Com a novidade trazida pelo crescimento do Partido Verde, que antes existia somente para uma minoria mais informada, as eleições presidenciais de 2010 chegaram ao segundo turno, com uma agenda e pautas renovadas. Os candidatos procuraram se mostrar simpáticos às questões ambientais, na tentativa de se aproximar dos que teriam votado no PV.

Especulações não faltavam. Parecia existir uma curiosidade e expectativa relacionada a qual candidatura seria apoiada pelo PV, como se esse apoio pudesse significar vitória ou derrota nas eleições. Mas, na verdade, não havia como prever o real significado do apoio do PV em termos eleitorais.

Da mesma forma que não havia como saber as motivações da expressiva votação recebida pelo PV. Se foi um voto mais ideológico, resultado do crescimento mundial das inseguranças ambientais, o que coloca o PV no centro da discussão. Se foi o carisma da candidata. Se foi mais uma opção do chamado voto evangélico. Ou se, por fim, foi resultado da rejeição aos dois outros candidatos e seus partidos.

Não importa, para os que se preocupam com o destino da Amazônia o momento era oportuno para colocar a região na agenda das campanhas, o que não ocorreu no primeiro turno e, infelizmente, também não aconteceu no segundo.

O compromisso que os dirigentes do PV tentaram extrair dos candidatos teria que incluir uma posição clara acerca dos três pontos principais na atualidade da região: construção de hidrelétricas, desmatamento e pavimentação de rodovias.

É possível que em nenhum outro momento da história da ocupação econômica e social da Amazônia, se presenciou um volume de investimentos em infra-estrutura como agora. Em todos os oito estados amazônicos, sem exceção, obras de grande porte alteram a paisagem local.

As hidrelétricas em construção no Rio Madeira, por exemplo, transformaram Rondônia em uma das melhores opções para o investimento privado. A área de influência da obra observa um surto de crescimento inigualável.

Muito embora tragam dinâmica econômica são as hidrelétricas as melhores alternativas para geração de energia elétrica? A alteração permanente, isto é, para sempre, no fluxo hidrológico do rio pode complicar a ecologia da bacia hidrográfica? A arrecadação com os direitos de geração da energia elétrica pode ser reinvestida na bacia para minimizar impactos? Perguntas que deveriam ser respondidas.

As taxas de desmatamentos parecem ser mais difíceis de controlar que a famigerada e superada taxa de inflação. Tal qual a inflação, o desmatamento também é sensível a qualquer mudança na realidade local. Se a dinâmica econômica se aquece a taxa de desmatamento se move para cima, mas quando a dinâmica econômica se estabiliza ou reduz nem sempre a taxa de desmatamento acompanha.

Divulgada recentemente pelo Instituto de Pesquisa Espacial, em agosto último a Amazônia destruiu 265 km² de florestas. Uma área ainda absurda, mas que se comemorou por significar redução de 47% em comparação com agosto de 2009.

Pavimentação de rodovias é uma terceira polêmica que a maioria se recusa a discutir, apesar de ser tema essencial ao futuro da região. Rodovias estratégicas estão sendo concluídas permitindo a ligação rodoviária com o Peru, Bolívia, Caiena, Venezuela e Colômbia. Ou seja, a Amazônia em breve se conectará ao pacífico.

Esse deve ter sido um dos piores agosto-setembro cinzas da Amazônia. Prejuízos ambientais são, a cada ano, somados ao balanço negativo da região.

Compromissos não poderiam ser genéricos como os políticos gostam. Precisariam reverter um quadro que todos, por sinal, conhecem bem.

Download .DOC

xxxx