incompetente, no período entre 2018-2022, não conservou nem privatizou uma rodovia com urgência de investimento.

O importante agora é que Rondônia terá uma rodovia de primeira qualidade e um novo e pujante setor econômico. Que chegue a vez do Acre!

Difícil entender o preconceito que políticos, sobretudo aqueles que se autodeclaram adeptos do pensamento político considerado de esquerda, nutrem a respeito da construção de usinas hidrelétricas na Amazônia.

Pior e mais grave ainda quando o preconceito erguido sem qualquer base científica e que, inclusive, contraria de maneira explicita princípios elementares dos ideais de sustentabilidade preconizados mundo afora recebe apoio de cientistas renomados.

Diante de uma extensa lista de pontos positivos das hidrelétricas em relação a outras fontes de geração de energia elétrica, igualmente renováveis como a solar e a eólica, o aproveitamento da força das águas na Amazônia se reveste em alternativa que vai bem além do relativo impacto ambiental.

Mas poucos se dão conta disso.

Quando se trata da comparação das hidrelétricas com a geração por meio da queima de carvão ou petróleo nem se fala.

Por sinal, o emprego de motores à diesel para movimentar geradores em cidades isoladas ou do interior, nos nove estados amazônicos, deveria ser repudiada de forma veemente nos documentos finais da COP30.

Em síntese, além de possibilitar a manutenção de um estoque considerável de água no local, as hidrelétricas se revertem em alternativa econômica de elevada capilaridade junto a população, pelo uso econômico do lago formado.

Quem pode desconsiderar o significado, para um bioma que depende de umidade elevada como a Amazônia, de um reservatório de água que pode contribuir para reduzir o período de seca e, o melhor, limitar o impacto das usuais e nefastas queimadas e até dos bem raros incêndios florestais?

Por óbvio a hidrelétrica, passado o período de movimentação de trabalhadores e de material para construção das barragens, momento em que a pegada de carbono do empreendimento chega ao limite, ficará por mais de 100 anos gerando energia elétrica com quantidades inexpressivas de carbono colocado na atmosfera.

O balanço favorável à hidrelétrica é imbatível, diante do fato de que a produção e instalação de painel possui expressiva emissão de carbono com quantidade significativa de solo imobilizado, para uma vida útil de, no máximo, 20 anos.

Mesmo raciocínio vale para a energia eólica em que a produção e instalação dos cata-ventos dependem de muito carbono e a vida útil se mostra igualmente reduzida a 25 anos.

Há outra evidente e decisiva vantagem relativa das hidrelétricas, o uso popular do lago de estocagem de água.

Não tem espaço produtivo e de lazer para a população com a geração solar ou eólica nos moldes permitidos pelo lago da hidrelétrica.

         O gargalo das hidrelétricas é que dependem dos rios e não podem ser instaladas no Acre, por exemplo, onde a energia limpa será possível somete a partir da queima de madeira, isto é, de biomassa florestal.

         Será melhor para o planeta se em cada rio da Amazônia com força da água para gerar energia elétrica a COP30 promova a instalação de uma usina hidrelétrica.

Quanto mais cedo você chegar a essa conclusão melhor para os esforços de redução do calor no mundo, mas não diga para os ambientalistas ditos preservacionistas, aqueles que defendem, à todo custo com ou sem amparo na ciência, a máxima de que tudo que é pequeno, é também bonito e sustentável. Não é!

Esse raciocínio melancólico e saudosista não vale, por exemplo, para as cidades.

O providencial censo demográfico, realizado somente em 2022 com dois anos de atraso por preguiça mental dos gestores públicos da época, trouxe estatísticas reveladoras da vida urbana no país.

De cada dez brasileiros, nove vivem em área urbana, um contingente que pode chegar a quase dez no Rio de Janeiro e em São Paulo, com crescente parcela morando em edifícios e apartamentos.

Do ponto de vista do aquecimento do planeta, caso não houvesse cidades com mais de 300.000 habitantes, quantidade que pode ser considerada pequena no universo demográfico mundo afora em geral e no Brasil em particular, o mundo teria chegado bem mais cedo e rápido, à temperatura considerada limite de conforme definido pelo Acordo de Paris, assinado por todos os países em 2015.

