Como bons planejadores que são, daqueles que só atuam mediante minucioso plano – que, aliás, e diferentemente do que ocorre por aqui, é sempre cumprido à risca -, os alemães tomaram uma decisão inédita: banir, até 2022, a geração de energia elétrica obtida por meio das 18 usinas nucleares em funcionamento no país.

Essa resolução, não há dúvidas, irá alterar radicalmente o mercado de energia elétrica mundial. Acontece que, diante da crise ecológica desencadeada pelo uso dos combustíveis fósseis – leia-se petróleo – e diante ainda da crise igualmente importante de abastecimento prevista para meados de 2050, quando as reservas de petróleo começarão a secar, e a oferta do precioso óleo não atenderá à demanda mundial, a geração nuclear de energia elétrica ganhou adeptos em todos os seguimentos, inclusive – pasme-se – no movimento ambientalista internacional.

Entidades de reconhecido prestígio mundo afora, como Greenpeace e WWF – para ficar na dupla mais famosa – puseram-se em defesa das usinas nucleares como principal componente duma matriz energética tida como limpa.

Alegava-se que a geração nuclear seria a mais sustentável, e que o único problema a ser enfrentado seria a deposição do lixo atômico – o que já se havia resolvido no mundo desenvolvido, mediante a construção de aterros sanitários específicos para os restos do urânio, a serem localizados, de preferência, bem longe dos ambientalistas.

Em relação aos riscos (pois acidentes envolvendo usinas nucleares costumam dizimar populações inteiras e causar efeitos residuais por mais de 50 anos), não haveria motivos para preocupação, uma vez que os níveis tecnológicos contemporâneos garantiriam 99,99% de segurança. Ora, um riscozinho de 00,01 estaria dentro dos limites aceitáveis.

Porém, toda essa argumentação foi por terra – ou por água abaixo, para ser mais fiel à realidade vivenciada na usina de Fukushima. A pretensa segurança nuclear (mesmo no Japão) não conseguiu prever que os eventos climáticos chegariam às proporções atualmente observadas, alterando de tal forma a estabilidade do relevo, que a possibilidade de acidentes nucleares, ainda que quase inexistente sob o ponto de vista estatístico, transformou-se em cruel realidade naquele país, onde o raio de evacuação da população local já atingiu a marca dos 30 quilômetros a partir da usina. (A catástrofe atômica começa a criar suas cidades fantasmas, ainda que bem iluminadas).

Para os alemães, a tragédia japonesa transmitiu um recado certo: não há segurança contra eventos sísmicos. Nem mesmo em países como o Brasil, onde, por graça divina, não existem probabilidades estatísticas de ocorrência de furacões, terremotos e tsunamis. A conclusão, óbvia, é que energia nuclear não é um caminho seguro para chegar-se a um futuro sustentável.

A decisão de banimento das 18 usinas (veja-se que não se está falando de usinas que ainda serão construídas, como no nosso caso, mas daquelas que já estão gerando emprego e renda há anos) também se baseou na promoção de tecnologia para as fontes sustentáveis, como hidroeletricidade, biomassa florestal, vento e sol, para ficar nas mais atuais.

O raciocínio é lógico: enquanto a geração nuclear estiver em funcionamento, não haverá investimento em opções tecnológicas seguras e limpas para a geração de energia elétrica. E está-se falando dum país que, há mais de 30 anos, é o maior investidor público em tais tecnologias.

Enquanto isso, um certo país com imenso potencial para a geração de energia elétrica limpa e segura – opção que poderia reverter a letargia econômica presente na Amazônia -, perde-se numa infindável discussão sobre a construção de quatro novas usinas nucleares…

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