Uma produção extrativista ancorada no binômio castanha e borracha estava fadada à falência. Uma diversificação com a inclusão de sementes florestais, produtos fitoterápicos, frutas tropicais, queixada, paca e outros animais da fauna amazônica, tornava-se questão de sobrevivência para manutenção do modo extrativista de produção.

Mas, passou-se o tempo e esses produtos, denominados com algum preconceito de não-madeireiros, continuaram na esfera do potencial, sem que nenhum produto ou leque de produtos adquirisse importância econômica significativa.

Os gargalos tecnológicos da extração (e beneficiamento) que continuam existindo, as dificuldades relacionadas à comercialização de uma cesta enorme de produtos e o pouco esforço institucional investido foram responsáveis pela estagnação da produção florestal até o início do novo século.

O dilema, por sua vez, era que nem se conseguiu viabilizar os produtos não-madeireiros e nem oferecer outra alternativa vinda da floresta para viabilizar a unidade de produção, a colocação, do produtor extrativista.

Enquanto isso, já que o manejo não havia sido viabilizado, e sem opção de produção, as Reservas Extrativistas, um símbolo de conquista do movimento seringueiro, tiveram intensificado seu processo de “agropecuarização” e, com isso, a manutenção da floresta ficou ameaçada.

Fatos importantes ocorreram no período entre 1992 a 1997, quando se percebeu o óbvio. Para proporcionar maior competitividade à floresta e frear-se a agropecuarização nas Reservas Extrativistas, seria imperioso que se incluísse a madeira no rol de produtos a serem explorados pelos extrativistas.

De outra banda, a Convenção sobre Mudanças Climáticas e Biodiversidade, assinada na Rio 92, acirrou a discussão acerca da exploração madeireira. A implementação do Programa Piloto para Proteção das Florestas Tropicais, o conhecido PPG7, marcou o início do reconhecimento, pelo governo brasileiro, da vocação florestal da Amazônia.

A dificuldade tecnológica a ser superada era a de adequar a exploração madeireira à realidade comunitária do extrativismo, definindo-se a intensidade apropriada de exploração e os sistemas adequados de transporte e beneficiamento. A Reserva Extrativista do Porto Dias funcionou como uma experiência de êxito e o Manejo Comunitário ali realizado ofereceu respostas àqueles desafios tecnológicos. Os seringueiros que ali residem e participam desta experiência se autodenominam manejadores florestais.

O resultado é que as resistências nas comunidades foram vencidas e, hoje, índios e seringueiros desejam explorar madeira. Instrumentos normativos para o Manejo Florestal Comunitário foram estabelecidos pelo governo federal, através de Portarias do Ibama.

Depois de 1997 se caminhou ainda mais. Novos acontecimentos reforçaram a tese de que é mais que oportuna a inclusão da madeira no Manejo Florestal de Uso Múltiplo. A assinatura do Protocolo de Kyoto demonstrou que uma vez contida a ameaça da destruição da camada de ozônio, através da restrição ao uso do gás CFC, o maior problema ambiental enfrentado é a quantidade de carbono na atmosfera, responsável pelo “efeito estufa”, que aumenta a temperatura terrestre e cujas conseqüências são catastróficas.

O mecanismo mais eficiente para a retirada deste carbono da atmosfera é a fotossíntese e a melhor forma de mantê-lo inativo, a madeira. Cada árvore transformada em um móvel significa carbono imobilizado por um longo tempo e, o que é melhor, significa que a floresta, manejada, poderá receber mais energia do sol e colocar outra árvore no mesmo lugar.

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