Fácil entender que uma quantidade bem maior de recurso natural seria consumida para, no mínimo, prover as vias pavimentadas de ligação de cada área urbana de cidades menores.

Da mesma maneira que a área composta de paisagens naturais ou simplesmente rurais transformadas pelo concreto urbano seria, no melhor dos cenários, triplicada para receber as pessoas e garantir o processo de expansão.

Com taxas de urbanização que chegam a 97% da população, para o caso de São Paulo, fácil imaginar o grau de alteração dos ecossistemas para garantir a distribuição de um contingente de 11.451.245 pessoas em algumas 40 outras cidades de menor porte.

Resumindo, o planeta depende das metrópoles, que ao contrário do que pensam os preservacionistas, quanto maior melhor para a sustentabilidade, por concentrar em um mesmo espaço o máximo de população e a grande estrutura de concreto e asfalto que todos demandam.

Como não poderia ser diferente, para concentrar um número expressivo e cada vez maior de pessoas, não existe solução mais engenhosa que a tradicional e injustamente questionada verticalização.

Acontece que um prédio de médio porte, com oito andares e oito apartamentos por andar, consegue juntar entre 128 a 320 pessoas, segundo as médias do último providencial censo demográfico do IBGE, em um terreno 64 vezes menor que aquele ocupado pela mesma quantidade de casas.

Dois prédios, dessa dimensão, justificam a instalação de estruturas de lazer, praças e alguma área verde somente possível e, o melhor, sustentável em termos ambientais, devido a concentração de gente promovida pela verticalização.

Resumindo, com maior número de metrópoles com muitos edifícios, para receber uma população que deve parar de crescer e se estabilizar quando chegar por volta de 11 bilhões de pessoal, a emissão de carbono no ambiente urbano poderá ser assimilável pela resiliência do planeta.

Nada disso será possível com todos vivendo como querem alguns: em cidades bem pequenas, hospitaleiras, românticas e cheias de casas. Simples assim!

Essa conclusão não saiu da cabeça de algum ambientalista preservacionista ortodoxo ou da tese do próprio autor desse artigo que afirma nesse espaço, desde o final da década de 1990 do século passado, algo parecido, mas de José Alexandre Scheinkman, um dos nossos economistas de maior prestígio mundo afora.

Com a estatura intelectual fornecida pelo cargo de professor da Universidade de Columbia, em Nova York, Scheinkman realiza palestras em tudo que é canto apresentando os resultados de suas análises sobre o impacto econômico decorrente do aquecimento do planeta e mostrando um acerto de contas relativamente simples e de fácil entendimento.

Pela sua acertada contabilidade o desmatamento zero da Amazônia reduziria a contribuição brasileira na produção de carbono em 40%, enquanto que, por outro lado, se todos os países realizarem um esforço concentrado, que até o momento se mostrou impraticável, vão conseguir reduzir em 30% as emissões de carbono e sabe-se lá quando, em quanto tempo.

Por isso, em suas palavras:

“Se o mundo fizer um esforço muito grande de redução de emissões, vai conseguir baixar em 30% sabe-se lá em quantos anos. Acabando com o desmatamento na Amazônia (desmatamento zero ele quer dizer), a redução no Brasil seria proporcionalmente maior e mais rápida”.

Antes, nunca é demais explicar, o desmatamento zero inclui o desmatamento ilegal, que o caro serviço de fiscalização estatal vem conseguindo reduzir de maneira paulatina e permanente desde o final do incompetente período entre 2019-2022, mas também contabiliza o desmatamento legal, aquele que é um direito do produtor.

A legalidade é fornecida pelo Código Florestal, que a despeito de muito criticado pelos especialistas devido a pouca ousadia em enfrentar o eterno problema do desmatamento na Amazônia, foi aprovado em 2012 e teve sua constitucionalidade reconhecida pelo Supremo Tribunal Federal em 2018, ou seja, está valendo.

