Parece que o aquecimento do planeta ou, melhor dizendo, o calor infernal com recordes em várias cidades, aconteceu, por razões incompreensíveis e destaque para o fenômeno El Niño, somente em 2023, mas não é bem assim.

Há um considerável e reiterado histórico de estudos divulgados por cientistas e pela Organização das Nações Unidas, em especial com assinatura de uma equipe de mais de 3.000 pesquisadores que compõem o IPCC (sigla em inglês para Painel Internacional para Mudança Climática), alertando ao mundo para duas verdades inconvenientes bem comprovadas: o planeta está aquecendo e a culpa é nossa.

Há, inclusive, uma data que pode ser considerada inicial na discussão sobre a temperatura do planeta. Foi quando a ONU, em 1992, organizou no Rio de Janeiro a assinatura de três convenções (do clima, da biodiversidade e da Agenda 21).

Naquele momento, ainda pairava uma série de dúvidas acerca da taxa de aumento da temperatura do planeta e os consequentes impactos, por exemplo, do degelo das calotas polares para as sociedades e ecossistemas mundo afora.

Um grupo de estúpidos, eles sempre existiram, defendia o disparte de que o planeta estaria resfriando e não aquecendo e, desde então, sempre que a temperatura por alguma razão diminuía em um mês atípico gritavam “eu não disse”.

Por eles e pela dúvida reinante costumava-se apelar para o princípio da precaução, um instrumento empregado pelos pesquisadores preconizando que quando há dúvida é melhor não arriscar.

Isto é, mesmo não havendo certeza científica sobre a elevação da temperatura no planeta por precaução seria melhor parar de jogar fumaça na atmosfera (leia mais aqui http://www.andiroba.org.br/artigos/?post_id=2437).

Foi com a publicação do relatório do IPCC de 2007 e o importante documento elaborado pelo governo da Inglaterra sobre os impactos econômicos do aquecimento que tornou o princípio da precaução desnecessário.

Desde 2007 não existe dúvida, o aquecimento do planeta e o calor insuportável na rotina das pessoas seria uma trágica realidade nos próximos anos (leia mais aqui http://www.andiroba.org.br/artigos/?post_id=1765).

Vários eventos extremos de elevação de temperatura começaram a ser observados desde o final do século passado e inicio do atual.

Em 2015 o mês de julho foi o mais quente da história da humanidade. Veja bem, não o julho, mas o mês de maior temperatura até então (leia aqui http://www.andiroba.org.br/artigos/?post_id=3127).

No decorrer de três anos consecutivos, a partir de 1880 quando se mediu a temperatura do planeta pela primeira vez, aconteceram recordes anuais de calor em 2014, 2015 e 2016 (leia aqui http://www.andiroba.org.br/artigos/?post_id=3615).

Por sinal, as estatísticas devem confirmar 2023 como ano mais quente em 125 mil anos de existência do planeta.

Algo até bem pouco tempo impossível de se imaginar e que mostra o caminho para uma tragédia planetária se as soluções aprovadas e comprometidas na ONU quando da assinatura do Acordo de Paris, em 2015, não forem priorizadas pela política internacional.

Em 2023 o calor insuportável chegou às pessoas e trouxe a tragédia da mudança do clima para a agenda política, não tem mais volta. Espera-se!

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