No Sudeste, foi desencadeado um processo – sem volta, por sinal – de substituição das sacolas de plástico nos supermercados. Na verdade, substituição não seria o melhor termo, tendo em vista que não se pôs nada no lugar das execradas sacolas de plástico.

Acontece que os ambientalistas – ou o que se convencionou chamar de Movimento Ambientalista – deflagraram, ainda nos idos da década de 1990, uma ofensiva vigorosa contra o emprego das sacolas plásticas nos supermercados. Os argumentos são mais que fortes, e as estatísticas corroboram o impacto dessas sacolas na composição do lixo não degradável (aquele que permanece por séculos nos lixões) produzido pela sociedade moderna.

Muitos advogam que transformar a singela sacolinha de plástico em vilã da história não passa de hipocrisia, quando no supermercado existem inúmeros produtos que são embalados em plástico ainda na indústria, muitos deles com nada menos que isopor, outro tipo de lixo que não desaparece nunca do ecossistema. Argumento equivocado, contudo, uma vez que retirar as sacolas de circulação é um primeiro passo, e o isopor também terá que ser discutido em algum momento.

Mediante iniciativa do Ministério Público, em São Paulo e no Espírito Santo, apenas para citar dois exemplos, os supermercados foram levados a assinar termos de ajustamento de conduta, com prazos de até 60 dias para abolir de vez o uso da sacola de plástico.

Até aí tudo bem. Se não fosse a atuação do Ministério Público, a medida não iria à prática tão cedo. Mas o problema reside na opção proposta para o consumidor. Muito embora a maioria dos compradores que usam o supermercado concorde com o fim da sacola, não tem cabimento que sejam forçados a pagar por uma embalagem alternativa, ainda que por uma bolsa que possa ser usada de forma permanente.

Há que se atentar, ademais, para o fato de que a bolsa permanente, para que venha a ser usada todas as vezes que o consumidor for ao supermercado, seguramente dará muito trabalho para ser mantida limpa. Para melhorar o efeito insalubre, deverá ser confeccionadas com o mesmo material das sacolas que se pretende abolir: plástico.

Ainda quando confeccionada em lona, essa bolsa não poderá prescindir de um produto químico – forte, diga-se – impermeabilizante, para evitar que os micróbios (como se costumam chamar fungos, bactérias e outros micro-organismos) se incrustem no tecido e saiam contaminando todo produto que entre em contato com a sacola.

Fazer com que o supermercado forneça sacolas de papelão, como por sinal acontece na maioria dos países desenvolvidos, e que compõem a lista das 10 maiores economias do mundo (o Brasil agora é a sexta), não foi cogitado pelo Ministério Público, pelos ambientalistas, e tampouco, claro, pelos próprios estabelecimentos. Mas certamente é o mais sensato a ser feito.

Existe, no confuso ideário nacional da sustentabilidade, um preconceito que parece insuperável com os produtos feitos de papel. Ambientalistas costumam transformar em exemplos de boas práticas a reciclagem de papel, como se o papel fosse tão nocivo como o alumínio ou os produtos oriundos do petróleo, como o plástico.

Papel, papelão e seus congêneres são produzidos a partir de florestas plantadas, compostas de duas espécies principais: eucalipto e pinus, e que possuem a característica fundamental de poder se renovar. Ou seja, são florestas que podem ser replantadas para produzir mais papel e papelão – que, quando descartados, transformam-se em adubo.

Um ciclo de vida – árvore/produto/adubo/árvore – praticamente fechado, como os ambientalistas adoram. Um dos motivos da inexplicável resistência está no emprego do eucalipto, uma árvore, sem razão, detestada por muitos.

A saída está nas sacolas de papelão, que, apesar de negligenciadas, deverão ser impostas pelo próprio mercado. Isso se a mão invisível do frágil capitalismo tupiniquim chegar a funcionar.

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