Pela legislação o produtor pode desmatar até 20% de sua propriedade na Amazônia, sendo que em alguns locais onde foi aprovado o Zoneamento Econômico e Ecológico, como no caso do Acre, por exemplo, essa área pode ser ampliada de forma expressiva.

Por isso a importância em se quantificar o valor econômico do carbono retido na floresta da Amazônia, de modo a mostrar que esse estoque pode gerar renda superior à criação do gado solto no pasto na hegemônica atividade produtiva da pecuária extensiva.

Resumindo de maneira exemplar e irretocável Scheinkman conclui sua sábia conclusão da seguinte forma:

“A moral da história é o seguinte: ainda que seja crucial reduzir as emissões de CO2, parar de desmatar e reflorestar é um caminho mais rápido, mais barato e mais viável de evitar o aquecimento global. Nisso, a preservação e a restauração da Amazônia brasileira é fundamental para o mundo”.

Mais claro impossível.

E a COP30, que acontecerá em novembro, na capital do Pará, não pode deixar de demarcar o rumo para o desmatamento zero da Amazônia.

Será que a mudança de denominação de Polícia Rodoviária Federal para Polícia Viária servirá para estabelecer um protocolo de abordagem ao cidadão que considere todos inocentes até que se prove o contrário?

Tudo indica que não, pelo seguinte.

Para os que saem de São Paulo para conhecer Rondônia ou vice-versa aceitem desde já um conselho: pulem Mato Grosso.

Não por causa das belezas naturais que, tal qual a paisagem por todo esse abençoado e imenso país, são por demais exuberantes. E não devido aos mato-grossenses que são, igualmente, singular, receptivos e hospitaleiros em toda sua essência.

E, finalmente, não pela conservação constrangedora da malha viária em vias que ainda não foram privatizadas, estadual ou federal, que por razões incompreensíveis ainda não foram entregues ao eficiente gerenciamento privado, a despeito do sucesso na manutenção e segurança dos trechos com pedágio como acontece em tudo que é lugar mundo afora.

Mas, espante-se, por causa da polícia rodoviária (federal e estadual). Pode parecer estranho, contudo, há algo de sinistro no aparato policial rodoviário do Mato Grosso.

Desde que iniciei algumas aventuras rodoviárias, o nome é aventura mesmo, teimando em fazer turismo de carro, o termo é teimar mesmo, que percorro de maneira regular um longo circuito saindo da Amazônia em direção às regiões sudeste e centro-oeste.

Um veículo de passeio costuma ser perigosa exceção entre milhares de caminhões carregados de soja e alguns outros produtos do nosso competitivo e reconhecido agronegócio destinados à exportação e que geram quase a metade da riqueza, ou PIB, nacional.

Os caminhões, em sua maioria com dois vagões e mais de 25 metros de comprimento, realizam o percurso que vai da área de cultivo de grãos aos portos de embarque em Porto Velho (Rondônia) e no litoral do sudeste.

Rodam em média a 80 Km/h representando um desafio constante ao motorista do carro que roda a 120 Km/h para serem ultrapassados em uma malha viária com excesso absurdo de faixa contínua e que, ao mesmo tempo, não possui terceira faixa de ultrapassagem.

Não há como fazer esse trajeto sem passar por Mato Grosso. Desde 1990 percorro essas estradas e nesses quase 30 anos várias cidades foram formadas, ampliaram o IDH, se urbanizaram. Algumas poucas permaneceram estagnadas.

Nesse período passei por várias experiências no mínimo esdrúxulas, umas 15 sendo mais exato, envolvendo abordagem por policiais rodoviários com constrangimentos variados.

Todas elas aconteceram em Mato Grosso e todas elas causaram, por alguma razão, perplexidade nos ocupantes do veículo. Em nenhuma delas ocorreu alguma satisfação, enquanto cidadão e turista, com a atuação dos policiais. Mais de 80% das situações foram criadas pela polícia rodoviária federal.

Parece que os policiais que atuam em Mato Grosso consideram suspeito viajar em veículo de passeio por rodovias dominadas por caminhões e treminhões e se empenham fazendo de tudo para piorar sua experiência com o congestionamento, buraco, semáforo e uma centena de quebra-molas.

