Vários municípios do interior da Amazônia, cujas economias e a dinâmica social estão estreitamente vinculadas às características hidrográficas, e, por isso, dependem da manutenção da vazão nos rios, decretaram situação de calamidade pública devido à ocorrência do que, pode vir a ser, uma das piores secas já ocorridas na região.

Acontece que o fluxo hídrico nos rios amazônicos vem, nos últimos anos e apesar dos que acham que tudo faz parte de um ciclo natural, extrapolando seus limites, tanto quando sobra água quanto quando falta.

As elevadas variações de vazão dos rios são conhecidas dos amazônidas. Pontes com vão extensos são construídas sobre igarapés que, no período de pouca vazão assustam e sugerem, muitas vezes, desperdícios de recursos pelos técnicos da engenharia civil. Todavia quando chega o período da alta vazão, as gigantescas pontes parecem se estreitar.

Mas essas flutuações de vazão têm apresentado indicadores cada vez menores e maiores. A cada ano a seca é mais forte e seu contraponto a alagação é recorrente. Ou seja, o fluxo de água no rio não atende a demanda da população nem em um extremo nem no outro.

O resultado desse comportamento indesejável dos rios é, igualmente, conhecido. Na dificuldade de compreender as razões dessas sensíveis alterações nas características hidrológicas dos rios, as autoridades e uma boa parte dos técnicos costumam se ater em resolver as conseqüências. E aí duas idéias mirabolantes de engenharia insustentável surgem imediatamente: canalização e alteração do leito do rio.

A primeira idéia mirabolante enquadra o fluxo de água em um determinado espaço concretado, o que ajuda na coleta de água, reduz a perda por absorção do solo e contribui para mitigar riscos de desabastecimento. O único problema é que o que era rio vira canal, o rio não existirá mais e o canal será cada vez mais um canal, até servir para chuva e esgoto.

Já a segunda idéia é ainda mais mirabolante. Parte do princípio de que é possível fazer com que o rio se adéqüe à cidade e não a cidade ao rio. Mudar o leito do rio para agradar os adeptos de um planejamento insustentável da ocupação, rural e urbana, era considerado, até recentemente, uma alternativa inovadora e, pasmem, adotada para melhoria do meio ambiente. Ainda bem que isso acabou.

A seca profunda, como a que esta ocorrendo nesse momento, e a alagação que se repetirá em janeiro, não podem entrar na rotina do cotidiano das autoridades e das pessoas. Muita água ou falta de água, quando são excessivas, refletem um desequilíbrio, cujas causas são passíveis de medição e para as quais existem soluções.

Não há necessidade, a não ser que seja essa a oportunidade política que alguns esperam, de ano após ano, os decretos de calamidades públicas desencadearem um rol de operações assistenciais, com custos que as frágeis economias locais não suportam. Apelar para a solidariedade de outros povos, para fazerem doações nas secas e alagações, nas comoções sociais comuns, não resolverá nada.

O problema é manter um fluxo estável de água no sistema hídrico local.

Não falta água porque não chove e não chove porque falta água, da mesma forma que não há alagação porque chove muito, ou chove muito porque tem alagação. Raciocínios que se remetem à ação que cai dos céus não contribuem para encontrar uma solução, que, pode acreditar ela existe.

Para estabilizar e manter água no sistema a ocupação produtiva da área de influência da bacia hidrográfica não pode ser baseada na retirada da floresta.

Afinal, é na manutenção do ecossistema florestal, que se encontra a resposta para esse e a maioria dos problemas econômicos e sociais da Amazônia.

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