O Conselho Internacional para Monumentos e Sítios, conhecido no mundo pela sigla Icomos, declarou, em sua última reunião realizada em Manaus, Amazonas, no dia 19 de novembro último, que a Amazônia reunia as condições necessárias para ser declarada Monumento da Natureza. Apesar de uma repercussão limitada, receber esse título é de fundamental importância para a região.

Ocorre que o Icomos é uma associação de profissionais, sobretudo aqueles ligados à arquitetura e à engenharia civil. Reúne, em todo mundo, milhares de técnicos envolvidos com a instalação de infra-estrutura, com a restauração de prédios históricos e a manutenção de patrimônios urbanísticos. Ou seja, um grupo de profissionais que, até então, não haviam demonstrado sua preocupação com o lado conservacionista que a Amazônia reivindica.

Sem muita cerimônia, a engenharia costuma direcionar sua atenção para alterar a paisagem. Na maioria das vezes, são profissionais que atuam para adequar determinado ecossistema às demandas da sociedade. Se existe procura por energia elétrica e se sua oferta promove a ocupação e o desenvolvimento de certa localidade, lá estará um engenheiro cumprindo sua missão por formação: modificar a natureza para felicidade do homem.

A importância é ainda maior pela dimensão que o Icomos possui. Na condição de entidade consultora da Organização das Nações Unidas para Educação e Cultura (Unesco), o Icomos possui voz em todo mundo. Isso quer dizer que sua atitude influencia decisões posteriores de 184 países que assinaram a Convenção do Patrimônio Mundial da Unesco.

De maneira concreta, significa que a execução de obras de infra-estrutura na Amazônia, como a pavimentação de estradas, construção de pontes e de hidrelétricas e assim por diante, cuja prioridade costuma encontrar adeptos incondicionais junto aos profissionais da engenharia, já não gozará de tamanho prestigio.

Duas conclusões importantes se pode tirar da transformação da Amazônia em Monumento da Natureza. Note-se que não se trata somente da parte brasileira, mas sim, de toda região amazônica, incluindo Venezuela, Colômbia, Equador, Peru, Bolívia, Guiana, Suriname e Guiana Francesa, em Monumento da Natureza. A primeira, de que se trata de uma decisão nova e promissora, que abre novas perspectivas para a região com relação ao reconhecimento de sua cultura associada à importância de seus ecossistemas.

A segunda é que o cerco e a pressão internacional para que os países amazônicos assumam uma postura mais ativa com relação à conservação dessa região, aumenta de maneira exponencial, o que sugere ser uma tendência inexorável. Isto é, os outros países, ao reconhecerem a importância da região em todas as áreas, reforçam o consenso de que sua conservação é mais que oportuna.

Não foram os ambientalistas que deram esse novo título para a Amazônia. Tampouco os biólogos, antropólogos ou outros profissionais vinculados à área ambiental. Foi o pessoal da infra-estrutura, aqueles que tardaram a reconhecer que a era de obras grandiosas na Amazônia parece se aproximar do fim.

Como afirmaram os pesquisadores da Fundação de Tecnologia do Acre (Funtac) no ano 2.000, quando da elaboração do Relatório de Impacto Ambiental (Rima) para pavimentação da estrada Transacreana, o princípio da identidade (para com o meio na qual a estrada será instalada) deveria nortear as decisões acerca da pavimentação de BRs na Amazônia.

Não se poderia instalar uma BR aqui da mesma maneira do que em São Paulo. Há necessidade de adequação tecnológica e um primeiro passo seria a utilização das tecnologias já desenvolvidas, como: Varadouro Real, Estradas-Parque, calçamentos com tijolo de barro e as pedras de barro.

Os pesquisadores da Funtac, pareciam estar se antevendo à decisão do Icomos, que transformou a Amazônia em Monumento Natural.

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