Longe de cair na ladainha sem provas daqueles que acreditam e vêem corrupção a torto e a direito (ou no jargão político: na esquerda e na direita), pelo contrário, se você não é parece correto supor que a maioria das pessoas também não, inclusive aquelas que se dedicam à valiosa arte da política.

Dentre as constrangedoras abordagens realizadas pela polícia rodoviária federal de Mato Grosso três delas merecem ser contadas, na versão resumida obviamente.

Na primeira abordagem, ocorrida há uns cinco anos, em um veículo veloz, dois policiais rodoviários nas proximidades da majestosa cidade de Barra do Garças, dispararam em uma perseguição cinematográfica que somente após alguns quilômetros foi possível perceber qual veículo estava sendo perseguido.

Após estacionar, os polícias se aproximaram com a mão na arma, puxaram conversa fiada com a indignada carona e ficaram olhando um carro novo, quase zero, como se fosse roubado. Sem explicar as razões daquela abordagem sinistra e espalhafatosa permaneceram um tempo incompreensível com o documento do carro e a carteira de habilitação, sob um sol à pino, na certa à espera de alguma atitude revoltada do indignado motorista, o que não aconteceu. Algo no mínimo esdrúxulo.

Já a segunda e terceira abordagens, que também merecem uma versão resumida, ocorreram em trechos semelhantes: a segunda na chegada a Cuiabá e a terceira na volta para Vilhena com intervalo de 20 dias entre uma e outra.

Poderia até ser piada, mas não é.

Acontece que ao sair de Vilhena e logo após a entrada no território mato-grossense um jovem policial, após deixar passar dezenas de caminhões exige que encoste o carro fora da pista de rolamento, o que indica uma determinação prévia e incompreensível de que será uma fiscalização demorada.

Abrir a janela não é suficiente e o policial, mesmo vendo o interior do veículo somente com bagagens e que claramente se tratava de uma família fazendo turismo em um carro zero recém-adquirido, ameaça o motorista: bafômetro ou multa?

Como se houvesse alguma decisão a ser tomada diante de tal agressiva imposição ainda completa: a decisão é sua. Importante um adendo, essa abordagem ocorreu antes das 11 horas da manhã.

Considerando que eles precisavam completar metas de estatísticas sobre bafômetro, algo por sinal inusitado para uma polícia rodoviária que se pretende superior, o bafômetro foi soprado e engolindo o constrangimento pelo tempo perdido nessa imundície, o caminho retomado.

Todos achando que o contratempo havia sido superado até que na volta…

Não é que no mesmo lugar, mesmo policial, mesma liberação de um monte de caminhão, acontece a interceptação e outro comando para estacionar? Nova intimidação com ameaça de multa, de apreensão do carro e de averiguação de documentos, do condutor e do veículo, repetindo um procedimento maldosamente interminável.

Mais inacreditável ainda foi abrir a janela afirmando que havia sido fiscalizado na ida, 20 dias antes, e nada. Houve, inclusive, um ato falho do tipo “é, me lembro do senhor”.

Como não havia, como se diz por aí, nada de novo, sem cerimônia, com um comportamento deplorável, do nada, os policiais na tentativa inútil de justificar o comportamento questionável pela brutalidade e imbecilidade afirmaram que a película no para-brisa, a mesma da ida, agora estava mais escura que o permitido na legislação.

Simples assim, em total desconsideração pelas regras básicas de cidadania e respeito com o cidadão, com os mais idosos e, evidente, com os mais inteligentes arrancaram a película diante do olhar perplexo do condutor e de sua família.

Convenhamos, generalizações são sempre perigosas, contudo como convencer quem passou por situações semelhantes que os policiais rodoviários de Mato Grosso merecem reconhecimento?

 Fim da história.

Para os menos familiarizados sobre a importância da convenção da Organização das Nações Unidas, ONU, sobre mudança climática a trigésima conferencia de negociação dos países, ou COP30, acontecerá em Belém, capital do Pará em novembro próximo.

Será o momento adequado para discussão de políticas de desenvolvimento para a Amazônia e a avaliação do modelo adotado pelo Brasil, que desde a década de 1970 do século passado prioriza o financiamento estatal da pecuária extensiva.

Resumindo, o tema do desenvolvimento regional, que tem em Celso Furtado seu maior expoente nacional (principalmente no que se refere aos estudos sobre desigualdades regionais e desenvolvimento x subdesenvolvimento), a identificação da vocação produtiva da Amazônia precisa ir além do que preconiza a consolidada teoria das vantagens comparativas.

Por seu turno, a bibliografia especializada na teoria da vantagem competitiva (cuja obra de Michael E. Porter “A Vantagem Competitiva das Nações” é referência incontornável) coloca a formação de cluster, entendido como aglomerado econômico de indústrias afins em uma determinada localidade, como referencia para ampliar a competitividade de uma região ou país.

Em uma rápida síntese, a ideia força pode ser descrita mais ou menos assim: se todas as propriedades rurais desse gigante país criam gado solto no pasto, no sistema conhecido por pecuária extensiva, não será ofertando o mesmo gado que a Amazônia atrairá investimento privado.

Por outro lado, uma vez que os produtos florestais são monopólio regional, como bem comprova os ciclos econômicos de maior riqueza na história da Amazônia, a biodiversidade florestal se mostra imprescindível para conquista de vantagem competitiva frente a outras regiões.

Na verdade, foi o estudo dos ciclos econômicos baseados em produtos florestais que possibilitou, aos pesquisadores, sistematizar a composição de aglomerados econômicos compatíveis com as peculiaridades ou identidade produtiva de cada um dos nove estados amazônicos.

Sendo assim, o debate a ser realizado na COP30, deveria ser direcionado ao conjunto de projetos produtivos capazes de superar o desafio de trazer os pressupostos da teoria das vantagens competitivas para a realidade atual da Amazônia.

Como? Mediante a esquematização dum cluster, ou seja, a reunião de diversos setores industriais que tenham em comum a origem de sua matéria-prima, o primeiro elo da cadeia produtiva no interior do ecossistema florestal.

Entretanto, o desafio da COP30 para compor uma agenda de política pública voltada à identidade produtiva regional, a despeito dos avanços realizados pela Organização do Tratado de Cooperação da Amazônia há mais de trinta anos, será enorme por várias razões, duas delas merecem destaque.

Primeiro que não existe, na Amazônia, nenhum cluster do ecossistema florestal estabelecido para servir de diagnosticado e permitir propor projetos produtivos para sua ampliação ou estruturação, o que seria o ideal.

Talvez o empreendimento regional que mais se aproxime da ideia de cluster seja a Zona Franca de Manaus, que, entretanto, não guarda nenhuma relação com o cluster do ecossistema e nisso reside a segunda razão do desafio para COP30.

Ou seja, a transferência de formulações elaboradas “sob medida” para fábricas ou usinas consolidadas, em operação no segmento industrial elétrico eletrônico, ou têxtil, ou ainda de química fina, e até de informática.

Logo depois adequar a fórmula para um setor econômico, que por sinal não existe, quer seja em termos de atratividade para investimento pelo mercado e, talvez o ainda mais grave, sequer foi estudado no seu conjunto sob a ótica da importância econômica para a região, o ecossistema florestal da Amazônia.

Superar as análises localizadas sobre o exuberante ciclo econômico das drogas do sertão, da borracha, da castanha-da-Amazônia e da madeira, até chegar a uma necessária avaliação sistemática do cluster do ecossistema permitirá quantificar sua superioridade frente a hegemônica, estagnada e predatória pecuária extensiva sempre refém do desmatamento.

Talvez assim, a COP30 poderá ser lembrada como um divisor na história econômica do desenvolvimento e do desmatamento zero da Amazônia.

Pior, com recorde de calor desde que o Brasil foi descoberto pelo império português, janeiro de 2025 manteve uma sequencia de 18 meses consecutivos com picos de temperatura do planeta.

Difícil escrever essa informação de maneira clara e objetiva o suficiente para acreditar que todos entenderam a mensagem. Mas, por favor, prestem bem atenção que a situação é grave.

Se antes a imprensa nacional se detinha na publicação de algum calor absurdo em um ou outro mês, quando superavam em muito as medições realizadas durante a revolução industrial iniciada ao final do século dezoito.

Agora, prestem bem atenção, extremos mensais e anuais de calor se espalham mundo afora.

Evidente que o uso em larga escala do petróleo, em especial após a primeira guerra mundial, com a escalada do petróleo, transformou as estatísticas do calor planetário com saltos que colocam em risco quase tudo.

Significa afirmar que o aquecimento do planeta deixou, há muito tempo, de ser uma preocupação de ambientalistas e ativistas ecológicos adolescentes ao provocar prejuízos econômicos incalculáveis e em larga escala.

Desde o relatório do governo do Reino Unido sobre o impacto econômico das mudanças no clima, publicado no final da primeira década do século atual, que os custos de reparação e mitigação das tragédias decorrentes do recorde de temperatura se mostraram elevados em demasia para o sistema financeiro mundial.

Resumindo, nenhum país isolado ou grupos de países reunidos em seus mercados comuns possuem estoque de dólares em reserva financeira suficiente para aplacar a fúria da natureza quando o recorde de calor se mostrar irreversível.

E isso vai acontecer em um prazo cada vez mais curto se alguns projetos da política ambiental internacional não forem colocados em prática agora.

Não à toa, na COP30, que acontecerá em Belém, capital do Pará, em novembro próximo, será o momento propício, em meio ao calor insuportável da Amazônia, para debater saídas imediatas para estancar o aumento da temperatura global.

Afinal de contas mantida a sequencia de meses mais quentes, o que por sinal fez de 2024 o ano em que a humanidade foi exposta a maior quantidade de calor de sua história, não há dúvida: no final de 2025, a COP30 vai acontecer em uma bolha de ar condicionado, sem vislumbrar alguma saída para o ar livre.

Não existe plano B, as medidas são conhecidas e foram propostas pelos 198 países associados à ONU quando da assinatura do pacto global conhecido por Acordo de Paris, ainda em 2015.

O prazo para mostrar os resultados por cada nação, segundo seu compromisso com a humanidade, termina em 2030.

Entretanto, será agora em 2025, a partir dos consecutivos aumentos de calor, que todos os países devem demonstrar seu comprometimento com a execução de suas próprias metas de retirada de carbono da atmosfera.

Restará aos brasileiros mostrarem que o desmatamento zero da Amazônia está próximo e aos outros países que sua energia elétrica não depende de petróleo.

Há vinte anos o autor desse texto defendia, durante o doutorado no Centro de Desenvolvimento Sustentável da Universidade Nacional de Brasília, tese sobre o que chamou de saída pela floresta para a economia e o desenvolvimento da Amazônia em geral e do Acre em particular.

De maneira bem resumida, o estudo detalhado e publicado em quase mil páginas discutiu, na primeira parte, um extenso rol de bibliografia, com mais de trezentas citações, sobre o fracasso do modelo de ocupação produtiva ancorado na expansão da pecuária extensiva.

Planejada para servir de suporte no meio rural, ou no setor primário, para a indústria extrativa da mineração e a industrialização forçada pelo polo industrial e Zona Franca de Manaus, a criação extensiva de gado apresentaria relação custo-benefício deficitária e prejuízos incalculáveis para a sociedade.      

Demonstraria assim, com certa facilidade e fartura de exemplos que a pecuária extensiva se viabilizava na Amazônia exclusivamente por meio de três variáveis complementares: oferta anual e permanente de crédito estatal por mais de sessenta anos, adoção de tecnologia de baixa produtividade e primitiva com o plantel animal solto no pasto e, o mais grave, terras baratas.

Com poucas variações o modelo de desenvolvimento do século passado foi replicado em toda região, levando a criação extensiva da gado a ocupar áreas nobres em relação à logística, sempre localizadas na beira das rodovias federais e na mata ciliar de todos os rios.

Somente para exemplificar, levantamentos realizados no trecho do Rio Purus entre as cidades de Sena Madureira e Manuel Urbano não deixam dúvidas sobre a total substituição da mata ciliar em propriedades de médio e grande porte com mais de 1.000 hectares de cultivo de capim em pasto de qualidade comprovada.

Contudo, se de um lado a tecnologia primitiva da criação extensiva e do capital farto não enxergam limites, de outro lado a necessidade de permanente de expansão em terras baratas chamou atenção para o efeito nefasto do desmatamento.

Ocorre que por ser uma atividade econômica com competitividade bastante reduzida, uma vez que perde em ganhos de produtividade para o cultivo de cana-de-açúcar e de plantio de eucalipto, por exemplo, (como se comprova na realidade do cluster florestal de Três Lagoas no Mato Grosso do Sul), a pecuária extensiva depende do desmatamento para conseguir os imprescindíveis ganhos de escala.

Até chegar na segunda parte da tese, onde o autor defende a estruturação de um Cluster do Ecossistema na Amazônia para prover o esperado crescimento econômico condicionado ao desmatamento zero da região.

Na COP30 o desmatamento zero será defendido por 100% dos 198 países associados à Organização das Nações Unidas, ONU, mas nenhum apresentará alguma proposta de política pública diferente da fiscalização.

Deixar bem claro na COP30, que o desmatamento zero inclui o combate ao desmatamento ilegal mantendo o oneroso aparato de fiscalização estatal que tanto pesa no orçamento publico e o enfrentamento ao desmatamento legalizado pelo Código Florestal.

Um desafio enorme para a COP30 posto que há clara dificuldade aos países para aceitar a existência do desmatamento legalizado e maior ainda em acreditar que o estímulo a atividades produtivas mais rentáveis que a pecuária extensiva pode resolver.

Afinal, como é possível alcançar o desmatamento zero explorando a floresta com tecnologia para gerar mais renda que a pecuária extensiva?

Não foi a primeira vez e, por óbvio, não será a última que uma reportagem repleta de equívocos atrapalha a compreensão acerca das causas e consequências do desmatamento na Amazônia.

Em matéria recente publicada em jornal de circulação nacional o pouco preparado responsável pelo artigo saudava, com um rol extenso de elogios, a produção de café na Reserva Extrativista Chico Mendes, no Acre.

Um ícone para conservação da floresta na Amazônia, essa unidade de conservação inserida no grupo de uso sustentável, recebeu o nome do líder ecologista reconhecido mundo afora.

A Resex Chico Mendes, como ficou conhecida, foi a primeira unidade desse modelo de conservação da floresta a ser instituída por Decreto do Presidente da República, ainda em 1990.

Sua peculiaridade e diferencial frente a uma Estação Ecológica ou Parque Nacional é que a Resex concilia a presença de uma população tradicional explorando um ou mais produtos florestais no modo extrativista de produção (nesse caso dois produtos florestais: borracha e castanha-da-Amazônia).

Única opção com fins comerciais, na Resex a renda do produtor terá que surgir, sem exceção, da produção florestal, ficando a produção de milho, arroz, feijão, macaxeira e a vaca destinada à subsistência, podendo algum pequeno excedente ser vendido no mercado local.

Voltando à equivocada reportagem, a produção de café em uma Resex, com fins comerciais e em especial para exportação, é terminantemente proibida pela Lei que instituiu o Sistema Nacional de Unidades de Conservação (SNUC), ainda em 2.000.

Extrapolando nos equívocos a reportagem sugeria também que o cultivo de café, uma espécie clonada e estranha ao bioma amazônico, inibiria o desmatamento. Algo inusitado posto que o café foi plantado onde antes havia uma floresta.

Reside nesse ponto, na competitividade da floresta, a razão pela qual as taxas de desmatamento persistem ano após ano na Amazônia.

Borracha deixou de ser um produto para se transformar em apelo social desde início do século atual e a castanha-da-Amazônia, a despeito de ser um produto altamente competitivo, ocorre somente em 20% do território do Acre.

Ociosa para o produtor a área de floresta foi desmatada para dar lugar ao cultivo de capim em uma pecuária extensiva com sofrível produtividade, que depende de quase dois hectares para criar um boi.

Foi nesse lugar que se deu o contrassenso econômico de dois hectares da maior biodiversidade florestal do planeta valer menos que um boi, onde o café está sendo cultivado e contrariando a sensatez e a legislação vigente será comercializado e fornecerá a renda que o produtor demanda.

Contudo, continuando no raciocínio, em uma propriedade localizada em um dos muito assentamentos geridos pelo Incra, o café poderá substituir a falida pecuária extensiva desde que seu cultivo não ultrapasse os 20% da área total da propriedade, com permissão legal, segundo o que prevê o Código Florestal, para desmatar.

Por isso, pouco importa se o desmatamento será legalizado ou realizado à margem da legislação.

Para os países associados à ONU, o que importa é o desmatamento zero, para evitar que a aquecimento do planeta se intensifique causando tragédias cada vez mais recorrentes como as alagações e cheias nos rios na Amazônia.

Entender a dinâmica do desmatamento na Amazônia será o dever de casa que todo jornalista brasileiro na COP30 terá que dominar.

Antes, outra informação importante foi o igualmente inexplicável recorde de queimada ocorrido em dezembro de 2024, quando foram detectados pelo reconhecido Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, Inpe, um total de 30 focos de fogo ante uma média para dezembro de 7 queimadas nos últimos 28 anos.

Saltar de 7 para 30 queimadas e em dezembro, pode parecer pouco aos desavisados, mas não é!

Pesquisadores e analistas que se debruçam para entender a dinâmica do desmatamento e das queimadas em toda a Amazônia e no Acre em particular foram surpreendidos pela gravidade das estatísticas.

As razões não são nada óbvias posto que em dezembro a pluviosidade elevada não permite que o conhecido triangulo do fogo (fartura de combustível, temperatura ou calor e comburente ou oxigênio) se concretize ao umedecer o combustível e manter o termômetro em baixa.

Quando comparado ao período dos três meses diabólicos das queimadas, em que há bastante floresta derrubada para queimar, seca ou pouca chuva e um calor insuportável (agosto, setembro e outubro) as condições climáticas após novembro são outras, desfavoráveis para os produtores, pequenos e grandes, que insistem na primitiva e nefasta prática agrícola da queimada.

Por sinal, o ano de 2024 pode ser considerado um dos piores para o controle das queimadas no Acre com três recordes para os meses de junho, outubro e dezembro, o que não ocorria desde 1998 quando o Inpe iniciou suas precisas medições.

Contudo, os meses de junho e outubro se inserem no rol dos meses em que o atual governo do Acre demonstra sua incapacidade para controlar os efeitos nocivos do modelo de desenvolvimento baseado no agronegócio da pecuária extensiva.

Nada mais desanimador que observar ano após ano o resultado das incoerências de um projeto de governo que promove a pecuária extensiva sob a alegação de que desmatar para plantar capim não contribui para alterar o clima.

Uma total ausência de sensatez comprovada pelos recordes de queimadas de dezembro de 2024 e de janeiro de 2025.

Tudo bem que ainda é cedo para estabelecer uma conexão ancorada em estatísticas robustas de causa e efeito, mas uma coisa é certa: as mudanças no clima do Acre explicam boa parte dos recordes de queimadas durante as cheias.

Alagação e queimadas, juntas as duas atuais tragédias ambientais do Acre e o projeto de governo do agronegócio da pecuária extensiva nada tem a ver com isso?

O fato é que no cálculo da média mensal, em janeiro de 2025 no Acre ocorreram 35 queimadas, a maior quantidade em 28 anos mantendo a tendência observada no mês anterior, em dezembro de 2024.

Pode ser uma exceção, quem sabe dois pontos fora da curva, mas não seria bem mais sensato traçar um plano para evitar acontecer de novo?

Afinal, quem sabe também pode ser que o projeto de governo do agronegócio da pecuária extensiva não seja tão sustentável como faz parecer a comitiva acreana dos atuais gestores e políticos que participam das conferencias da ONU sobre mudanças climáticas.

E, claro, irão para a COP30.

Nada mais oportuno, afinal será em Belém do Pará e em dezembro, o mesmo mês do inexplicável recorde de queimadas durante as cheias dos rios no Acre.

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